Principal parceiro comercial do Brasil na América Latina, a Argentina vê sua moeda derreter sob uma inflação que já passa de 60% no acumulado dos últimos 12 meses â o Ãndice inflacionário só perde na região para Venezuela.
Nesta semana, o impacto da inflação, que corrói o poder de compra da população, ganhou um exemplo palpável. Um iPhone 13 Pro Max 256 GB Grafite, lançado pela Apple há menos de um ano, atingiu o preço de 1 milhão de pesos (moeda oficial do paÃs).
A crifra exata é: 1.007.149 pesos. O aparelho disponÃvel era comercializado na única loja de eletrônicos do paÃs que ainda tem o produto em estoque.
Segundo o jornal La Nación, a rede de eletrodomésticos que dispõe do aparelho em estoque parcela o produto em até 12 vezes sem juros de 83.929,08 pesos. Este valor equivale a quase dois salários-mÃnimos no paÃs, que é de 45.540 pesos.
Outras opções de compra do item eram possÃveis em plataformas online, mas, mesmo assim, os preços continuavam âsalgadosâ. No Mercado Livre, o mesmo iPhone era vendido a 724.999 pesos e com um detalhe: a plataforma também tinha apenas um único item. Na Amazon, a entrega do aparelho na Argentina alcançava US$ 989.
Por comparação: no Brasil, o iPhone 13 Pro Max é vendido a partir de R$ 10.142.
O patamar de preço do iPhone alcançado pelo iPhone em terras portenhas é simbólico. Na mesma Argentina, só que há 20 anos, ter 1 milhão de pesos, em plena conversibilidade, equivalia o mesmo que 1 milhão de dólares.
Quanto custa?
A inflação vem causando uma desordem entre os comerciantes argentinos que, agora, têm tido dificuldades em estabelecer o valor dos produtos nas gôndolas.
Na semana passada, lojas de comércio popular do bairro Once, em Buenos Aires, demoraram a abrir. E quando receberam os consumidores, tinham em suas vitrines cartazes que avisavam que todos os produtos estavam 20% mais caros do que o registrado nas etiquetas.
O atraso para abrir, assim como os cartazes, decorriam do fato de os empresários não saberem mais quanto cobrar dos clientes.
âNinguém sabia se o dólar ia aumentar ou se ia faltar mercadoria. Na segunda (4), muitos comércios nem funcionaram porque não tinham mais um preço de referência para as vendasâ, disse o porta-voz da Confederação Argentina da Média Empresa (Came), Salvador FemenÃa.
Crise generalizada
Os fatores externos, motivados pela guerra entre Rússia e Ucrânia, só complementam os graves problemas internos da Argentina, que se arrastam por anos.
Sem equilÃbrio fiscal nas contas â gasta-se mais do que arrecada â o nÃvel do risco-paÃs alcançou recorde no inÃcio deste mês: 2.654 pontos-base.
Para piorar, as reservas internacionais estão em um patamar muito baixo. Apesar de anunciar que elas chegam a US$ 42,3 bilhões, o governo não dispõe de todo esse volume. Estimativas do mercado apontam que apenas US$ 3,5 bilhões são reservas lÃquidas.
Isso porque os argentinos podem abrir contas bancárias em dólares no paÃs. Nesse caso, seus recursos não são emprestados e ficam depositados no Banco Central, como um compulsório. Como se isso não bastasse, o paÃs precisa de dólares para importar energia, principalmente agora no inverno, quando o consumo cresce devido ao uso de aquecedores. Mas o preço também aumentou com a guerra na Ucrânia.
Assim, para controlar a saÃda de dólares, o governo tem ampliado as restrições de acesso ao mercado cambial. Recentemente, proibiu o parcelamento de compras em free shops â recurso que já não era permitido para passagens internacionais. Também determinou que as empresas só terão divisas para importar um volume 5% superior ao de 2021.
A dificuldade de acesso ao câmbio, segundo especialistas, já resulta na escassez de insumos importados, como matéria-prima para papel e borracha para pneu. Há uma preocupação de que falte itens como café e eletrônicos.
Com informações do Estadão Conteúdo.
