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Boa parte dos agentes do mercado cripto aposta que a aprovação de um ETF (fundo de índice) à vista de Bitcoin (BTC) nos Estados Unidos pode levar o preço da criptomoeda para as alturas, pois atrairia capital institucional e de varejo. A narrativa, no entanto, não é unânime, e há quem diga que o lançamento do produto possa ser um evento “buy the rumor, sell the news” (compre no boato, venda no fato).
Esse padrão sugere que antes de um anúncio significativo, traders e investidores podem comprar ou acumular posições de um ativo, fazendo o valor subir – o BTC, por exemplo, já valorizou quase 125% no ano, puxado principalmente pelo otimismo com o ETF. Quando o fato que motivou a alta ocorre, no entanto, o mercado tende a desfazer posições, gerando liquidação e queda de preços.
Se depender do histórico do ativo digital, a tese do “compre no boato, venda no fato” tem certo peso. Em 2017, antes de a CME, bolsa de derivativos de Chicago, listar os primeiros ETFs de futuros de Bitcoin, muita gente dizia que o episódio faria a criptomoeda decolar. O preço subiu quase 2.500% no ano anterior ao dia 17 de dezembro daquele ano, quando ocorreu a listagem. A partir de então, no entanto, o BTC entrou em uma espiral de queda de 84%, que só foi revertida um ano depois.
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O mesmo aconteceu na época em que a exchange norte-americana Coinbase abriu capital na bolsa. O BTC subiu quase 900% nos 12 meses que antecederam a oferta de papéis da empresa na Nasdaq, mas desabou 76% no ano seguinte. “Essa máxima (buy the rumor, sell the news) funcionou literalmente perfeitamente nos dois últimos grandes anúncios regulatórios em nosso espaço”, disse Dan Morehead, sócio e fundador do fundo de hedge especializado em criptoativos Pantera Capital, em nota.
ETF de Bitcoin é diferente
Para Morehead, no entanto, o cenário atual é diferente. Na nota, ele falou que os ETFs de futuros do Bitcoin não atraíram novos grupos significativos de investidores porque os produtos foram direcionados a um nicho pequeno, como os traders de arbitragem. O ETF à vista, por outro lado, tem possibilidade de atrair interesse, em especial por causa do peso das casas que buscam lançar o produto, como a gestora BlackRock.
No mês passado, a gigante dos investimentos, que tem sob gestão quase US$ 9 trilhões em ativos, listou o ticker de seu ETF de Bitcoin, o iShares Bitcoin Trust, no Depository Trust & Clearing Corp (DTCC), empresa que presta serviços de compensações para a Nasdaq. O movimento fez o BTC disparar 15% em um dia.
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Já a abertura de capital da Coinbase, falou Morehead, também não teve grande impacto na indústria, porque antes e após da listagem a exchange cripto funcionava da mesma maneira. Na prática, portanto, a mudança na propriedade das ações da corretora não fez nada para aumentar o acesso da população ao Bitcoin e às outras criptomoedas.
Morehead defende que o hype atual em torno do ETF à vista de BTC é mais parecido com o lançamento do primeiro ETF de ouro nos Estados Unidos, em 2003, que atraiu investidores que desejavam investir na commodity, mas até então não faziam isso por causa da dificuldade de manter o produto físico. O mesmo vale para o BTC – muitos investidores ainda acham complicado fazer a própria custódia de moedas digitais, por isso recorrem a exchanges, fundos ou ETFs.
“Há 20 anos, os lançamentos de ETFs (de ouro) tiveram um efeito legitimador na ideia de alocação da commodity do portfólio. Esperamos que a presença das marcas mais respeitadas da área de finanças ao consumidor na primeira onda de ETFs de Bitcoin tenha um impacto semelhante”, disse. “A curva de demanda por BTC provavelmente mudará permanentemente quando os investidores tiverem essa opção”.
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Mas risco existe
Theodoro Fleury, gestor da QR Asset Management, disse que, dada a valorização superior de 100% no ano do BTC e a possibilidade de aprovação de um ETF nos próximos meses, é natural que surjam temores de um evento sell the news. De acordo com especialistas da Bloomberg Intelligence, é provável que a Comissão de Valores Mobiliários, a SEC, aprove um primeiro lote de fundos de índice da moeda digital no início de 2024.
Segundo Fleury, o risco de o ETF se encaixar no padrão realmente existe. Se ocorrer, no entanto, será por um curto período de tempo, falou.
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“Acredito que se um movimento dessa natureza ocorrer, deverá ser algo passageiro, de curto prazo. Além de ser uma inovação importante que permitirá o acesso de grandes investidores institucionais a esse mercado, as instituições que estão se propondo a lançar esses ETFs são gigantes do mercado tradicional, sugerindo um fluxo de liquidez abundante e até então inexistente no ecossistema.”
Ele disse ainda que a injeção de recursos chega em um momento de restrição “brutal” na oferta do BTC por causa do halving (evento que corta pela metade a emissão de BTC, previsto para ocorrer em abril de 2024) e devido a um alto percentual da oferta de BTC não se movimentar na rede blockchain. “Isso indica que os grandes holders do ativo (usuários que mantêm as criptos em vez de vender) não estão dispostos a se desfazer de suas moedas nos níveis atuais de preço, aumentando a escassez de um ativo com oferta já bastante restrita”.
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