Políticas de dividendos e de preços, compra e venda de ativos: as sinalizações que a Petrobras (PETR4) trouxe após o 1º tri

Investidores saíram de teleconferências de resultados com mais questões do que respostas, com políticas mais concretas sendo divulgadas até julho

Lara Rizério

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O fim da semana passada foi bastante agitado para a Petrobras (PETR3;PETR4), com a divulgação dos resultados do primeiro trimestre de 2023 (1T23) – e mais do que isso, de dividendos que animaram o mercado por manter a política (ainda que por enquanto)  -, além das sinalizações sobre os próximos passos da estatal.

Esta semana também promete ser movimentada. Em destaque, no domingo, a estatal confirmou que está discutindo internamente alterações em suas políticas de preço para diesel e gasolina, que serão analisadas pela diretoria executiva no início da semana e que poderão resultar em uma nova estratégia comercial para definição de preços desses combustíveis. Além disso, rumores sobre o interesse da estatal na fatia à venda da Braskem (BRKM5) pela Novonor também movimentam o mercado. 

Analistas de mercado também monitoram os próximos passos da companhia e seguem cautelosos com as ações, ainda que alguns tenham destacado sinais positivos da primeira teleconferência da nova diretoria com o mercado.

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Especificamente sobre a a notícia de que a Petrobras está discutindo internamente mudanças nas políticas de preços do diesel e da gasolina e que novidades podem ser anunciadas ainda nesta semana, o Goldman Sachs apontou que esta não deve ser uma surpresa para os investidores.

Tanto o governo quanto a nova administração têm falado sobre a possibilidade de mudar a atual política de preços da companhia já faz algum tempo.

Antes do comunicado divulgado no domingo, a Petrobras realizou conferência com a imprensa em que também destacou potenciais mudanças na política de preços de combustíveis. A administração também reforçou que está desenvolvendo uma estratégia comercial que permitirá à empresa tornar-se mais competitiva no mercado nacional. Além disso, destacou que conduzirá o processo de forma racional e o parâmetro-chave seria a criação de valor para a empresa. Por fim, a frequência dos reajustes de preços será significativamente menor do que antes para evitar muita volatilidade no mercado doméstico.

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Durante a coletiva com a imprensa, também foi destacado que pode revisar os preços dos combustíveis na próxima semana. Para referência, os preços do diesel e da gasolina no Brasil estão cerca de 10% acima dos preços internacionais.

O Itaú BBA aponta que o objetivo da empresa é se tornar a melhor opção para o cliente, brigando por participação de mercado, o que provavelmente resultará em preços abaixo da paridade. Se  efetivado, isso pode favorecer os três maiores distribuidores, dadas as melhores condições associadas aos seus significativos e duradouros relacionamentos com a Petrobras, bem como a redução da concorrência relacionada à queda dos volumes importados por players independentes após a arbitragem ser fechada.

Dividendos

Sobre a política de dividendos, para referência, caso a empresa continue seguindo a fórmula de remuneração de 60% do fluxo de caixa de operações menos o capex para pagamento de dividendos, os analistas estimam uma distribuição potencial de cerca de US$ 3,5 bilhões juntamente com os resultados do 2T23, agendados para 3 de agosto.

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“No entanto, o conselho de administração da empresa determinou que a administração da Petrobras apresentará uma nova política de remuneração a ser discutida e aprovada pelo conselho até 23 de julho (incluindo a possibilidade de criar um programa de recompra de ações). Portanto, reconhecemos a pouca visibilidade do valor dos dividendos que a empresa poderia propor daqui para frente”, avalia.

Em suma, o banco reconhece a melhoria da recompensa de risco após o anúncio pela nova administração e conselho de um dividendo no 1T23 de acordo com a política anterior. Os analistas do Goldman, contudo, seguem com recomendação neutra para a Petrobras, pois a incerteza permanece alta. No entanto, reconhecem que o anúncio de uma nova política de preços, além da revisão do plano estratégico e de uma nova política de dividendos, pode trazer clareza nos próximos meses.

O Itaú BBA aponta que Jean Paul Prates, CEO da companhia, observou que a nova política de dividendos provavelmente pagará menos do que a política atual, mas mais do que o mínimo exigido por lei. Durante a teleconferência de resultados, a empresa destacou ainda que a periodicidade ainda não foi definida.

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Ao comentar sobre a teleconferência com a imprensa realizada na sexta-feira, o Bradesco BBI aponta ter gostado de como o novo CFO, Sergio Caetano Leite, em linha com as gestões anteriores, destacou como a Petrobras contribui significativamente para a sociedade brasileira, tendo pago US$ 12 bilhões em impostos apenas no 1T23 (R$ 60 bilhões).

