Bolsonaro tenta tirar aliado de Moro do comando da PF; ministro resiste

É a segunda vez que Bolsonaro tenta interferir no comando da corporação. Desta vez, Moro teria ameaçado deixar o cargo caso o movimento se confirme

Equipe InfoMoney

O presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro (Foto: Antonio Cruz/ Ag. Brasil)
O presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro (Foto: Antonio Cruz/ Ag. Brasil)

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SÃO PAULO – O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) comunicou, nesta quinta-feira (23), ao ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, que pretende substituir o diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, nome de confiança do ex-juiz federal. A notícia foi dada pela Folha de S.Paulo.

Segundo O Estado de S.Paulo e o G1, o ministro resiste à troca e indica que poderia deixar o cargo caso o movimento se confirme. É a segunda vez que Bolsonaro tenta interferir no comando da corporação. No ano passado, o mandatário desistiu da ideia em meio às resistências de Moro e à repercussão negativa da notícia.

Valeixo foi escolhido pelo ministro para o cargo no início do ano passado. Antes do cargo atual, o delegado comandou a Diretoria de Combate do Crime Organizado da Polícia Federal e foi superintendente da corporação no Paraná, onde teve mais contato com o então juiz federal Sérgio Moro, nas investigações pela operação Lava-Jato.

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A insistência de Bolsonaro em mexer nos cargos de comando da Polícia Federal tem criado problemas para a relação com Moro. Nos bastidores, outro agravante para a situação pode ter sido a aproximação do presidente com partidos do “centro”, que tem quadros com processos na Justiça.

“Como ex-juiz da Operação Lava-Jato, a imagem de Moro é incompatível com um relacionamento próximo a nomes que o próprio condenou ou ajudou a condenar”, observam os analistas da XP Política.

Também geram desgaste investigações de figuras próximas a Bolsonaro. É o caso das apurações sobre o possível envolvimento do senador Flávio Bolsonaro, filho do presidente, na prática da chamada “rachadinha” enquanto o parlamentar exercia o cargo de deputado estadual na Alerj. Além da apuração sobre o uso de candidaturas-laranja pelo PSL, partido pelo qual Bolsonaro foi eleito no pleito de 2018.

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Antes da pandemia do novo coronavírus, Moro era o nome mais popular do governo Bolsonaro – passando a perder para Luiz Henrique Mandetta, que comandou o Ministério da Saúde até a última sexta-feira (17), no enfrentamento à crise sanitária.

De acordo com pesquisa XP/Ipespe, realizada entre 20 e 22 de abril, Moro conta com 52% de avaliações positivas contra 21% negativas e uma nota de 6,2 em uma escala de 0 a 10 – ao passo que Bolsonaro tem 41% de avaliações positivas, 34% negativas e uma média de 5,1.

Além disso, o ex-juiz federal da Operação Lava-Jato tem forte endosso entre o eleitorado bolsonarista, o que amplifica os riscos políticos para o presidente em caso de rompimento das relações entre os dois.