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Enquanto o Banco Central deixa pistas de que o fim do ciclo de alta da Selic está próximo â com a taxa provavelmente chegando ao patamar de 12,75% ao em maio â agentes do mercado que temem os riscos de uma inflação mais duradoura projetam os juros básicos em 13,75% no final de 2022, após a divulgação da ata da última reunião do Comitê de PolÃtica Monetária (Copom).
No patamar atual, a taxa Selic já se encontra no seu maior nÃvel desde abril de 2017, quando os juros chegaram a 12,25% ao ano.  Por outro lado, a inflação parece não dar trégua. Segundo o último Relatório Focus, as projeções do mercado para o IPCA em 2022 são de 6,59%, praticamente o dobro da meta do Banco Central que é de 3,5%.
Enquanto o Banco Central tenta encontrar o nÃvel certo de juros para controlar a inflação, a renda fixa reconquista seu espaço entre os investidores. E nessa toada, até mesmo ativos que ficaram um pouco esquecidos nos últimos três anos, quando os juros chegaram a alcançar o menor patamar da história, de 2% ao ano, começam a ganhar adeptos. à o caso dos ETFs de renda fixa.
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Na Bolsa brasileira existem sete ETFs (fundos de Ãndice com cotas negociadas no pregão) focados em estratégias de renda fixa. Destes, cinco replicam Ãndices de dÃvida pública com tÃtulos indexados à inflação, um garante exposição a ativos prefixados e outro permite uma exposição a contratos futuros de DI, com vencimento atualmente em 2025.
Segundo o último Boletim mensal de ETFs da B3, os fundos de Ãndice de renda fixa reuniam até fevereiro 7.578 investidores, um número pequeno em comparação com o universo de 529.352 investidores que atualmente utilizam fundos de Ãndices para diversificar as carteiras.
As estratégias de cada um deles são distintas e permitem acompanhar diferentes movimentos do mercado de renda fixa. Os mais numerosos são os ETFs que acompanham papéis atrelados à inflação, e entre eles há tanto opções focadas em juros de curto quanto de longo prazo. Existem ainda ETFs que replicam Ãndices compostos por papéis prefixados e outros que mesclam tÃtulos pré e pós-fixados. Qual será o melhor ETF para investir no cenário atual, de inflação e juros elevados? Confira as recomendações dos especialistas:
FIXA11 para mesclar pré e pós-fixados
Para o investidor que busca exposição tanto a juros prefixados e quanto a tÃtulos públicos atrelados à Selic, existe o ETF FIXA11, da Mirae Asset Management. O fundo de Ãndice foi o primeiro de renda fixa a estrear na B3, no ano de 2018, após mudanças regulatórias.
O ETF replica o desempenho do Ãndice S&P/BM&F Ãndice de Futuros de Taxa de Juros â DI 3 anos.  Felipe Pascowitch, head de investimentos da Mirae Asset, explica que a cesta de ativos do ETF está composta por contratos futuros de taxa média de depósitos interfinanceiros de um dia (DI1), com vencimento em janeiro de 2025, garantindo ao investidor uma exposição nos juros prefixados no perÃodo de até três anos.
Na cesta de ativos também é possÃvel encontrar tÃtulos do Tesouro Selic e operações compromissadas lastreadas em tÃtulos públicos. A cesta é rebalanceada semestralmente, em junho e dezembro, negociando novos contratos de DI1 para o próximo vencimento e com exposição máxima de três anos
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A taxa de administração é de 0,30% ao ano. Atualmente o fundo possui 751 cotistas, dos quais 700 são pessoas fÃsicas.
Para Luciana Ikedo, assessora de investimentos e sócia do escritório RV4 Investimentos, este ETF seria uma das opções mais interessantes de acordo com o cenário atual de juros e inflação. Ela destaca que por ter um prazo curto, o investidor está sujeito a menos oscilações no retorno. Ao mesmo tempo, os tÃtulos do Tesouro Selic presentes na cesta de ativos permitem que o investidor se beneficie do cenário atual com a taxa básica ainda subindo.
No entanto, por possuir uma parcela de exposição a tÃtulos prefixados â que se desvalorizam quando as taxas de juros sobem â o FIXA11 apresenta desempenho ruim em 2022. Neste ano, até 21 de março, o ETF recua 1,59%, enquanto o CDI avança 2,03%.
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“A subida dos juros fez com que os prêmios [dos tÃtulos de renda fixa] caÃssem. Se o fim do aperto monetário estiver próximo, e a curva futura se reverter, pode ser um bom momento”, diz Luciana. âA curva de juros já contempla inúmeras altas na Taxa Selic, o que neste momento pode beneficiar uma alocação para este tipo de produtoâ, complementa Pascowitch.
B5P211 para tÃtulos de inflação de prazo curto
Para o investidor que ainda prefere prazos curtos, mas com exposição à inflação e a possibilidade de obter um ganho real, os especialistas apontam o ETF B5P211 como alternativa.
