Conteúdo editorial apoiado por

Planos de saúde têm dívidas de R$ 2,3 bi com hospitais privados do país, diz associação do setor

Dívida resulta, segundo representante dos planos de saúde, de prejuízo financeiro registrado em 2022, que atingiu R$ 10,7 bilhões

Gilmara Santos

Hospitais e planos de saúde tem enfrentado desafios do pós pandemia. Foto: Pixabay
Hospitais e planos de saúde tem enfrentado desafios do pós pandemia. Foto: Pixabay

Publicidade

A crise enfrentada pelos planos de saúde ganhou mais um capítulo, com o atraso de repasses das operadoras para os hospitais. Última pesquisa da Anahp (Associação Nacional de Hospitais Privados), entre 28 de agosto e 2 de setembro com 48 hospitais associados, revelou que os atrasos de pagamentos por parte das operadoras de planos de saúde já somam cerca de R$ 2,3 bilhões.

O montante representa cerca de 16% da receita bruta do grupo de hospitais, que foi de R$ 14,6 bilhões, e contempla atendimentos realizados entre janeiro e julho deste ano na emergência, realização exames ou pedido por internação.

Ainda conforme o levantamento, o índice de cobranças realizadas pelos hospitais que foram glosadas pelas operadoras, sem razões técnicas para a utilização da medida, também aumentou. O valor de glosas em aberto foi de R$ 1,29 bilhão, que responde a 9% da receita bruta dos respondentes contra um padrão histórico de 3,5%.

Continua depois da publicidade

Antônio Britto, diretor-executivo da Anahp, comenta que houve aumento na demora do prazo de recebimento das faturas dos hospitais, que vinha em uma média de 70 dias e passou para 120.

“O trâmite todo vem ficando cada dia mais burocrático e com mais entraves que dificultam, inclusive, a cobrança pelo pagamento dos serviços prestados. O paciente chega ao hospital, é atendido, recebe todos os cuidados necessários e aí os prestadores não conseguem rever esse valor investido no atendimento”, diz o executivo.

Ainda de acordo com Britto, é importante observar que esta situação não atinge apenas membros da Anahp, mas trata-se de um problema enfrentado por todos os quase 4 mil hospitais privados e filantrópicos brasileiros, bem como os milhares de prestadores de serviços, como clínicas e laboratórios de diagnósticos.

Continua depois da publicidade

“Reconhecemos as dificuldades das operadoras, mas é indispensável que todos entendam: nós estamos enfrentando uma crise estrutural e a solução do problema só virá a partir do momento que o setor trabalhar de forma conjunta, no entendimento de que uma saúde suplementar saudável só é possível com a sustentabilidade de todos os players“, explica o diretor-executivo da Anahp.

Resultados

No primeiro semestre deste ano, os planos de saúde registraram lucro líquido de R$ 2 bilhões, segundo dados da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar). De acordo com a agência, o resultado equivale a aproximadamente 1,3% da receita total acumulada no período, que foi de quase R$ 154 bilhões. Para cada R$ 100 de receita no 1º semestre de 2023, o setor auferiu cerca de R$ 1,3 de lucro.

No primeiro semestre, a sinistralidade fechou em 87,9% (cerca de 0,9% p.p. abaixo da apurada no mesmo período do ano anterior). De acordo com a ANS, o resultado foi fortemente impulsionado por algumas das maiores operadoras do país e ilustra que praticamente 88% das receitas advindas das mensalidades são “consumidas” com as despesas assistenciais.

Continua depois da publicidade

“Estamos vendo que a rentabilidade das operadoras está vindo, de maneira geral, do rendimento das operações financeiras. Essa situação não é desejável, afinal, a operação de plano deve ser sustentável por si só. As operadoras, então, precisam rever sua gestão e analisar onde podem melhorar. É muito importante ter um estudo de atuária mais prospectivo, com análise de cenários e dos impactos possíveis”, analisa Jorge Aquino, diretor de Normas e Habilitação das Operadoras.

Outro lado

A Abramge (Associação Brasileira de Planos de Saúde), por meio da sua assessoria de imprensa, reforçou a importância dos planos de saúde no país e o empenho das operadoras para atender as necessidades dos beneficiários diante dos prejuízos operacionais.

De acordo com a nota, as operadoras registraram em 2022 prejuízo operacional de R$ 10,7 bilhões. Trata-se do pior resultado desde o início da série histórica, em 2001.

Continua depois da publicidade

“De janeiro a junho de 2023, a conta já está negativada em R$ 4,3 bilhões, e a perspectiva é que, até o fim deste ano, o valor continur crescendo. Isso ocorre, em muita parte, pelos impactos significativos decorrentes de diversas fraudes, incluindo empréstimos e falsificação de carteirinhas, uso indevido para procedimentos estéticos, reembolsos de consultas duplicados e fraudulentos, além de materiais superfaturados”, diz a entidade.

Por este motivo, foi estabelecida uma análise mais ampla dos serviços já prestados por parte das operadoras de saúde. Porém, todos os atendimentos que aconteceram, estão provisionados.

Gilmara Santos

Jornalista especializada em economia e negócios. Foi editora de legislação da Gazeta Mercantil e de Economia do Diário do Grande ABC.