SÃO PAULO – Emergências acontecem. Você provavelmente não espera chegar em casa e ver que a geladeira pifou, perder o emprego da noite para o dia ou sofrer um acidente de carro e ter que arcar com os custos, ainda que a culpa não tenha sido sua.
Imprevistos não têm hora certa para aparecer. E é por isso que, tão importante quanto pensar no médio e no longo prazo e alcançar a desejada independência financeira, é preciso ter um olhar permanente sobre o presente para estar sempre prevenido para o pior, para os riscos a serem enfrentados ao longo do caminho. Esse âseguroâ responde pelo nome de reserva de emergência.
âReserva de emergência é aquele valor que deve ficar à sua disposição. à um fundo ou um ativo que deve ter alta liquidez, ou seja, que você consiga transformar rapidamente em dinheiroâ, resume Jorge Luis Prado, assessor de investimentos no escritório Sal Investimentos.
A proposta de garantir que uma parcela do portfólio esteja constantemente em aplicações mais lÃquidas, isto é, com possibilidade de resgate no curtÃssimo prazo (preferencialmente no próprio dia ou no seguinte ao pedido), gera segurança para o investidor e previne erros. Em caso de emergência, não é preciso comprometer produtos mais voltados para o longo prazo que, muitas vezes, podem penalizar o investidor se o resgate acontecer antes do tempo, seja por conta de uma tributação elevada ou até de prejuÃzo.
Ter sempre uma poupança (ainda que não seja uma caderneta) também pode evitar um endividamento desnecessário, no qual se recorre à s elevadas taxas de juros de bancos para saldar dÃvidas emergenciais. âà um dinheiro caro e que a pessoa não poderá deixar rendendoâ, afirma Lucas Paulino, especialista em investimentos na plataforma Mais Retorno.
Qual deve ser o tamanho da reserva de emergência?
Segundo especialistas consultados pelo InfoMoney, não existe uma quantia exata a ser reservada para imprevistos, já que o valor pode variar conforme a renda e o custo de vida da pessoa, dentre outros fatores. Há, porém, uma estimativa que pode ajudar você a se programar financeiramente.
Para alcançar uma cifra próxima do ideal para sua reserva, basta multiplicar as suas despesas médias mensais por seis. Esse valor deve incluir gastos com cartões de crédito, supermercado, luz, celular, mensalidades com serviços de streaming e academia, por exemplo. Os mais conservadores podem aumentar o piso de reserva para 12 meses ou quantos mais julgarem necessários. O importante é se sentir minimamente seguro para bancar imprevistos.
A economia, todavia, não será consolidada de uma hora para a outra. Por isso, a orientação que agentes autônomos dão aos seus clientes é guardar entre 5% e 10% da renda todo mês. âO investidor não deve se frustrar por ser um pequeno valor; no Tesouro Direto, por exemplo, ele consegue investir R$ 30â, afirma Prado, da Sal Investimentos. E completa: âO efeito dos juros compostos vem com o tempoâ.
Onde NÃO investir?
Poupar dinheiro e investir em bons produtos ainda hoje é um dos grandes desafios da educação financeira no paÃs. âO brasileiro poupa pouco. Ele poupa o que sobra, e quando sobra. E, quando consegue economizar, deixa o dinheiro em produtos com baixa rentabilidadeâ, aponta Prado.
O contexto atual da economia também não está ajudando. De acordo com dados da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), apenas dois em cada 10 brasileiros conseguiram poupar em abril.
Dentre os que conseguiram investir no perÃodo, 65% optaram pela caderneta de poupança, que rendeu apenas 1,87% neste ano até maio. Pior ainda, 25% dos poupadores deixaram o saldo reservado em casa, sem rendimentos, e 20% ficaram com o dinheiro parado em conta corrente.
Apesar de ter o dinheiro a mão em caso de emergências, o investidor que recorre à poupança, ao colchão ou à conta corrente está tendo prejuÃzo sem nem perceber, por conta da inflação. Neste ano até maio, o Ãndice Nacional de Preços do Consumidor Amplo (IPCA) acumula alta de 2,22%, superior, portanto, que o retorno da caderneta.
Onde investir sua reserva de emergência?