Ele replica o Ãndice IMA-B 5 P2 da Anbima, que reúne na sua composição tÃtulos do Tesouro IPCA+ e Tesouro IPCA+ com juros semestrais, com vencimentos em até cinco anos. Tais tÃtulos pagam ao investidor a variação da inflação mais uma taxa de juros prefixada.
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Luciana Ikedo explica que a renda fixa possui uma tributação regressiva que vai de 22,5% até 15%, a depender do tempo em que ficam alocados os recursos. No caso do ETF, que se expõe a tÃtulos de curto prazo, existe um mecanismo chamado Prazo Médio de Repactuação, por meio do qual o rendimento médio de todos os tÃtulos que integram a carteira deve ser de no mÃnimo dois anos para garantir a tributação mÃnima do Imposto de Renda de 15%. âO ETF sempre terá na carteira tÃtulos com prazo superior a 720 dias para garantir a menor alÃquotaâ, diz.
Na sua cesta de ativos, o ETF reúne cinco tÃtulos Tesouro IPCA+ com vencimentos entre 2022 e 2027. O rebalanceamento da cesta é mensal e a taxa de administração é de 0,20% ao ano. O B5P211 é gerido pelo Itaú Asset e conta com 1.022 cotistas.
Por se tratar de um ETF que investe em tÃtulos atrelados à inflação de curto prazo, os especialistas consultados pelo InfoMoney destacam que a volatilidade tende a ser menor do que a de papéis de prazo maior.
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Luiz Felippo, sócio da Nord Research, afirma que tÃtulos de curto prazo são mais dependentes da polÃtica monetária local e da inflação brasileira, o que poderia trazer ganhos ao investidor. Isso se nota pela rentabilidade neste ano. Segundo dados da Economatica, o B5P211 acumula valorização de 3,55% em 2022, até 21 de março, enquanto o Ãndice IMA-B 5 P2 avançou 2,77% no mesmo perÃodo.
Apesar disso, Felippo reforça os riscos de se expor à dÃvida pública atrelada à inflação neste momento e não recomenda a compra do ETF. Já Luciana Ikedo considera o ativo como a escolha mais eficiente entre os que seguem Ãndices IMA-B.

IMAB11 e IMBB11 para tÃtulos de inflação de prazos variados
Para quem não gosta de extremos e prefere uma alocação equilibrada, que garanta exposição simples a uma cesta de tÃtulos Tesouro IPCA+ de diversos vencimentos, existem os ETFs IMAB11, do Itaú Asset Management, e o IMBB11 do Bradesco Asset Management, com taxas de administração de 0,25% e 0,20%, respectivamente.
Luciana Ikedo explica que estes fundos de Ãndice replicam o desempenho do Ãndice IMA-B, desta forma investem em tÃtulos do Tesouro IPCA+ e Tesouro IPCA+ com juros semestrais, de curto e longo prazo. Na cesta de ativos destes ETFs é possÃvel encontrar 15 tÃtulos Tesouro IPCA+ com vencimentos entre 2022 e 2060, com destaque para o Tesouro IPCA+ 2024 que é a maior posição em ambas as carteiras.
O rebalanceamento destas cestas de ativos ocorre mensalmente.
A discrepância entre ambos ETF é mais perceptÃvel no número de cotistas. Enquanto o IMAB11, do Itaú, é o ETF de renda fixa com maior número de investidores â 5.100 cotistas â o ETF IMBB11 do Bradesco possui apenas 115 cotistas.
Renato Eid Tucci, superintendente de Estratégia Beta e Integração ESG da Itaú Asset, explica que pesa o fator educacional na hora de atrair investidores. O IMAB11 foi o único dos ETFs de renda fixa do Itaú a ter oferta pública, além de envolver um forte trabalho de conscientização por ter nascido dentro de uma iniciativa do Itaú em parceria com o Tesouro Nacional e o Banco Mundial para desenvolver o mercado.
Já o IMBB11, do Bradesco, chegou ao mercado meses depois do concorrente, mas não conseguiu atrair o mesmo número de cotistas, mesmo com uma taxa mais baixa. Roberto Lucchesi, gestor de indexados da Bradesco Asset Management, atribui o movimento às taxas de juros historicamente baixas que acabaram afastando alguns investidores.
âNossos ETFs têm a menor taxa de administração do segmento, de 0,20%, e um descolamento menor do Ãndice no mercado secundárioâ, destaca.
Especialistas consultados pela reportagem, também reforçam a importância de ter uma taxa de administração baixa para garantir um retorno não muito distante do Ãndice replicado. Segundo Luciana Ikedo, quanto menor o custo, melhor.
Quando comparados os desempenhos, no acumulado de 2020 até 21 de março de 2022, o IMAB11 valorizou 5,97%, enquanto o IMBB11 subiu 5,14%, segundo dados da Economatica. No mesmo perÃodo, o IMA-B teve um retorno de 5,84%, de acordo com a Comdinheiro.

IB5M11 e B5MB11 para tÃtulos de inflação longos
Existe também a possibilidade do investidor se expor à dÃvida pública atrelada à inflação de longo prazo, por meio dos ETFs IB5M11 e B5MB11, com taxa de administração de 0,25% e 0,20%, respectivamente.
