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O Ifix â Ãndice dos FIIs mais negociados na Bolsa â acumula valorização de 11% em 2023 e ostenta seis meses seguidos de ganhos. Apesar do aparente bom humor, nem tudo é otimismo no mercado de fundos imobiliários.
O desempenho de alguns fundos tem destoado do da maioria e estas carteiras registram perdas de até 70% ao longo do ano. Dado o cenário, uma dúvida pode surgir entre os investidores: um fundo pode falir?
O Tordesilhas EI (TORD11), por exemplo, enfrenta uma forte tendência de queda. Nos últimos 12 meses, as cotas do fundo caÃram da casa dos R$ 8 para os atuais R$ 2,16, como mostra o gráfico na página da carteira no InfoMoney.
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De forma geral, na avaliação de Danilo Bastos, analista CNPI e sócio-fundador da Ticker Research, o risco de falência para um fundo imobiliário é mÃnimo e não há nenhum registro na história.
âUma falência ocorre quando a dÃvida supera o patrimônio ou a capacidade de pagamento de um fundoâ, contextualiza. âComo um FII costuma ser bem restritivo em relação à alavancagem (endividamento), dificilmente isso aconteceria, especialmente sem o investidor perceberâ, reflete.
Bernardo Sanches, especialista em FIIs e um dos criadores do canal Vai Pelos Fundos, também considera extremamente difÃcil um fundo imobiliário falir ou virar pó â quando a cota perde todo o valor.
Ele lembra que, normalmente, os FIIs estão lastreados em ativos reais (que podem ser vendidos para geração de recursos) â o que proporciona uma importante camada de segurança para o investidor.
âSeja diretamente com os imóveis dos FIIs de âtijoloâ, seja nas garantias dos tÃtulos de renda fixa presentes na carteira dos FIIs de âpapelââ, explica Sanches. Além disso, ele lembra que nada impede a carteira realizar um grupamento de cotas â como ocorreu com o Continental Square Faria Lima (FLMA11), em 2021.
Mesmo praticamente descartando a possibilidade de um fundo imobiliário falir, os especialistas destacam a importância de o investidor acompanhar e entender as causas da tendência de queda do FII investido.
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O que explica a forte desvalorização de um FII?
Bastos lembra que a tendência de queda de um FII pode estar relacionada a um evento de mercado ou a um fato especÃfico do fundo. Identificar a origem faz todo o sentido para a tomada de decisão do investidor, alerta.
âSe a queda não é algo especÃfico do ativo, e sim relacionada a algo pontual do mercado â como a pandemia da Covid-19, por exemplo â, uma queda é oportunidade de comprar mais cotas por um preço menorâ, observa.
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De acordo com o analista, os casos de grande desvalorização ao longo da história ocorreram após a perda repentina de fundamentos em fundos mais antigos, muitas vezes com um único imóvel alugado para apenas um inquilino.
âEste inquilino devolvia o imóvel cujas caracterÃsticas estavam bastante ligadas ao então locatárioâ, detalha. âO fundo não conseguia alugar para outro cliente, o espaço ficava vazio por muito tempo e o gestor ficava com pouca margem de manobraâ, pontua.
Em atividade desde março de 2003, o FII EdifÃcio Almirante Barroso (FAMB11) encaixa no cenário descrito por Bastos. Em 2019, a carteira chegou a figurar na lista dos maiores pagadores de rendimentos do mercado, com um dividend yield (taxa de retorno com dividendos) de 16% no acumulado de 12 meses encerrados em agosto daquele ano.
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Na época, a taxa de vacância do FII estava zerada e a carteira tinha como locatária a Caixa Econômica Federal, que ocupava o imóvel homônimo do fundo havia mais de 50 anos.
Além do escritório administrativo e duas agências, a instituição financeira mantinha no local o Caixa Cultural Rio de Janeiro â que depois seria transferido para a Rua do Passeio, também na região central da cidade.
