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O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF) autorizou, nesta quinta-feira (2), que a Polícia Federal tome depoimento do senador Marcos do Val (Podemos-ES) em investigação que apura os atos golpistas de 8 de janeiro, dentro de cinco dias.
O pedido foi feito pela PF nesta manhã, após o parlamentar afirmar que recebeu um pedido do agora ex-deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ), preso mais cedo, para participar de uma tentativa de golpe de Estado com o objetivo de manter Jair Bolsonaro (PL), derrotado nas eleições de outubro de 2022, na Presidência da República.
De acordo com o senador, a missão proposta seria de marcar uma conversa com Alexandre de Moraes e conseguir gravar qualquer declaração do magistrado no sentido de que ele estaria “ultrapassando as linhas da Constituição”. Em vídeo divulgado nas redes sociais, ele chegou a dizer que Bolsonaro tentou coagi-lo a dar um golpe de Estado e mencionou reportagem que seria publicada pela revista Veja.
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O veículo publicou, horas depois, uma reportagem com supostos detalhes do plano. Segundo a matéria, que diz ter tido acesso a um conjunto de mensagens telefônicas, o encontro entre Bolsonaro, Silveira e do Val teria ocorrido em 9 de dezembro de 2022, no Palácio da Alvorada.
O senador havia sido escolhido como o encarregado por realizar a gravação escondida de Alexandre de Moraes porque conhecia o magistrado há mais de uma década. Era visto como o personagem ideal para se aproximar do ministro sem levantar suspeitas.
A reportagem conta que, à altura daquela reunião, apenas os três tinham conhecimento do plano. Outras duas, possivelmente militares, tomariam conhecimento com o avanço da operação.
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De acordo com a revista, Bolsonaro disse que contava também com o suporte do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), pasta à época comandada pelo general Augusto Heleno. O órgão é responsável pela segurança do presidente e tem sob seu organograma a Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
A reportagem conta que Marcos do Val pediu um tempo para pensar no plano e, nos dias seguintes à reunião, recebeu novas mensagens de Silveira tentando convencê-lo da segurança e da importância do plano. Uma das mensagens atribuídas ao então deputado dizia que a operação “salvaria o Brasil”.
O objetivo era evitar que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assumisse a Presidência da República e prender Alexandre de Moraes – tido por Bolsonaro e seus aliados como adversário político, responsável por uma série de decisões desfavoráveis ao grupo na Justiça.
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Diante da gravidade dos fatos, a matéria relata que o senador procurou Alexandre de Moraes. Os dois teriam se encontrado em 14 de dezembro, dia em que o Supremo Tribunal Federal (STF) julgava a legalidade do chamado “orçamento secreto”. Depois do rápido encontro, o senador teria comunicado Silveira de que declinara da missão.
Em entrevista ao portal g1, Marcos do Val deu detalhes do episódio: “Eles me disseram: ‘Nós colocaríamos uma escuta em você e teria uma equipe para dar suporte, e você vai ter uma audiência com Alexandre de Moraes, e você conduz a conversa pra dizer que ele está ultrapassando as linhas da Constituição. E a gente impede o Lula de assumir, e Alexandre será preso'”.
No pedido apresentado ao Supremo, a Polícia Federal alegou que a tomada de depoimento de Marcos do Val é necessária porque o parlamentar divulgou nas redes sociais ter “informações relevantes” para a investigação das ações golpistas.
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Ao jornal Folha de S.Paulo, o senador, que chegou a indicar que renunciaria ao mandato, deu outra versão para a história. Após acusar Bolsonaro de coagi-lo a “dar um golpe de Estado junto com ele”, Marcos do Val afirmou que o então presidente “só ouviu” o plano de Silveira e disse que iria “pensar”.