Publicidade
O Poder Executivo decidiu não recomendar mudanças na meta de déficit zero prevista no texto original do projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias â LDO (PLN 4/2023). A informação é do lÃder do governo no Congresso Nacional, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP). O prazo para a proposição de emendas de parlamentares, comissões e bancadas estaduais à LDO termina nesta sexta-feira (17).
Segundo Randolfe, o resultado primário zero ânão é uma meta somente do Executivoâ. O parlamentar cobrou do Poder Legislativo a votação de matérias que possam elevar a arrecadação da União e afastar a possibilidade de déficit em 2024.
“O déficit zero é responsabilidade de todos os Poderes da república. Por isso, esperamos do Legislativo a apreciação de algumas medidas. Se aprovadas, não há que se falar em mudança da meta. O governo não encaminhará nenhuma proposta de mudança do déficit primário e continua apontando para a meta de déficit zero”, disse Randolfe.
Continua depois da publicidade
O lÃder defende a votação das seguintes matérias:
- medida provisória (MP) 1.185/2023, que autoriza a cobrança do Imposto de Renda da Pessoa JurÃdica (IRPJ) e da Contribuição Social sobre o Lucro LÃquido (CSLL) sobre incentivos fiscais federais concedidos por entes da federação;
- Projeto de Lei (PL) 4.173/2023, que tributa rendimentos de aplicações financeiras, lucros e dividendos de entidades controladas no exterior (offshores);
- PL 3.626/2023, que regula as apostas de quota fixa em eventos esportivos, também conhecidas como bets; e
- PL 4.258/2023, que veda a dedução dos juros sobre capital próprio da base de cálculo do IRPJ e da CSLL a partir de 2024.
Apesar de o lÃder do governo negar a tentativa de mudança na meta, o deputado Lindbergh Farias (PT-RJ), que é vice-lÃder do bloco, apresentou duas emendas à LDO sobre o assunto. A primeira prevê um déficit equivalente a 0,75% do produto interno bruto (PIB), enquanto a segunda admite um saldo negativo de 1% do PIB nas contas públicas.
Segundo Lindbergh Farias, a meta de déficit zero levaria o governo a iniciar 2024 com um contingenciamento de até R$ 53 bilhões. âMesmo com a proposta de déficit de 0,5%, estima-se um contingenciamento de até R$ 40 bilhões. O governo já vai iniciar o próximo ano amarrado no fiscalâ, argumenta o parlamentar.
Meta difÃcil
Em outubro, durante café da manhã com jornalistas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, disse que âdificilmenteâ o governo conseguiria zerar o déficit primário em 2024.
“Tudo que a gente puder fazer para cumprir a meta fiscal a gente vai cumprir. O que eu posso dizer é que ela não precisa ser zero, o paÃs não precisa disso. Eu não vou estabelecer uma meta fiscal que me obrigue a começar o ano fazendo corte de bilhões nas obras que são prioritárias para esse paÃs” disse o presidente na ocasião.
A possibilidade de alteração na meta divide opiniões no Senado. O lÃder do governo na Casa, senador Jaques Wagner (PT-BA), é contra a mudança por meio de emenda à LDO.
Continua depois da publicidade
“Não acho que precise mudar a meta. Se eu disser que é 0,5% (do PIB), amanhã alguém vai dizer: âNão dá para esticar para 1%?â. Prefiro manter a meta. Se amanhã a gente não conseguir atingir, o mundo não vem abaixo. Vai ter uma explicação sobre por que não atingiu”, disse Jaques Wagner.
Para o senador Humberto Costa (PT-PE), a meta âpode sofrer mudança a qualquer tempoâ.
â Não vejo a necessidade de se colocar imediatamente na LDO. à óbvio que será difÃcil se conquistar a meta de déficit zero, mas não é impossÃvel. Temos que dar um crédito de confiança ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para que ele continue a buscar esse déficit zero. Caso não seja possÃvel, que ele próprio tome a iniciativa de apresentar um número para um eventual déficit. Não existe um número ideal, mas quanto menor melhor â afirmou.
Continua depois da publicidade
Para a senadora Tereza Cristina (PP-MS), as emendas apresentadas pelo deputado Lindbergh Farias indicam âfalta de articulação do governoâ.
“Se um deputado do PT propõe uma emenda já querendo âfurarâ o teto, isso mostra que o governo é gastador e que há uma desarticulação. Acho que eles precisam se entender porque a sociedade espera por isso. Só tenho visto o governo pensar em gastar, e não em melhorar a qualidade do gasto ou cortar gastos”, disse.
O lÃder da oposição na Casa, senador Rogério Marinho, avalia que cabe ao Poder Executivo, e não ao Legislativo, âcolocar a digitalâ em uma eventual mudança na meta fiscal.
Continua depois da publicidade
“Foi o governo que estabeleceu essa meta, através da votação do arcabouço (Lei Complementar 200, de 2023). Na oportunidade, eu já havia afirmado que o governo estava enganando a opinião pública e o mercado. Não precisou nem terminar o ano para que a farsa fosse descoberta. O que o deputado [Lindbergh Farias] deve querer é que a responsabilidade pela mudança da meta fique no Congresso Nacional. Mas por que o Congresso Nacional precisa colocar a digital nesse despautério? Deixa que o governo constate o óbvio: que ele não vai cumprir a meta”, afirmou.
O que diz a LDO
De acordo com o PLN 4/2023, a elaboração e a execução do Orçamento de 2024 âdevem ser compatÃveis com a meta de resultado primário de R$ 0,00 (zero real)â. O projeto admite um âintervalo de tolerânciaâ equivalente a 0,25 ponto percentual do PIB para baixo ou para cima. A meta é considerada descumprida se o resultado primário nominal ficar abaixo de R$ 28,7 bilhões.
O resultado primário é calculado pela diferença entre receitas e despesas, excluÃdas receitas e despesas com juros. Caso a diferença seja positiva, trata-se de superávit primário. Se for negativa, ocorre déficit primário.
Continua depois da publicidade
Para garantir o cumprimento da meta fixada na LDO, o Poder Executivo pode adotar o contingenciamento de despesas discricionárias. A limitação restringe tanto os investimentos quanto o custeio em geral.
Desde o inÃcio do ano, o Poder Executivo editou cinco decretos que dispõem sobre a programação orçamentária e financeira e estabelecem o cronograma de execução mensal de desembolsos â conhecidos como decretos de contingenciamento. Ao todo, eles bloqueiam R$ 3,81 bilhões em despesas discricionárias para o cumprimento dos limites de gastos. Despesas obrigatórias estão preservadas.
Os R$ 3,81 bilhões bloqueados representam 0,2% das despesas totais sujeitas a limite e 1,96% do total das despesas discricionárias do Poder Executivo. O último decreto, editado em setembro, contingenciou R$ 588,7 milhões.
(Com informações da Presidência da República)