Ambos replicam o Ãndice IMA-B5+ da Anbima. No entanto, esta é uma das alternativas não recomendadas pelos especialistas.
Isso porque quanto maior o prazo de vencimento, maior a volatilidade e menor a previsibilidade de retorno do investimento. Luiz Felippo, da Nord Research, destaca que o PaÃs vive um cenário econômico desafiador. No âmbito local, as eleições presidenciais podem acabar afetando o rumo da polÃtica fiscal, trazendo incerteza para tÃtulos públicos longos.
Já na seara internacional, o ciclo de alta dos juros americanos para controlar a inflação também preocupa e pode acabar pressionando a curva de juros longa no Brasil. âTem tÃtulos longos entregando retornos reais elevados de 6% ao ano, mas ainda é preciso cautelaâ, aponta Felippo.
Já Luciana Ikedo destaca que este tipo de ETF, com uma cesta de longo prazo, pode servir para objetivos longos como aposentadoria. No entanto é importante levar em conta a volatilidade. Outro fator que ela destaca é que os ETFs de renda fixa sofrem marcação a mercado.
O IB5M11 e o B5MB11 reúnem na sua cesta de ativos tÃtulos Tesouro IPCA+, com e sem juros semestrais, com vencimento igual ou superior a cinco anos. âIsso significa que a duration ou prazo médio para o investidor receber o dinheiro seria acima de cinco anosâ, aponta Felippo.
Ambos os ETFs investem em dez tÃtulos públicos com vencimentos que vão de 2027 até 2060. A maior concentração está no Tesouro IPCA+ 2050. O rebalanceamento da cesta de ativos é mensal.
O IB5M11 tem 1.434 cotistas e o B5MB11 tem 65 cotistas. Compare os desempenhos dos ETFs:

Menos atrativo, IRFM11 para investir em prefixados
Ainda entre os ETFs de renda fixa está o IRFM11, do Itaú, que permite ao investidor ter exposição a uma cesta de tÃtulos públicos prefixados â com e sem juros semestrais. A carteira do ETF tem um prazo médio de vencimento igual ou superior a dois anos
O ETF acompanha o Ãndice IRF-M P2 da Anbima, que é rebalanceado mensalmente. Na cesta de ativos é possÃvel encontrar 16 tÃtulos Tesouro Prefixado com vencimentos entre 2022 e 2033. O maior peso da carteira é o Tesouro Prefixado 2024, com 18,24% de participação.
A taxa de administração do IRFM11 é de 0,20% ao ano. Atualmente o ETF tem 299 cotistas.
Entre todos as alternativas citadas na reportagem, os especialistas consultados pelo InfoMoney consideram o IRFM11 a menos atrativa. Isso porque em um cenário de alta de juros, tÃtulos prefixados podem trazer um desempenho ruim ao investidor, caso a Selic suba acima da taxa prefixada oferecida. Considerando o prazo médio de vencimento superior a dois anos, seria uma escolha arriscada. Em 2022, por exemplo, o IRFM11 tem rentabilidade negativa de 0,44%, segundo dados da Economatica.
Cadê os investidores?Os ETFs de renda fixa ainda engatinham quando o assunto é atrair investidores. Mas o que justifica o baixo interesse? Segundo os gestores, pesa o fato de que os lançamentos destes ETFs aconteceram principalmente em 2019, perÃodo em que os juros estavam em queda â aprofundada em 2020, como consequência da pandemia de coronavÃrus.
Segundo Roberto Lucchesi, gestor de indexados da Bradesco Asset Management, as taxas de juros baixas fizeram os investidores procurar outras alternativas com retornos maiores, como a renda variável local e internacional, o que justificaria a pouca liquidez e o fluxo de investimento menor nos ETFs de renda fixa. Com a Selic atualmente em 11,75% ao ano, Lucchesi acredita que esta realidade pode mudar. âDada a volta ao nÃvel das taxas de juros reais próximo a 6% ao ano, esse tipo de investimento passa a ser atrativo para capturar os possÃveis prêmios, além da preservação de patrimônio da inflaçãoâ, afirma o gestor da BRAM. Ele aponta também alguns movimentos feitos pela B3 para aumentar a liquidez dos ativos, como permitir que ETFs de renda fixa sejam aceitos como margem de garantia a partir de 2020 e a possibilidade de utilizá-los em operações de aluguel ou empréstimo. âIsso pode melhorar a atuação dos formadores de mercado e abre possibilidades para novas estratégias de investimento como venda, hedge e arbitragemâ, avalia Lucchesi. Para Renato Eid Tucci, superintendente de Estratégia Beta e Integração ESG da Itaú Asset, o processo de diversificação do investidor na Bolsa é recente e ainda muito focado em estratégias de volatilidade. Ele avalia que ainda causa um certo estranhamento a ideia de investir em renda fixa no pregão, o que justificaria a baixa procura pelos ETFs do segmento. âPara o investidor que busca receber cupom os ETFs não seriam uma boa alternativa, mas para aqueles que não esperam pelo cupom e procuram uma estratégia diversificada com baixo custo, ETFs são muito eficientesâ, destaca. |

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