Sabesp (SBSP3) privatizada pagará mais dividendos? Analistas veem melhora, mas recomendam paciência

Especialistas apontam chance de dividendos mais polpudos com ganho de eficiência, mas investidor poderá ter que esperar para ver resultado

Katherine Rivas

(Divulgação/Sabesp)
(Divulgação/Sabesp)

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A privatização da Sabesp (SBSP3) avança a passos acelerados e começa a gerar expectativa no investidor de olho nas distribuições de dividendos: com o governo deixando o controle, a remuneração a acionistas tem potencial de aumentar?

A resposta é um misto de esperança de maiores retornos ao investidor com a incerteza sobre exatamente quando isso poderia ocorrer.

Prevista por analistas para se concretizar no máximo até setembro de 2024, a privatização aperta o passo tanto pelo timing de mercado, quanto por interesse de agentes políticos, que não desejam que a Sabesp vire tema das eleições municipais de outubro do ano que vem.

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O modelo ainda não está 100% fechado, mas caminha para uma oferta subsequente de ações (follow-on) como meio de diluir a participação do Estado. Atualmente, o governo de São Paulo detém 50,26% das ações ordinárias da companhia, como controlador. A empresa não possui papéis preferenciais.

É a mesma estratégia adotada nas privatizações de Eletrobras (ELET3) e Copel (CPLE6), com a diferença de que, nesses casos, o capital das companhias ficou pulverizado, como uma corporation. Já a Sabesp pode ganhar um acionista de referência relevante.

“Ainda não foi definido o nível de governança e atribuições que esse acionista de referência vai ter. Se pode nomear diretores ou quais os diferenciais da posição”, comenta Vladimir Pinto, head de utilities da XP.

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O tamanho da participação do governo de São Paulo pós-privatização também está em aberto. “A Sabesp pode ficar mais parecida com a Copel, onde o estado ficou com uma participação menor na empresa”, avalia Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos.

Benefícios

Analistas esperam que a privatização alavanque a eficiência da Sabesp, reduzindo despesas operacionais para abrir espaço para mais investimentos – características que são muito importantes para os acionistas minoritários.

A avaliação é de que há muito espaço para cortes de custos. A Sabesp registrou margem Ebitda de 41% e gasto operacional de cerca de R$ 12 milhões em 2022, enquanto nas empresas privadas do segmento, como Iguá Saneamento, BRK Ambiental e Aegea, os números foram bem melhores: entre 40% e 60% de margem Ebitda e custo operacional de menos de R$ 2 milhões.

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O caminho pode passar por programas de demissão voluntária (PDV) e otimização de despesas com contratos de serviço. “Na Sabesp, o custo médio de cada funcionário é R$ 250 mil, enquanto nas empresas privadas não passa de R$ 100 mil. A companhia tem espaço para reduzir seus gastos pelo menos pela metade”, pontua Luan Alves, head de equity da VG Research.

A companhia também é vista com potencial de expandir para fora do Estado de São Paulo, com a previsão do incremento em R$ 10 bilhões do compromisso atual de R$ 56 bilhões em investimentos para a universalização de serviços de água e esgoto em quatro anos, em caso de privatização.

Pelo Marco de Saneamento, o objetivo é garantir até dezembro de 2033 que 99% da população tenha água potável e 90% tratamento de esgoto — atualmente, 100% dos clientes da Sabesp têm acesso a água tratada, mas apenas 80% à coleta de lixo adequada, e 78% a tratamento de esgoto.

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Entre os pontos de atenção, está a manutenção de contratos com os municípios, que podem ser revistos, assim como a eventual redução de tarifas, que não poderia comprometer a saúde financeira da companhia. “É importante observar se a empresa vai precisar pagar algum bônus de outorga para ser privatizada e se o valor vai compensar”, observa o head de utilities da XP.

De quanto podem ser os dividendos?

