Empresa brasileira cria processo para reciclar plásticos de difícil recuperação

A companhia agora quer ter uma primeira linha de reciclagem 4D de plásticos de múltiplas camadas funcionando na fábrica instalada em Itupeva (SP)

Reuters

Usina de reciclagem de garrafas plásticas em Fernando de Noronha (Reprodução/Instagram/@vozdosoceanos)
Usina de reciclagem de garrafas plásticas em Fernando de Noronha (Reprodução/Instagram/@vozdosoceanos)

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SÃO PAULO (Reuters) – Uma companhia nacional criada há cerca de seis anos anunciou nesta quinta-feira (25) que desenvolveu um processo para reciclagem de plásticos como os usados em embalagens de alimentos e que são atualmente de difícil reaproveitamento, no que espera ser capaz de fomentar um novo mercado para um material que comumente tem descarte inadequado no país.

O chamado polipropileno biorientado (BOPP) é um tipo de filme plástico usado em embalagens de produtos como salgadinhos e que, além das tintas de impressão de rótulo, recebe outras camadas como alumínio e verniz e adesivos que acabam praticamente inutilizando o material para fins de reaproveitamento.

“O grande problema para o meio-ambiente são plásticos flexíveis, que são muito difíceis de serem reciclados. A grande maioria vai para aterro”, disse Marcelo Mason, diretor de sustentabilidade da Deink, a empresa criada em 2017 que desenvolveu um processo de reciclagem do material que batizou de 4D.

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A sigla é uma referência às etapas do processo: delaminação, desmetalização, destintamento e disrupção. Segundo a companhia, que investiu 85 milhões de reais em uma instalação no interior de São Paulo para reciclar plásticos flexíveis de múltiplas camadas, grandes multinacionais de produtos de consumo como a Nestlé estão interessadas na tecnologia.

A empresa começou a partir de um processo de retirada da tinta dos plásticos que o empresário Rogério Mani, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Embalagens Plásticas Flexíveis (Abief), licenciou de pesquisadores da universidade espanhola de Alicante. O plano era ter uma fábrica operando já em 2020, quando o projeto teve de ser adiado em um ano pela pandemia. Mani, fundador da Deink, esteve à frente das operações até 2022 e é atualmente presidente do conselho de administração.

A companhia acabou conseguindo ser acelerada pela Ambev, que indicou um de seus fornecedores, Valgroup, a maior recicladora de plásticos do Brasil, para uma parceria estratégica que incluiu investimento em participação na Deink, disse Mason, sem dar detalhes sobre a fatia.

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A companhia agora quer ter uma primeira linha de reciclagem 4D de plásticos de múltiplas camadas funcionando na fábrica instalada em Itupeva (SP) a partir de junho, com planos para uma segunda linha em breve, dependendo do nível de demanda. No longo prazo, 2030, a companhia estima ter mais oito linhas com a tecnologia não apenas em São Paulo mas em outras regiões do país, disse Mason.

O executivo afirmou que, após ser reciclado, o plástico BOPP gera uma resina que pode ser transformada em filme plástico e que também tem uma série de aplicações incluindo em produção de componentes para linha branca. Essa versatilidade minimiza a limitação do uso em fins alimentícios, por enquanto restrita pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “Mas obter grau alimentício é a grande meta”, afirmou.

“Na Europa, já tem obrigação de uso (de plásticos recicláveis nas embalagens de produtos), com isso as marcas têm que inserir o material reciclado”, afirmou Mason. Segundo ele, isso ajuda na demanda diante do custo atualmente maior do filme reciclado versus o virgem. O executivo, porém, evitou citar valores.

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A Deink já tem patente brasileira sobre o processo e pretende buscar a partir de junho patentes nos Estados Unidos, Europa e Ásia, disse Mason. O executivo acrescentou que o método 4D é uma abordagem híbrida entre processos químicos e mecânicos de reciclagem, com a etapa química sem solventes ocorrendo em ciclo fechado.

A tecnologia pode colocar a companhia como uma rival da indústria de papel, que tem surfado na onda “verde” da substituição de embalagens e plásticos de uso único por suas versões de papel. “A questão do plástico é conseguir fazer com que ele volte para a cadeia e trazer circularidade para estes resíduos”, disse Mason.

“A reciclagem de plástico nos próximos cinco anos tende a crescer exponencialmente”, afirmou.

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Segundo a Deink, o Brasil é o quarto maior produtor de resíduo plástico do mundo, com mais de 2,4 milhões de toneladas de plástico sendo descartadas de forma irregular. No caso do BOPP, o mercado nacional demanda por ano cerca de 170 mil toneladas. Com a abertura da linha 4D em junho, a capacidade de reciclagem da Deink subirá para 25 mil toneladas por ano.

(Por Alberto Alerigi Jr.)