A situação do FII EdifÃcio Almirante Barroso começou a mudar em novembro de 2020, quando a inquilina decidiu desocupar integralmente o imóvel. Ele ficaria 100% desocupado durante os dois anos seguintes.
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De lá para cá, as cotas do fundo acumulam queda de mais de 60%. No entanto, o FII segue trabalhando para a ocupação do edifÃcio, reforçando a tese de que a probabilidade de um fundo imobiliário falir é quase nula.
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Bastos lembra que os fundos mais novos já nascem diversificados â mais imóveis e muitos locatários â e menos vulneráveis a situações que ameacem a capacidade de operação.
âQuando você tem um fundo com vários ativos e cada ativo está alugado para vários inquilinos, não é um locatário devolvendo um imóvel que fará grande diferençaâ, explica.
Maiores baixas de 2023: o que fazer?
Dos 109 fundos que compõem atualmente o Ifix, 13 operam no campo negativo em 2023. Os FIIs high yield â de maior risco â TORD11, Hectare CE (HCTR11), Versalhes (VSLH11) e Devant RecebÃveis (DEVA11) caem forte e ocupam as quatro primeiras posições na lista das maiores baixas do ano. Confira a lista:
| Ticker | Fundo | Segmento | Variação em 2023 (%) |
| TORD11 | Tordesilhas EI | Desenvolvimento | -70,18 |
| HCTR11 | Hectare | TÃtulos e Val. Mob. | -65,56 |
| VSLH11 | Versalhes RecebÃveis Imobiliários | TÃtulos e Val. Mob. | -62,62 |
| DEVA11 | Devant | TÃtulos e Val. Mob. | -47,27 |
| XPPR11 | XP Properties | Lajes Corporativas | -33,86 |
| SARE11 | Santander Renda | HÃbrido | -20,55 |
| BCRI11 | Banestes | TÃtulos e Val. Mob. | -20,05 |
| BTRA11 | BTG Pactual Terras AgrÃcolas | Agro | -16,65 |
| BLMG11 | Bluemacaw LogÃstica | LogÃstica | -12,52 |
| RECT11 | REC Renda Imobiliária | HÃbrido | -12,42 |
| VINO11 | Vinci Offices | Lajes Corporativas | -6,43 |
| IRDM11 | Iridium RecebÃveis Imobiliários | TÃtulos e Val. Mob. | -4,89 |
| BTAL11 | BTG Pactual Agro | Agro | -1,93 |
Fonte: Economatica – 16/10/2023
No inÃcio de 2023, esses fundos estavam entre os que sofreram com a inadimplência em série dos certificados de recebÃveis imobiliários (CRI), especialmente os ligados à empresa Gramado Parks, em recuperação judicial.
O atraso no pagamento dos tÃtulos afetou a receita das carteiras, que tiveram de reduzir o rendimento distribuÃdo aos cotistas. Com o movimento, os fundos perderam atratividade e valor na Bolsa.
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Em caso de forte desvalorização do FII, Sanches, do Vai pelo Fundos, recomenda que o investidor faça o chamado dever de casa, ou seja, revise a tese do fundo e avalie se o mesmo perdeu fundamentos.
âIsto é, faça uma análise do ativo de modo completo, relembre as razões pelas quais entrou no fundo e os princÃpios que delinearam o investimentoâ, orienta. âCaso esses fundamentos persistam, segue o jogo; talvez seja oportunidade de aporte a preços descontadosâ, sugere.
Já em caso de perda de fundamentos, a venda do fundo â mesmo com prejuÃzo â deve ser considerada, diz o especialista.
âCaso tenha perdido fundamentos, o ideal é que o investidor venda o fundo e amargue aquele prejuÃzo, mas realoque os recursos em outro ativo mais consistenteâ, pontua.
Outra opção comum entre investidores com aversão à perda, acrescenta Sanches, é deixar o ativo em âquarentenaâ, ou seja, sem novos aportes. Desta forma, a participação do fundo na carteira vai naturalmente ficando marginal, completa.
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