“Acreditamos que isso ajuda a ‘desvilanizar’ o conceito de dividendos, que auxiliam fortemente as contas fiscais brasileiras junto com os impostos”, aponta.

Posto isso, os analistas acreditam que o mercado aguardará com ansiedade o anúncio da nova política de dividendos, juntamente com o novo plano estratégico. “Este é o próximo evento importante da ação, provavelmente acontecendo em julho/agosto. O plano estratégico fornecerá aos investidores uma ideia de quanto as despesas de capital aumentarão sob a nova administração”, avaliam os analistas do BBI.

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Eles lembram que a nova política de dividendos definirá o quão atraente a Petrobras será do ponto de vista patrimonial, em comparação com pesos pesados como Shell, BP e Equinor. “Essas empresas estão abandonando os combustíveis fósseis e pagando rendimentos atraentes (com recompras) de 10%-12%. Ajustada pelo risco, a Petrobras competirá com esses nomes para atrair investidores brasileiros, latino-americanos e globais”, afirma o BBI, que também segue com recomendação equivalente à neutra para as ações.

Outros pontos para ficar de olho

Na avaliação do JPMorgan, o tom da teleconferência foi construtivo, mas sem muitas novidades, que devem ser divulgadas ao longo dos próximos dois meses e meio.

O Itaú BBA, em relatório chamado  “os próximos movimentos da rainha”, destaca ainda outros pontos para ficar de olho.

A administração reafirmou que os projetos já assinados serão cumpridos pela empresa. “Este é mais um passo positivo para reduzir o risco do fechamento da Potiguar pela 3R RRRP3 porque reforça o compromisso da Petrobras em honrar os contratos firmados”, aponta o BBA.

Ao falar sobre a Vibra (VBBR3), ex BR Distribuidora, e retomada da estatal no segmento de distribuição de combustíveis, a Petrobras afirmou que não pretende propor a judicialização do contrato da marca BR, mas deve discuti-la com a Vibra. Prates continua manifestando descontentamento com a privatização da Vibra e pode eventualmente considerar uma potencial recompra da empresa, dada a ânsia da Petrobras de se aproximar de seus clientes finais.

Já no começo desta semana, outras questões sobre retomada/compra de ativos ganharam força.

A Folha informou nesta segunda que, em conversas reservadas, o presidente da Petrobras, Jean-Paul Prates (PT-RN), afirmou que a estatal avalia exercer o seu direito de preferência e adquirir o controle da Braskem (BRKM5).

Para a petroleira, é preciso buscar uma saída para seu endividamento da Braskem, cujas ações estão desvalorizando diante do nível de endividamento —cerca de seis vezes o lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês), quase o dobro do recomendável.

Interlocutores de Prates ouvidos pelo jornal afirmam que o governo avalia adquirir o controle da petroquímica seguindo a orientação de Lula para ampliar o comando sobre empresas estratégicas. A Petrobras teria caixa suficiente para suportar uma operação desse porte. No entanto, a disposição dos acionistas no momento é oposta. O governo gostaria de resolver essa situação rapidamente e por um preço baixo. Essa operação poderia resultar em aumento dos gastos pela estatal, também desfavorecendo os dividendos.

Durante esta tarde, a Petrobras informou em esclarecimento ao mercado que não está conduzindo nenhuma estruturação de operação de venda no mercado privado e que não houve qualquer decisão da Diretoria Executiva ou do Conselho em relação ao processo de desinvestimento ou de aumento de participação na Braskem mencionadas na matéria. “Nesse sentido, a companhia esclarece que decisões sobre investimentos e desinvestimentos são pautadas em análises criteriosas e estudos técnicos, em observância às práticas de governança e os procedimentos internos aplicáveis. Fatos julgados relevantes sobre o tema serão tempestivamente divulgados ao mercado”, complementou.

Com tantas pendências ainda no radar da companhia, analistas, em sua maioria, mantêm recomendação equivalente à neutra para os ADRs (recibo de ações negociado na Bolsa de Nova York) PBR (equivalente a ON), de acordo com analistas consultados pela Refinitiv. De treze casas, três recomendam compra, nove têm recomendação de manutenção e uma recomenda venda.

Enquanto isso, após duas sessões de ganhos entre quinta e sexta em meio ao ânimo com os dividendos mantidos no 1T23, as ações caem nesta segunda, com investidores atentos aos próximos passos da estatal.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.