JPMorgan rebaixa Magalu (MGLU3) e Via (VIIA3) ao ver recuperação ainda distante; ações fecham em forte queda

Magalu foi cortada para neutra e Via para venda, com consumo ainda pressionado por endividamento e poucos sinais de ganhos fortes de market share

Lara Rizério

(Shutterstock)
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Em meio à recente recuperação das ações de varejistas com a expectativa de juros e sinais de uma economia mais forte, os analistas do JPMorgan revisaram as recomendações para o setor. Cautelosos, os especialistas rebaixaram a recomendação para as ações de Magazine Luiza (MGLU3) e de Via (VIIA3). A recomendação para MGLU3 foi cortada de overweight (exposição acima da média, equivalente à compra) para neutra, enquanto para VIIA3 foi cortada de neutra para underweight (exposição abaixo da média, equivalente à venda), sem preço-alvo para os papéis de ambas as companhias.

Após chegarem a subir no início da sessão, mesmo com o rebaixamento, as ações foram perdendo forças, com MGLU3 fechando em queda de 4,68% (R$ 3,87) e VIIA3 em baixa de 10,36% (R$ 2,25). Contudo, vale destacar que, em maio, os ativos de Magalu subiram quase 14% e os de Via avançaram cerca de 29%.

Os analistas apontam terem revisitado seus cenários para os players de e-commerce e varejo apontando que, em poucas palavras, veem uma perspectiva desafiadora para o segmento de itens duráveis de alto valor à luz da pressão de renda disponível dos consumidores, particularmente para a classe média baixa, que historicamente tem sido a base de clientes da Via e do Magazine Luiza.

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E, embora Joseph Giordano e equipe, analistas que assinam o relatório, esperem margens melhores devido ao ambiente de concorrência mais racional e maiores esforços de ambas as empresas para melhorar a rentabilidade, veem também que (1) o crescimento do GMV, ou volume bruto de mercadoria,  deve ser morno este ano, com MGLU tendo cerca de 15% de crescimento e Via em cerca de 5% numa base consolidada, com Mercado Livre (MELI34) e Amazon (AMZO34) sendo aparentemente os maiores beneficiários com a crise na Americanas (AMER3) e (2) apesar da melhoria esperada na lucratividade ano a ano, a alavancagem deve permanecer elevada.

Assim, conforme ajustam sua curva de crescimento, os analistas cortaram as suas projeções para vendas esperadas em 2024 em cerca de 10% para MGLU3 e em 15% para VIIA3 o que, em conjunto com a maior alavancagem, devem levar a um prejuízo para ambos os players em 2023, com o fluxo de caixa livre pressionado, apesar da expectativa de corte da taxa Selic.

Desta forma, os analistas rebaixaram a recomendação para Via e Magalu e retiraram o preço-alvo de R$ 3,50 para MGLU3. Os analistas ainda ponderam que, embora não recomendem a exposição ao segmento no curto prazo dado o momentum difícil, possuem preferência relativa em MGLU3 como um veículo potencial para operar taxas de juros mais baixas à frente.

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Fatores de pressão

O macro ainda difícil e consumidor alavancado continuam sendo obstáculos ao crescimento. “Embora indicadores macro como PIB e inflação tenham evoluído positivamente ao longo dos últimos meses, seguimos vendo uma perspectiva desafiadora para MGLU e VIIA nos principais itens 1P (estoque próprio) de alto ticket, levando em conta a um consumidor altamente alavancado”, apontam.

Os dados recentes mostram que a carga do serviço da dívida (como porcentagem dos rendimentos) aumentou para 27% no ano de 2022 (versus 22% pré-pandemia) impulsionado principalmente pela dívida do cartão de crédito. E a carga financeira chega a cerca de 35% em pessoas físicas de baixa renda, que são clientes históricos das empresas. “Assim, à luz de um contexto de renda disponível ainda desafiador, vemos espaço limitado para aceleração significativa do GMV” apontam.

Além disso, as questões de Americanas não foram um vento favorável relevante como inicialmente esperado. Análise
das tendências diárias de usuários ativos e tráfego do site mostra um declínio maciço de Americanas, enquanto Amazon e Mercado Livre aparecem como os principais ganhadores. “Além disso, o crescimento do GMV no 1T23 para Magalu e Via não refletiu ventos favoráveis em magnitude comparável à participação de mercado da Americanas”, avaliam.

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O Mercado Livre adicionou mais GMV, semelhante aos últimos trimestres, apesar da aparentemente menor aderência de seu portfólio à Americanas. “Isso nos leva a acreditar que a participação de mercado da Americanas foi um tanto artificialmente gerada por atividade promocional para impulsionar a demanda. No geral, esperamos tendências semelhantes no 2T23”, apontam.

Incorporar ganhos de margem, pois o foco está na lucratividade, num mercado mais racional, maior monetização de 3P  (marketplace) e esforços de precificação mais fortes para repassar o DIFAL (diferença entre a alíquota interna e a interestadual do ICMS para vendas on-line interestaduais), juntamente com eficiências operacionais, deve ser a tendência deste ano, já que as empresas estão se concentrando nas margens em relação ao crescimento.

Assim, a curva de recuperação da margem Ebitda (Ebitda, ou lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações, sobre receita líquida, é um ponto-chave da discussão para ambos os players. Assim, em suas estimativas, veem uma recuperação de 0,8 ponto percentual (p.p) da margem do Magalu em 2023, indo de 5,7% em 2022 para 6,5% este ano e margem ajustada da Via a 9%, incluindo provisões trabalhistas.

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Por outro lado, veem estabilidade nas vendas para ambos os players diante do macro difícil e balanços pressionados, com
expansão provavelmente sendo retomada apenas no segundo semestre de 2024.

Os juros mais baixos devem ajudar as empresas mas, com a alavancagem ainda alta, os analistas do banco ainda veem prejuízos no curto prazo. A projeção do JPMorgan é de que 2023 acabe com a Selic a 12,75% e que 2024 se encerre com a taxa em 11%, ante 13,75% atualmente.

Esse corte deve melhorar as despesas financeiras mas, ainda assim, apesar das melhorias esperadas também para o Ebitda, veem ambas as varejistas enfrentando alta alavancagem em uma base ajustada (incluindo desconto de recebíveis e financiamento de fornecedores). Especificamente, Magalu deve fechar 2023 com uma relação dívida líquida ajustada/Ebitda de cerca de 6 vezes e Via em 11 vezes, o que provavelmente deve limitar o capex (investimento) até a virada de ciclo.

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“No geral, a alavancagem ainda alta deve continuar a pressionar os resultados, apesar do alívio esperado da Selic mais baixa, e vemos Magalu e Via imprimindo perdas líquidas em 2023, passando a ter lucro apenas em 2024 e 2025, respectivamente”, concluem.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.