A valorização das ações costuma ser vista como a forma mais tradicional de ganhar dinheiro investindo na Bolsa. Mas para muitos investidores, o que interessa mesmo é outra fonte de rendimentos proporcionada pela renda variável: o pagamento de dividendos pelas empresas.
A parcela do lucro distribuída pelas companhias aos seus acionistas costuma ser valorizada pelos investidores com foco no longo prazo. Isso porque empresas boas pagadoras de dividendos geralmente proporcionam resultados mais constantes e previsíveis, que podem ser encarados como uma renda extra e passiva – ou seja, que não exige movimentações ativas no portfólio.
Mas quanto rende uma carteira que, mais do que a valorização dos papéis, está focada em proporcionar dividendos aos investidores?
Uma planilha financeira lançada pelo InfoMoney ajuda a fazer as contas. Desenvolvida em parceria com Jennie Li, estrategista de ações da XP, a ferramenta calcula o retorno com dividendos de ações ou de carteiras de ações montadas pelos investidores.
No início de outubro de 2021, por exemplo, o InfoMoney publicou uma reportagem reunindo as ações indicadas no mês por dez corretoras para investidores interessados em boas pagadoras de dividendos. A lista incluiu os papéis das transmissoras de energia Taesa (TAEE11) e Isa Cteep (TRPL4), da holding Itaúsa (ITSA4), da Telefônica Brasil (VIVT3) e da mineradora Vale (VALE3), entre outras.
Em conjunto, esses papéis têm um dividend yield – taxa de retorno que o investidor obtém apenas com o pagamento de dividendos – médio equivalente a 7,9% ao ano.
Você pode fazer a mesma conta para sua própria carteira de ações usando a planilha. Para isso, basta indicar seu e-mail de preferência para recebê-la no quadro no início dessa reportagem. No vídeo abaixo, você pode aprender como utilizar a ferramenta:
A planilha apresenta o histórico de dividend yield, ano a ano, das ações negociadas na B3 cujas empresas emissoras tenham distribuído proventos pelo menos uma vez nos últimos cinco anos – ou seja, desde 2016. Além disso, também traz a projeção de consenso entre os analistas do mercado financeiro para o dividend yield dos papéis disponíveis em 2022.
Entre os resultados, além de descobrir qual é o dividend yield médio atual da carteira, os investidores também poderão verificar o histórico da taxa de retorno com dividendos e em comparação com o dividend yield médio da carteira do Idiv, índice da B3 focado em ações que distribuem proventos.
Dividend yield basta?
Para quem está interessado em ter uma carteira de boas pagadoras de dividendos, o dividend yield é considerado um dos principais indicadores para avaliação, pois ele permite equalizar as informações sobre a distribuição de proventos e compará-las entre ações diferentes. Porém, não é o único.
“Ao investir em ações, o investidor deve observar a empresa como um todo: quais são as perspectivas de crescimento, sua geração de caixa e que outras formas de remuneração aos acionistas ela oferece”, diz Jennie.
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Por isso, a planilha do InfoMoney também apresenta a valorização da carteira de ações ao longo dos últimos cinco anos, considerando dois cenários: um em que o investidor tivesse reinvestido a renda obtida com dividendos nas mesmas ações e outro em que o reinvestimento não tivesse sido feito.
No acumulado entre o início de 2016 até o dia 30 de setembro de 2021, por exemplo, o conjunto de ações pagadoras de dividendos compilado pelo InfoMoney a partir das recomendações de dez corretoras teria rendido quase 302%, se o investidor tivesse reinvestido os proventos que recebesse. Caso contrário, a performance teria sido de 167,5% no período.
Considerando o mesmo intervalo de tempo, o desempenho do Idiv foi de 226,4%.
Diversificar também na carteira de dividendos
Um cuidado importante ao montar uma carteira de ações com o objetivo de obter renda a partir da distribuição de proventos está na diversificação. São tradicionais boas pagadoras de dividendos as empresas do setor elétrico, que, em geral, possuem uma geração de caixa constante e não demandam investimentos vultosos para mantê-la.
Mas concentrar o portfólio apenas nessas empresas pode não ser uma boa ideia – afinal, isso se traduz em uma concentração de riscos.
Por serem reconhecidas como grandes distribuidoras de proventos, as ações de empresas desse setor estiveram entre as que mais sofreram quando o governo federal encaminhou ao Congresso Nacional o Projeto de Lei (PL) que propunha alterações na cobrança de Imposto de Renda, passando a taxar em 15% a distribuição de dividendos – que, hoje, é isenta de tributação. O projeto ainda está em tramitação, atualmente no Senado.
Além disso, quando há alguma mudança nas regras de um setor específico, as ações das empresas podem sofrer, prejudicando o retorno.
“Quando nos focamos na lista das empresas que pagam mais dividendos, é comum que a gente acabe sempre no mesmo setor. Mas isso pode deixar a carteira muito pesada”, diz Jennie.
Na visão da estrategista, mesmo que a reforma do Imposto de Renda avance e a distribuição de dividendos passe a ser taxada, a estratégia de investir com foco em dividendos permanece sendo atrativa.
“A não tributação de dividendos é algo específico do Brasil. Em países como os Estados Unidos os proventos são taxados, e as pessoas continuam investindo com a visão de renda passiva”, afirma.