Publicidade
Depois de registrar fortes ganhos de 9,17% em junho, o Ibovespa entra nos seus últimos dias do mês de julho de lado. O benchmark da Bolsa brasileira encerrou a sessão da véspera a 118.082 pontos, mostrando estabilidade frente o fechamento de junho, de 118.087 pontos, com os investidores em compasso de espera.
Para entender o que leva a Bolsa de lado em julho, é importante entender o que a levou a uma alta acumulada anteriormente, de 7,61% no primeiro semestre.
Fernando Fontoura, gestor da Persevera Asset Management, aponta que o rali que a Bolsa teve nos últimos meses veio da percepção de que o ambiente polÃtico estava mostrando melhora, com avanço nas reformas.
Continua depois da publicidade
Após um inÃcio de governo conturbado, com diversas declarações e movimentações antimercado, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), começou a se mostrar mais pragmático do que o esperado. Não à toa, de acordo com uma pesquisa da Quaest, o polÃtico ganhou aprovação de boa parte do mercado, com 65% dos gestores avaliando seu trabalho de forma positiva.
Fora isso, o especialista também destaca a questão a postergação da recessão mundial. O recuo da economia, por conta da alta dos juros mundo afora, já está há algum tempo no radar – mas até então não saiu do papel.
âNa hora que teve essa melhora, mesmo que bem marginal nas duas frentes, foram grandes os ganhos. O pessoal começou a correr atrás, o técnico estava muito desfavorávelâ, diz, em menção aos valuations descontados. âSó que, na maneira que a gente interpreta, esse alÃvio está, por enquanto, sem combustÃvelâ.
Alexandre Mathias, CEO da Kilima Asset, também chama a atenção para os dois fatores, mas traz uma visão de que é possÃvel que o tanque do Ibovespa “seja reabastecido”. Ou seja, que mais esteja por vir.
Compasso de espera
No polÃtico, o especialista menciona que o perÃodo de recesso do Congresso esfria o noticiário e acaba ajudando o Ibovespa a ficar onde está. Com as discussões da reforma tributária – tanto na frente de consumo como na de renda – e do arcabouço fiscal ainda a passos lentos há, de acordo com ele, uma série de ânuvens de incertezasâ sobre o mercado brasileiro.
âHá toda a questão tributária, seja com o impacto final sobre o setor de consumo, seja o que vai vai vir nos impostos diretos, em termos de JCP e dividendos. Isso segura alguns papéis importantes, especialmente no setor bancárioâ, menciona o CEO da Kilima. âEnxergamos, contudo, isso se resolvendo daqui para o final do ano e com o mercado avançando, com o Ibovespa podendo romper a barreira dos 130 mil pontosâ, fala, com tom de otimismo.
Continua depois da publicidade
Já quando o assunto é Estados Unidos, os fluxos estrangeiros para o Brasil teriam secado após o Federal Reserve sinalizar novas altas da fed funds no começo do mês. Neste sentido, há uma reunião da instituição monetária na próxima semana.
âA gente acha que o próximo aumento será o último. Se isso se confirmar, há uma possibilidade de alta para o Ibovespaâ, comenta o especialista da Kilima. âFora isso, as férias no hemisfério Norte derrubam as negociações. Podemos ter, depois desses eventos, algum fôlego”.
Inflação, juros e Ibovespa
Fora juros nos Estados Unidos e polÃtica interna, a dinâmica entre inflação e juros brasileiros também segue no centro da discussão quando o assunto é Bolsa brasileira.
Continua depois da publicidade
Por enquanto, a maior parte dos investidores acredita que o Banco Central brasileiro começará a derrubar a Selic em sua próxima reunião de agosto. As dúvidas, no entanto, ficam mais para como será o inÃcio desse processo e sua intensidade, com baixa de 25 pontos-base ou de 50 pontos-base.
De um lado, dados macroeconômicos vêm mostrando que a economia brasileira está desacelerando, bem como a alta dos preços. à o caso do IBC-Br de junho, por exemplo, que trouxe uma baixa de 2%.
Do outro lado, os núcleos da inflação mostrando preços ainda resilientes por aqui e as incertezas quanto ao juros lá fora, principalmente nos Estados Unidos, são vistas como um empecilho a recuos mais fortes, uma vez que a fed funds acaba impactando na dinâmica das taxas dos outros paÃses.
