Renda fixa: rendimento de 5% mais IPCA é o “novo normal” das debêntures; ainda há oportunidade?

Especialistas falam sobre o fechamento das taxas e o que esperar após a tramitação das pautas econômicas no Congresso

Leonardo Guimarães

(Shutterstock)
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O primeiro semestre de 2023 trouxe muitas oportunidades de investimento na renda fixa. Os títulos públicos tinham juro real (descontando a inflação) acima de 6% ao ano, enquanto bons emissores entregavam retorno real acima de 7% na renda fixa privada.

Esses números, no entanto, ficaram nesse passo recente – segundo especialistas, é hora de começar a se acostumar com juros reais na casa dos 5% em papéis de renda fixa como as debêntures.

Mesmo com a redução das taxas já verificada no primeiro semestre, quem quer comprar títulos privados para carregar até o vencimento ou tentar lucrar com a marcação a mercado na venda antecipada do investimento ainda pode se dar bem no cenário atual de remuneração.

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“Mesmo que os prêmios não reduzam mais tanto até o fim deste ano, algumas debêntures terão boa performance se compradas com taxas reais de aproximadamente 5,5% ao ano”, diz Vinicius Romano, head de renda fixa na Suno Research, apostando na venda antecipada. Quando a expectativa é de queda nos juros, os preços dos títulos de renda fixa antigos – com taxas maiores – tendem a valorizar. E o investidor que se desfaz deles antes do vencimento pode embolsar esses ganhos.

Na SWM, por outro lado, a recomendação é carregar os ativos até o vencimento – situação em que o investidor receberá exatamente a remuneração combinada no momento da compra dos papéis. “Vemos mais oportunidade no carrego do que no potencial fechamento da curva observando o cenário macroeconômico”, diz Odilon Costa, head de renda fixa da SWM.

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Por que caiu para IPCA mais 5%?

Costa explica que três fatores compõem a remuneração dos títulos privados: as taxas dos títulos públicos, o prêmio de crédito do emissor e as condições de oferta e demanda do mercado. Entender cada componente agora ajuda a explicar por que as taxas seguem atrativas, mesmo que menores na comparação com o início do ano.

O primeiro fator para a precificação das debêntures é a taxa do título público usado como referência. Os juros dos papéis oferecidos via Tesouro Direto vêm recuando nos últimos meses. “O avanço do arcabouço fiscal e da reforma tributária somado à melhora da comunicação do governo com o mercado resultaram na forte compressão das taxas dos títulos públicos”, explica o especialista da SWM.

Com os juros dos títulos públicos diminuindo, o prêmio da renda fixa privada – ou a remuneração adicional que esses papéis oferecem, por embutirem um nível de risco maior – também tende a cair. Porém, aqui vem o que ainda justifica a atratividade da renda fixa privada: “Historicamente, são poucos os momentos em que encontramos um título público longo pagando acima de IPCA mais 5% ao ano, especialmente em um contexto de trajetória favorável para a economia no curto prazo”, diz Costa.

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Na parte de prêmio de crédito, o efeito do susto com os casos Americanas e Light vem se dissipando, o que permite às empresas emitir títulos com remuneração cada vez menor. Para Odilon Costa, “ficou claro que os casos das duas empresas foram pontuais, sem relação com a macroeconomia”, por isso, o mercado vem retirando, cada vez mais, o prêmio de crédito na formação da remuneração.

O head de renda fixa da SWM diz que o fator fluxo teve peso igual ou até maior que a percepção de risco de crédito. Isso porque os fundos tiveram muito resgate, o que pressionou – e muito – as taxas. “Hoje, já temos captações positivas na indústria, o que deu início ao processo de compressão dos prêmios”, diz Costa.

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Relação entre risco e retorno melhorou?

Se no primeiro trimestre a dinâmica do mercado de renda fixa privada tinha taxas altas, porém percepção de risco também elevada, hoje os prêmios são menores, mas com risco mais baixo. Alguns investidores podem, inclusive, preferir o cenário atual, dependendo do nível de risco que aceitam tomar.

Para Romano, da Suno, o mercado tem “níveis de liquidez melhores, maior volume de emissões e menor incerteza no ambiente macro”, o que torna a relação entre risco e retorno favorável para as debêntures.

Já Odilon Costa diz que “a relação risco-retomo melhorou”. Para ele, “os prêmios de crédito dos títulos incentivados continuam elevados quando comparados aos níveis observados no início desse ano”.

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Daqui para frente, porém, o cenário pode mudar rapidamente. O mercado olha para as pautas econômicas no Congresso com grande expectativa. O arcabouço fiscal – que tramita na Câmara dos Deputados – e a reforma tributária – no Senado – devem ser os principais temas das próximas semanas.

Vitor Wolfgram analista da Levante Investimentos, diz que as taxas reais da renda fixa privada podem cair abaixo de 5% ao ano em 2023 “caso vejamos novos aumentos de receita, o arcabouço fiscal passe sem novas exceções e a reforma tributária também avance”.

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