Richard Teng: o executivo que pode assumir império da Binance após novo revés com reguladores

Fontes ouvidas pela Bloomberg afirmam que Teng é o mais cotado para substituir "CZ" à frente da maior bolsa de criptoativos do mundo

Bloomberg

Richard Teng (Bloomberg)

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Se você acompanha o mercado de criptomoedas deverá se acostumar em breve com o nome de Richard Teng, o mais cotado para substituir Changpeng “CZ” Zhao, o sino-canadense fundador e CEO da Binance, que pode estar próximo de deixar o comando da maior bolsa de ativos digitais do mundo.

De acordo com pessoas com conhecimento do assunto, Teng surgiu como o favorito para assumir o cargo de diretor-executivo caso Zhao renuncie a essa posição.

A sucessão na Binance ganhou maior urgência em meio à pressão de reguladores dos EUA sobre a companhia nos últimos meses. A Commodity and Futures Trade Commission (CFTC) processou a Binance e Zhao no final de março pela suposta violação dos regulamentos de derivativos.

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Já nesta segunda-feira (5), a Securities and Exchange Comission (SEC) também ingressou com um processo contra a empresa e o executivo, alegando desrespeito às regras de proteção ao investidor, deturpar os controles de negociação e vender títulos não registrados, entre outras violações.

A Binance não respondeu aos pedidos de comentários sobre a sucessão. Zhao contestou a caracterização de muitas das questões alegadas pela CFTC.

Missão difícil

As negociações na Binance ainda superam todas as outras principais exchanges de criptomoedas combinadas, mas nunca sua posição pareceu tão ameaçada.

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Pelo menos quatro agências federais dos EUA estão investigando ou abrindo procedimentos contra a empresa, e reguladores no Canadá e na Austrália estão colocando lupa sobre seus negócios. Até mesmo Dubai, onde vive Zhao e visto como um pólo cripto, intensificou o escrutínio das empresas que pedem licenças, incluindo a Binance.

Dois meses antes de a Binance Australia dizer que o provedor de soluções de pagamentos Cuscal removeu o suporte aos serviços de depósito em dólares australianos, um parceiro bancário do Reino Unido parou de fornecer suporte à exchange para transações em libras esterlinas.

Este é o ambiente sombrio no qual Teng, um cingapuriano de 52 anos, foi lançado após uma ascensão meteórica em menos de dois anos na Binance. No final de maio, Zhao o nomeou chefe de todos os mercados regionais fora dos EUA, que são administrados como uma entidade separada.

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A aposta aparente: o currículo de Teng, com cargos seniores no banco central de Cingapura e na zona de livre comércio internacional de Abu Dhabi, faz dele o candidato ideal para ajudar a conduzir a Binance durante o furacão regulatório que a atinge.

A nomeação de Teng “marca as caixinhas de confiança”, disse Campbell Harvey, professor de finanças da Duke University. “A Binance está sinalizando que deseja trabalhar com os reguladores”.

Campo minado

Os processos da CFTC e da SEC são talvez o desafio regulatório mais iminente para a Binance, mas estão longe de ser os únicos. O Departamento de Justiça dos EUA está investigando se a plataforma foi usada ilegalmente para permitir que os russos contornassem as sanções dos EUA e movimentassem dinheiro, informou a Bloomberg no início de maio.

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A Binance também anunciou em maio que planeja sair do Canadá dois meses depois que sua afiliada local apresentou a papelada para se comprometer com o registro. A empresa citou novos regulamentos que tornaram o mercado “insustentável” para ela. Atualmente, a empresa trava uma disputa com a Comissão de Valores Mobiliários de Ontário.

Teng trabalhou por 13 anos, até 2017, para o banco central de Cingapura, de acordo com seu perfil no LinkedIn. Depois disso, ele teve passagem pela bolsa de valores de Cingapura, trabalhando como diretor regulador, e depois trabalhou seis anos na Abu Dhabi Global Market. Ele tem mestrado em finanças aplicadas pela University of Western Australia.

Ele ingressou na Binance em agosto de 2021 como CEO de Cingapura e, segundo Zhao, sua contratação foi rápida mesmo para os padrões do setor de criptomoedas.