Embora o setor de saneamento seja conhecido por ser defensivo, muito focado na remuneração dos acionistas, analistas consultados pelo InfoMoney destacam que, por conta dos investimentos necessários, a Sabesp não deve se tornar uma grande pagadora de dividendos após a privatização — ao menos não no curto prazo.

Em um primeiro momento, o consenso é de que o payout (parcela do lucro destinada a proventos) da Sabesp deva se manter próximo do mínimo regulatório de 25%.

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“Mesmo privatizada, eu não esperaria dividendos bons em 2024 e nem em 2025. A partir de 2026, a Sabesp já terá um ganho de eficiência e reestruturação da empresa, podendo aumentar um pouco a distribuição de proventos”, cita Alves, da VG Research, que aposta em remuneração entre 2% e 3% de dividend yield ao ano.

Já Arbetman, da Ativa, projeta um dividend yield de 2% para 2023, crescendo para 2,5% em 2024 e 3,5% no ano seguinte — valores, no entanto, ainda baixos se considerados os retornos das melhores pagadoras da Bolsa, de no mínimo 6%.

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Pinto, da XP, enxerga melhoria nos dividendos nos primeiros anos, puxados por condições mais favoráveis de emissão de dívida que aumentariam a capacidade de alavancagem da empresa e diminuiriam a pressão sobre o pagamento de proventos.

Para isso, diz, seria preciso estar atento aos fatores a seguir:

Quanto maior é o horizonte de análise, melhores são as impressões de especialistas sobre a Sabesp em relação a dividendos. Arbetman, por exemplo, ressalta que, ao longo do tempo, a tendência é que o investidor colha os frutos dos ganhos de eficiência. “No longo prazo, a companhia tende a pagar mais dividendos. A Sabesp será uma empresa mais enxuta, operando em ótimo patamar e vai conseguir fazer uma distribuição maior”, avalia.

E a valorização?

Além dos dividendos, há a expectativa de que o papel avance na esteira da privatização. Atualmente, Sabesp é negociada em múltiplo de 0,65 vezes ev/rab (EV = enterprise value, ou valor de mercado, + dívida líquida; RAB = base de ativos regulatórios). “Caso privatizada, não tem por que ela negociar abaixo de 1 vez ev/rab. Quanto antes investir, mais pega esse processo”, analisa Arbetman.

Pagadora de juros sobre capital próprio (JCP) pelos últimos cinco anos, a Sabesp deve sentir nos lucros o impacto do possível fim dessa modalidade de distribuição de proventos. No entanto, segundo analistas ouvidos pela reportagem, a mudança não tem potencial de fazer o preço da ação cair.

“Se não tiver JCP, vai investir ainda mais e ter um retorno maior. O fim do JCP não é um tema que afeta tanto a Sabesp como a outras empresas maduras que pagam dividendos”, pontua Alves, da VG.

Na VG, embora não integre a carteira de dividendos atual, Sabesp está entre as recomendações de valorização, com projeção de salto de quase 100%, a R$ 120 por ação, nos próximos três anos.

Opções além de Sabesp

Para investidores que buscam dividendos no curto prazo, os analistas enxergam que a Sanepar (SAPR4) é a melhor opção, se levado em conta o desconto da ação e o potencial de valorização além dos dividendos. Na VG Research, por exemplo, a expectativa é que a companhia entregue um dividend yield de entre 5% e 6%.

Outra alternativa é Copasa (CSMG3), para a qual Alves projeta dividend yield de 7% para 2023, e de 8% para 2024. “A Copasa paga dividendos mais elevados neste momento, mas nossa recomendação principal é a Sanepar. Mesmo recebendo um pouco menos de dividendos, a ação é a mais descontada e tem potencial de valorização maior do que a Copasa”, destaca o analista.

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Katherine Rivas

Repórter de investimentos no InfoMoney, acompanha ETFs, BDRs, dividendos e previdência privada.