De olho em investimentos que combinem acessibilidade, liquidez, segurança e rentabilidade adequada para a finalidade, é possÃvel recorrer a três tipos de produtos de renda fixa: Tesouro Selic, CDBs e fundos DI. Confira a seguir as principais diferenças entre eles.
Tesouro Selic
O Tesouro Selic é o tÃtulo público mais conservador do Tesouro Direto, com retorno pós-fixado indexado à taxa Selic, atualmente em 6,5% ao ano. A rentabilidade anda lado a lado com o CDI, o referencial das aplicações mais conservadoras. âO papel tem a garantia do Tesouro Nacional e o dinheiro fica disponÃvel em D+1â, destaca Paulino, da Mais Retorno, em referência ao prazo de liquidação do investimento.
Uma das grandes vantagens, diz, está nas condições de preço e rentabilidade, que são as mesmas em qualquer instituição financeira. E o valor do investimento é bastante acessÃvel. Nesta terça-feira (25), por exemplo, o valor mÃnimo para aplicar no Tesouro Selic era de R$ 101,67, em meio à possibilidade de se comprar uma fração do valor cheio do tÃtulo, de R$ 10.167.
O único custo obrigatório que recai sobre o Tesouro Direto é a taxa de custódia, paga à B3 e cobrada semestralmente, com valor anual de 0,25% ao ano. A taxa de administração é opcional e já foi eliminada há tempos pelas principais corretoras de valores e até por grandes bancos. Mesmo assim, das 57 instituições financeiras habilitadas pelo programa, metade cobra a tarifa. Por isso, vale prestar atenção à plataforma selecionada.
Em termos tributários, há cobrança de Imposto de Renda com alÃquotas que seguem uma tabela regressiva, que varia de 22,5% para resgates feitos em até 180 dias depois da aplicação, à taxa mÃnima de 15%, para liquidações realizadas a partir de 720 dias.
CDBs
Outra boa opção para a reserva de emergência está nos Certificados de Depósitos Bancários, desde que sejam respeitadas pelo menos duas condições. A primeira delas está na liquidez. A maior parte dos CDBs não oferece a possibilidade de resgate antecipado (antes do vencimento final), portanto, atenção a esse ponto. O produto só vai funcionar como colchão de liquidez se ele permitir a você resgatar o dinheiro na hora desejada.
A segunda condição diz respeito ao retorno. Como você já sabe que o Tesouro Selic entrega rentabilidade próxima de 100% da Selic (o que significa perto de 100% do CDI), o CDB só será uma boa alternativa para sua reserva se, além da liquidez diária, ele oferecer retorno igual ou superior a 100% do CDI.
O valor da aplicação varia conforme o banco emissor e a plataforma de investimento, mas costuma ser maior que o exigido no Tesouro Direto. Não há taxa de custódia sobre os CDBs, mas, da mesma forma como nos tÃtulos públicos, há a incidência de Imposto de Renda sobre o lucro, conforme a tabela regressiva de renda fixa.
Ainda que os tÃtulos públicos sejam o produto mais seguro da economia brasileira, vale lembrar que os CDBs têm a seu favor a cobertura do Fundo Garantidor de Créditos (FGC), no valor de até R$ 250 mil por CPF e instituição, em caso de quebra do banco emissor.
Fundos DI
Terceira e última opção para a reserva de emergência, os chamados fundos DI precisam destinar 95% do patrimônio a ativos que busquem acompanhar as variações do CDI ou da taxa Selic. Na prática, quando você investe em um fundo DI, você está alocando o capital essencialmente em Tesouro Selic.
Por isso, só fará sentido utilizar a alternativa em vez de aplicar diretamente no tÃtulo público se a taxa de administração do fundo for menor que 0,25% ao ano. à fundamental lembrar ainda que o produto está sujeito à cobrança de come-cotas, que corresponde a uma antecipação obrigatória do Imposto de Renda sobre a aplicação. A tributação é a mesma do Tesouro Selic e dos CDBs.
As três opções são interessantes para a formação de uma reserva de emergência. Ainda que existam variações de retorno, elas são, de maneira geral, pouco expressivas. O fundamental é não se esquecer da proteção a qualquer momento.
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