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Os dois foram apresentados por um funcionário do banco central de Cingapura, disse Zhao via Twitter no dia 31 de maio. “Eles disseram olha, este é Richard, ele é um cara legal”, disse Zhao. “E então eu conversei com ele. Em duas semanas, chegamos a um acordo para contratá-lo”.

Revés em Cingapura

Uma das primeiras tarefas de Teng foi ajudar a Binance a obter uma licença em Cingapura, na época um dos selos de aprovação mais cobiçados em cripto. “Isso realmente não funcionou, mas Richard fez um trabalho fenomenal durante esse processo”, disse Zhao.

A tentativa falhou porque a afiliada da Binance não atendia aos critérios de proteção contra lavagem de dinheiro e financiamento do terrorismo, informou a Bloomberg em janeiro de 2022. A Binance negou na época, dizendo que retirou o pedido por motivos estratégicos e comerciais.

O revés não pareceu prejudicar as perspectivas de Teng na Binance. Em dezembro de 2021, ele foi promovido a chefe do Oriente Médio e Norte da África e assumiu a supervisão da Europa menos de um ano depois, de acordo com seu perfil no LinkedIn. Apenas um mês antes de ocupar seu cargo atual, passou também a comandar os negócios na Ásia. Teng agora vive em Dubai, onde a Binance tem mais de 500 funcionários.

Sai o “criptonativo”, entra o banqueiro

Pelo menos no papel, Teng aparenta ser uma figura muito diferente de Zhao. Ele passou quase duas décadas trabalhando para entidades governamentais. Na bolsa de valores de Cingapura, ele dirigia um grupo que impõe regras em áreas como listagens, negociação e compensação, trabalhando em estreita colaboração com o banco central do país, diz seu perfil no LinkedIn.

Zhao, por sua vez, teve um estilo de vida itinerante por anos depois de fundar a Binance na China, em 2017. Atualmente, ele parece finalmente ter estabelecido residência em Dubai.

Nos últimos anos, sua empresa virou alvo de uma série de medidas e investigações regulatórias, dos EUA à Tailândia. Às vezes, Zhao adotou um tom desafiador ao defender a Binance, argumentando que é difícil trabalhar com reguladores que não compreendem os fundamentos das criptomoedas.

Os contrastes se estendem à forma como os dois homens se expressam publicamente. Zhao, até recentemente um participante regular de eventos do setor cripto que disse ter passado 580 horas voando em 2022, costuma usar o Twitter, onde tem 8,4 milhões de seguidores, para menosprezar as notícias das quais ele não gosta.

Seus tweets incluem regularmente jargões cripto como FUD (sigla em inglês para medo, incerteza e dúvida) e SAFU (uma brincadeira com a palavra “seguro” em inglês, e sigla que dá nome à reserva de emergência da Binance para proteger os ativos dos clientes.

Já Teng é mais roteirizado, preferindo manter as mensagens corporativas sobre a expansão da Binance e marcos regulatórios em várias regiões.

A ascensão de Teng o levou a se juntar a um círculo interno de confidentes de Zhao que inclui He Yi, cofundadora da Binance com quem Zhao tem dois filhos.

Em uma entrevista recente, He, que supervisiona o braço de venture capital de US$ 9 bilhões da Binance, apontou para o histórico regulatório de Teng quando questionada sobre seu crescimento na empresa, mas disse que outras qualidades também contribuíram.

“Acho que ele é um gestor muito experiente e profissional”, disse ela. “Desde que ele se juntou à Binance, seu escopo tem se expandido continuamente, e todos nós gostamos e reconhecemos Richard”.

Além de Teng: de olho no compliance

A recente promoção de Teng não é o único sinal de que a Binance está se preparando para um período de maior escrutínio regulatório, em parte devido ao rápido desaparecimento no ano passado da FTX, a exchange de criptomoedas que foi vista por muitos como a mais potente desafiadora para o domínio da Binance.

O próprio Zhao ajudou a acelerar o fim da FTX quando twittou que a Binance estava despejando o token da FTX, chamado FTT.

No início deste ano, a Binance contratou o ex-diretor de operações da Gemini Trust, Noah Perlman, cujo currículo também inclui um período de seis anos como chefe global de crimes financeiros no Morgan Stanley.

Ele chegou para colocar em prática as operações de compliance, com uma equipe que aumentou para mais de 750 pessoas nos últimos dois anos, disse o diretor de estratégia Patrick Hillmann, em fevereiro.

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