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SÃO PAULO – O pregão de 6 de setembro de 2018, véspera de feriado da independência do Brasil, estava relativamente morno até o meio da tarde.
Isso mudou a partir das 16h10, quando saíram as primeiras notícias de que Jair Bolsonaro, então candidato à presidência da República pelo PSL, havia levado uma facada durante um comício em Juiz de Fora (MG).
O Ibovespa subiu quase 1.000 pontos em poucos minutos (como mostra o gráfico abaixo), o que levou o índice a fechar o dia em alta de quase 2%, aos 76.416 pontos.
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Já o dólar comercial fechou em queda de 0,95%, a R$ 4,104.
No calor do momento, a avaliação de boa parte dos investidores e analistas de mercado era de que, com o ataque, aumentaria o sentimento de polarização no país, o que poderia beneficiar Bolsonaro nas pesquisas eleitorais, em que ele já aparecia como líder, mas ainda sofria por ter grande rejeição.
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Apesar do pesselista ser ainda visto com desconfiança por parte dos investidores, o alinhamento maior com um pensamento econômico liberal, com a escolha de Paulo Guedes para liderar a equipe econômica, e a perspectiva de barrar a esquerda levaram a uma alta da Bolsa.
Vale ressaltar que, naquele mesmo dia, antes da facada, os investidores digeriam os números da pesquisa Ibope, a primeira do instituto após o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ter indeferido o pedido de registro de candidatura de Lula. Bolsonaro tinha a liderança nos levantamentos sobre o primeiro turno, mas perdia em grande parte das simulações de segundo turno e apresentava o maior percentual de eleitores que não votaria nele “de jeito nenhum”.
Assim, até aquele momento, o quadro eleitoral ainda parecia incerto. Além disso, mal havia começado a campanha eleitoral no rádio e na TV (o início fora em 31 de agosto) e Bolsonaro tinha apenas 9 segundos de propaganda.
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Ao mesmo tempo, Geraldo Alckmin (PSDB), que tinha o maior tempo (5 minutos e 32 segundos), centrava seus ataques no pesselista, de olho na fatia do eleitorado que estava com ele.
Por mais que fosse mais recorrente nas análises políticas a ideia de que o tempo de propaganda em rádio e TV importava cada vez menos com uma maior influência da internet, o peso das mídias tradicionais ainda era visto como muito grande – e a expectativa era de que Bolsonaro poderia ser prejudicado neste processo.
Com a facada, Bolsonaro ganhou o noticiário nas principais mídias do País.
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Reações exageradas
O episódio teve reflexos para além do pregão regular de 6 de setembro. À medida que mais notícias (algumas desencontradas) sobre o estado de saúde de Bolsonaro saíam, os investidores reagiam – às vezes, de forma exagerada –, jogando os ativos para cima ou para baixo.
Um exemplo disso foi que o contrato futuro do Ibovespa chegou a disparar mais de 4% naquele mesmo dia (por volta das 18h, quando o pregão regular da bolsa já tinha sido encerrado), mas desacelerou fortemente os ganhos em seus minutos finais de negociação, fechando com ganhos de 2,87%.
Este movimento coincidiu com o tuíte de um de seus filhos, Flávio Bolsonaro (hoje senador), que afirmou que “infelizmente [a facada] foi mais grave” do que se pensava e que o candidato havia perdido muito sangue e chegado ao hospital ( Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora) “quase morto”.
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Porém, novas notícias saíram mostrando que, mesmo em estado grave, Bolsonaro não corria tantos riscos como se pensou naquele momento, o que repercutiu no desempenho dos American Depositary Receipts (ADRs, ou papéis de empresas negociados na NYSE) no dia seguinte em que a bolsa esteve fechada.
No dia 7, o índice de ADRs Brazil Titans 20 fechou com ganho de 1,52%, enquanto o principal ETF (Exchange Traded Fund) brasileiro, o EWZ, teve alta de 1,47%. Para ter uma maior noção do deslocamento, em Wall Street, o Dow Jones fechou em queda de 0,31% e o S&P500 desvalorizou 0,22%.
O que aconteceu dali em diante é bastante conhecido pelos brasileiros, sendo ou não investidores em Bolsa. Eleito presidente com 55,13% dos votos válidos, ante 44,87% de Fernando Haddad, Bolsonaro passou por três cirurgias e voltará a ser operado no domingo (8) para a correção de uma hérnia incisional em decorrência da facada.
O autor do atentado, Adélio Bispo de Oliveira, preso logo após o crime, está internado por tempo indeterminado em um manicômio judicial. Bolsonaro e o Ministério Público não recorreram contra a decisão da Justiça Federal que considerou Adélio inimputável e, desta forma, o caso foi encerrado em julho deste ano.
Nesta semana, Bolsonaro voltou a falar sobre o atentando em entrevista ao canal Na Lata com Antonia Fontenelle, no Youtube. E minimizou o impacto do atentando na sua vitória. “Aquela facada não me elegeu não. Na facada eu já estava eleito. Eles tentaram ali botar o fim em uma candidatura”, disse o agora presidente no vídeo publicado nesta semana.
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