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Argentina segue barata para turista brasileiro com Milei, mas preços devem aumentar

Vantagem de moedas mais fortes, como o real, cresceu sobre peso argentino após eleições

Maria Luiza Dourado

Vista de Buenos Aires (Getty Images)
Vista de Buenos Aires (Getty Images)

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Destinos argentinos, como a capital Buenos Aires, caíram no gosto do brasileiro. Devido a crise econômica e a desvalorizada moeda do país, turistas que ganham em real podiam viver “dias de rico” na Argentina, já que a moeda tem grande poder de compra no país. A vantagem para o turista brasileiro deve permanecer, pelo menos no médio VALE3 prazo, segundo a análise de especialistas com quem o InfoMoney conversou.

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Após a posse do ultradireitista Javier Milei, que venceu a corrida presidencial argentina, desbancando Sergio Massa, então ministro da Economia da administração anterior, de Alberto Fernández, a cotação oficial da moeda do país, o peso argentino, desvalorizou ainda mais.

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Agora, pelo câmbio oficial, um dólar equivale a 840,23 pesos argentinos em operações de venda e 784,84 pesos argentinos em operações de compra, segundo informa o jornal local La Nación. Na sexta-feira anterior à posse, um dólar equivalia a pouco mais de 360 pesos argentinos.

A decisão de desvalorizar propositalmente a moeda argentino é parte do novo pacote emergencial para enfrentar a crise econômica no país e foi anunciada por Luis Caputo, o novo ministro da Economia da Argentina.

“O que o atual governo argentino fez foi encarar a realidade, deixando a cotação de câmbio oficial compatível com a paralela, chamada de dólar blue, que estava sendo amplamente utilizada no país. Ele unificou as duas coisas”, explica Paloma Blum, analista da Toro Investimentos.

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Depois de uma escalada inicial que o levou para 1.150 pesos em outubro, o dólar blue, amplamente utilizado domesticamente na Argentina, perdeu força e ficou abaixo dos 1.000 pesos nessa semana e não apresentou grandes variações após a desvalorização do câmbio oficial.

O novo cenário não traz nenhuma notícia ruim para quem ganha em real – ao contrário. Na cotação oficial de hoje, um real equivale a 162,46 pesos argentinos, mais que o dobro do que na sexta-feira que antecedeu o pleito eleitoral, em 17 de novembro, quando um real equivalia a 72,46 pesos argentinos.

“A unificação tornou o peso argentino mais desvalorizado em relação às moedas que são mais fortes. Oficialmente ele perdeu mais valor ainda em relação ao dólar e ao real. Ou, seja, o cenário de vantagem para os turistas brasileiros que vão a Argentina buscando se beneficiar da moeda brasileira mais forte que a argentina seguem as mesmas”, explica Blum.

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Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad, faz coro com a analista. “O dólar blue deve sofrer algum impacto da desvalorização oficial, mas serão as perspectivas para a recuperação da economia daqui para a frente que serão determinantes para a evolução do câmbio paralelo e, em última análise, para a dinâmica de preços. Assim, acredito que as condições positivas para o turismo brasileiro devem permanecer no curto prazo”, explica.

Dólar MEP e compras com cartão de crédito

Agora turistas brasileiros não saíram mais em desvantagem ao utilizarem um outro tipo de câmbio oficial na Argentina, o dólar MEP (mercado eletrônico de pagamentos), criado pelo governo do país com uma cotação mais baixa que a oficial, ou seja, com US$ 1 dólar (MEP), é possível obter mais pesos argentinos.

O consumidor pessoa física tem acesso à cotação do dólar MEP por meio de cartões de débito, crédito e pré-pagos internacionais de bandeiras que oferecem o recurso, como Visa, Master e Elo.

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Antes o dólar MEP era muito defasado em relação ao dólar blue, que pagava mais que o dobro de pesos por dólar do que o MEP.

Com a desvalorização do câmbio oficial promovida pela administração Milei, o MEP se aproximou muito do câmbio mais vantajoso, o paralelo. Segundo o La Nación, um dólar MEP equivale a 966,42 pesos argentinos.

“Ao pagar, automaticamente o banco vai converter essa compra de pesos para dólar (utilizando a cotação do dólar MEP e não mais a cotação oficial) e depois converterá esses dólares em reais. Na fatura de seu cartão será cobrado o valor em reais após as conversões. E o cartão utilizará a cotação do dólar MEP para fazer essa transformação da compra em pesos para dólar no cartão internacional”, explica o especialista da Elev.

Nesse caso, ele pontua que há um spread (custo cobrado pela instituição para fazer a operação de câmbio) duplo: na conversão de peso para dólar (via dólar MEP) e de dólar para real. Isso pode tornar essa opção com crédito menos vantajosa para o turista — apesar de ser prática.

Preços sobem na Argentina

Já considerando o aumento de preços, a viagem do brasileiro pode ficar mais cara devido ao encarecimento dos itens na Argentina. O país já acumula uma inflação anual de 169% e a situação deve se agravar com as meninas impostas pelo novo governo – o que foi admitido pelo próprio Javier Milei em discurso recente.

Supermercados e outros comércios do país tiveram que abandonar os preços tabelados de alimentos e outros itens no âmbito do Programa Preços Justos. Segundo o jornal argentino Clarín, o reajuste em alguns itens chega a 25%. Esse encarecimento vai atingir o bolso de residentes e turistas.

“A desvalorização expressiva no câmbio oficial certamente irá contribuir para aumentar ainda mais a inflação no país, por ser relevante em diversos setores, particularmente os mais expostos ao comércio internacional [como o agronegócio]”, explicou Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad.

Segundo os especialistas, é difícil prever quais itens vão ficar mais caros e para onde o peso argentino caminha. Mas ainda assim, eles acreditam que um revés significativo na vantagem brasileira só poderá ocorrer no longo prazo, com a implementação de medidas do atual governo de Javier Milei, que podem melhorar a economia da Argentina.

Entre essas medidas, um relatório da Genial Investimentos destaca o aumento de taxas de juros e eliminação de impostos e os controles quantitativos sobre as exportações.

“Mas isso só aconteceria se o governo de Milei conseguisse implementar algumas medidas. E o feito delas seria gradual”, pontua Blum.

Riscos do dólar blue

Apesar de ilegal, já que não é fiscalizado pelo Banco Central argentino, o dólar blue é amplamente utilizado no país. Em termos numéricos, ele é mais vantajoso por quem quer trocar dólar por peso argentino, já que um dólar blue com pra mais pesos argentinos do que um dólar no câmbio oficial.

Ainda assim, a moeda paralela tem contras relevantes a serem considerados pelo turista pretende utilizar o dólar blue, como o risco de lidar com notas falsas e ter problemas na hora de usar o dinheiro em compras e no pagamento de serviços.

Além disso, o turista pode se envolver, indiretamente, com o crime de lavagem de dinheiro, sonegação e outras ilegalidades, considerando que é uma operação ilegal. Quem é flagrado nessa situação pode inclusive sofrer as sanções previstas em lei.

Maria Luiza Dourado

Repórter de Finanças do InfoMoney. É formada pela Cásper Líbero e possui especialização em Economia pela Fipe - Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas.