Avanço do PCE fortalece tese de ciclo de juros altos por mais tempo nos EUA, dizem analistas

Taxa de desemprego baixa e salários ainda crescentes mantém pressão sobre os preços de serviços e devem justificar novas altas

Roberto de Lira

Bandeira dos EUA (Crédito: Shutterstock)
Bandeira dos EUA (Crédito: Shutterstock)

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A divulgação do índice de preços PCE dos Estados Unidos na manhã desta sexta-feira (30) – que mostrou um avanço da inflação em agosto acima do esperado – mostra que mercado de trabalho ainda aquecido na maior economia do mundo continua a desafiar o combate à alta dos preços por parte da autoridade monetária (Fed, o Banco Central americano).

Como o presidente Jerome Powell e outros diretores do Federal Reserve continuam a discursar prometendo fazer o possível para tanto as expectativas como os índice de inflação para uma rota de convergência à meta de 2% anuais, a previsão dos analistas é que aumentaram as chances de um aumento da taxa de juros em 75 pontos-base na próxima reunião, em novembro

“Apesar das quedas nos preços de energia, os preços da economia norte-americana continuam resilientes e ainda aumentando num ritmo elevado. A taxa de desemprego em 3,7% e os salários crescentes, revelam que a demanda seguirá como um fator de pressão sobre os preços”, comenta Gustavo Sung, economista chefe da Suno.

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Para Carlos Vaz, CEO da Conti Capital, o dado de hoje mostra que o Federal Reserve dos EUA não deve recuar de sua postura mais dura no curto prazo. “Sigo acreditando que veremos novos aumentos nas taxas de juros durante o resto do ano, até o início de 2023. É provável que a inflação permaneça acima do normal e dure mais do que o previsto inicialmente, embora notemos algum enfraquecimento do crescimento econômico”, diz.

Busca de equilíbrio

Vaz reconhece que o momento é delicado, de busca de um equilíbrio entre a desaceleração econômica, porém sem recessão. Mesmo com fatores de pressão, ele prefere evitar o pessimismo. “Não vejo que eles declaram um cenário de grave recessão ou tão aterrorizante como alguns enxergam atualmente, especialmente se analisarmos o contexto histórico de fatos e os indicadores que nos levaram à crise econômica de 2008”, pondera Vaz.

O BTG Pactual destaca que a composição do PCE mostrou queda nos preços de bens, com destaque para recuo de -0,8% em não duráveis, mas aceleração expressiva no setor de serviços, (alta de 0,6% após registrar estabilidade em julho) e que esse será o maior ponto de preocupação do Fed.

Os analistas do banco estimam que no cenário para setembro, ainda devem ocorrer impactos de baixa decorrentes de energia, mas que a maior renda das famílias com a dissipação dos preços de gasolina pode impor novas pressões de alta nos serviços, diante do redirecionamento destes gastos. “O setor de bens ainda é o mais afetado nesse processo de desaceleração da economia direcionado pelo Fed”, comenta o BTG.

Os dados de hoje, somados ao CPI divulgado no dia 13 de setembro, reforçaram a expectativa de que que será necessário manter a taxa em patamar restritivo por mais tempo para arrefecer a inflação. “Com isso, esperamos a taxa (dos Fed Funds) encerre o ano no intervalo de 4,25% a 4,5% e atinja de 4,5% a 4,75% em fevereiro de 2023.”