Sanepar desaba 11% após proposta de revisão tarifária, mas analistas reiteram otimismo

Variáveis de ajuste tarifário foram consideradas positivas, mas diferimento em 8 anos e elevação inicial decepcionaram

Lara Rizério

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SÃO PAULO – A Agepar (Agência Reguladora do Paraná) informou na última quarta-feira (8) a proposta de aumento tarifária para a Sanepar (SAPR4) a ser discutida em consulta pública, tido como um dos grandes catalisadores para a companhia em março. Os principais parâmetros são o aumento de 25,63% na tarifa com diferimento em oito anos, ajustado pela Selic. o aumento inicial é de 5,7% em 2017. A notícia parece não ter agradado o mercado.

Às 11h46 ((horário de Brasília) desta quinta-feira (9), as ações da empresa paranaense de saneamento desabavam 10,41%, a R$ 12,14, tendo chegado a cair 11,5% na mínima do dia. O volume negociado com as ações na Bolsa impressiona: nestes 90 minutos de pregão, R$ 81 milhões já foram movimentados com SAPR4, já superando os R$ 60 milhões que ela costuma movimentar em um dia inteiro de negócios, segundo cálculo da média dos últimos 21 pregões.

Apesar da derrocada das ações, os analistas que acompanham a Sanepar reforçavam otimismo com o papel mesmo após a notícia. Em relatório divulgado antes da abertura da Bovespa, o BTG Pactual destacou que as variáveis do acordo foram melhores do que as esperadas, mas o diferimento pode levar a uma carga maior para o reajuste nos próximos governos do estado de Paraná, o que aumenta os riscos para os investidores – isso por que os reajustes acontecerão em duas etapas nos próximos 8 anos, o que fica exposto às “vontades” dos próximos governadores.

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“No geral, número de base veio bom e o WACC (custo médio ponderado de capital, na sigla em inglês) também, o que levou a um reajuste tarifário de 25,63%. Porém o que gerou ruído é a forma que irá ocorrer: virá 5,7% de aumento agora e o restante ao longo de dois ciclos ajustado por Selic. Como é reajustado por Selic, o impacto no fluxo de caixa descontado é pequeno, mas o problema é que gera uma incerteza grande para os próximos anos, uma vez que teremos duas eleições nesse período e os reajustes para os próximos anos deverão ser altos”, disse o BTG em nota enviada aos clientes. O banco lembra que vai ser aberta uma consulta pública nesta sexta-feira (10) e vai até o dia 22. Depois disso, ocorrerá uma audiência pública dia 24 de março.

O Bradesco BBI também destaca que há uma decepção dos investidores sobre a proposta de diferimento mais longo de 8 anos (corrigido por Selic) e a baixa magnitude do primeiro aumento em 2017. Os analistas do Bradesco não gostaram do modesto aumento inicial das tarifas e destacam que isso será um dos focos da audiência pública uma vez que parece não haver base técnica. Contudo, o impacto desses parâmetros no NPV (Valor Presente Líquido, na sigla em inglês) é praticamente neutro, de queda de R$ 0,60 por ação. Com isso, os analistas seguem bem positivos com o case. 

Em meio a esse cenário, o banco revisou para baixo o preço-alvo das ações da Sanepar para R$ 21,00 (ante R$24,00), ainda com 55% de em relação ao fechamento de quarta-feira. A queda de R$ 3 por ação no preço-alvo é dividida em: R$ 0,60 pelo diferimento e R$ 2,40 pelo aumento da taxa de desconto em 200 pontos-base (para 10,5%), que reflete um aumento de risco regulatório. Com o potencial ainda expressivo de alta, os analistas do Bradesco seguem com recomendação de compra para os papéis. 

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No primeiro dos três testes da Sanepar em março, a empresa foi “reprovada” no mercado, mas as ações ainda acumulam forte alta em 2017 (+14,7%). Vale ficar de olho nos próximos passos da revisão tarifária da companhia – a consulta pública entre os dias 10 e 22 e a audiência no dia 24 do mês.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.