Continua depois da publicidade
âTemos de ter um inÃcio sustentável do ciclo de corte de juros. Por enquanto, esse começo de corte é só no Brasil. Do lado dos Estados Unidos, há a visão de que o Fed vai retomar o ciclo de alta depois da pausa técnica que eles fizeram. Aà não vemos muita notÃcia positiva, pelo contrário, há a chance de que venha até uma retomada se a economia continuar muito aquecidaâ, fala Fontoura.
O fato de a recessão nos Estados Unidos não ter saÃdo do papel é dúbio – apesar de trazer que a maior economia do mundo está forte, ele também deixa em aberto a possibilidade de novas altas dos juros.
Em um cenário em que a fed funds vá além daquilo projetado até então, o Banco Central brasiliero pode acabar sendo mais conservador em seu corte, o que impactaria, por exemplo, companhias de varejo, de crescimento ou do setor de tecnologia.
Continua depois da publicidade
Fora isso, o especialista da Persevera acredita que um recuo mais fraco dos juros por aqui tende a deixar as pessoas fÃsicas mais tempo longe da Bolsa de valores.
Fluxos locais e estrangeiros
âNossa interpretação aqui é que a pessoa fÃsica só começa a se mexer quando a Selic ‘cair de verdade’. Então, não basta só que os spreads tenham fechado, não basta que a curva longa tenha fechado ou começado a fechar. Esses investidores se mexem de maneira robusta quando se perde aquele patamar de 1% ao mês, que é meio que um número mágicoâ, explica, em referência aos ganhos mensais na renda fixa, que tira atratividade da renda variável. Atualmente, a Selic está em 13,75% ao ano.
O menor otimismo das pessoas fÃsicas pressiona também os institucionais brasileiros. Os fundos locais, apesar da melhora da Bolsa brasileira, ainda vêm sofrendo exageradamente com resgates, apesar de a tendência ter melhorado nos meses de maio e junho.
âApesar da valorização observada entre abril e junho, os fundos locais ainda estão com pressão de resgates, e o nÃvel de alocação em ações desses fundos ainda se encontra em nÃveis baixos se comparados ao padrão histórico. à natural esperar uma reversão dessa tendência, e com ela, uma nova onda de valorização da bolsa seria possÃvelâ, explica Raphael Castilho, sócio do Ãrtica Asset Management.
Matheus Sanches, sócio e analista da Ticker Research, vai no mesmo sentido.
“Acho que a dinâmica vai depender muito da queda de juros e dos próximos dados de inflação, isso principalmente para o juro curto e médio. Para o longo, o próximo ponto seria a questão fiscal, que aà sim passa pela parte polÃtica, que é um pouco mais complicada de prever”, expõe.
“Uma boa parte da melhora do cenário macroeconômico, que passa por avanço das reformas, recuo da inflação e perspectiva de queda de juros, já foi precificada em bolsa. E aà os players, os investidores, nesse nÃvel de preço, sem novos gatilhos, realmente não estão animados o suficiente para trazer um movimento de fluxo”, debate.
China e temporada de balanços
Quanto ao fluxo estrangeiro, os especialistas lembram que a alocação depende muito da trajetória da fed funds, sendo que juros mais altos nos Estados Unidos minguam a alocação de capital em outros paÃses, principalmente nos emergentes, e também da China.
âGlobalmente, o Brasil é visto como muito dependente das commodities e, decorrentemente, da China. E como vemos, o paÃs asiático tem decepcionado, com a reabertura da economia não fazendo muito peso. Como os gringos não estão animados com o China, o fluxo enfraqueceuâ, diz Fernando Fontoura.
Nessa semana, o anúncio de que os estÃmulos do governo chinês para a sua economia seriam focados no consumo desanimaram. Nesse caso, é provável que as companhias de commodities brasileiras, com peso importante no Ibovespa, não ganhem tração e ajudem a segurar a Bolsa onde ela está.
Em relatório, o JPMorgan aponta que, apesar da melhora do mercado brasileiro, o fluxo de investimento estrangeiro ainda é tÃmido.
O banco, contudo, afirma que investidores parecem estar agora em uma âfase de consolidaçãoâ, aguardando a movimentação nas taxas de juros, o que pode, para eles, desencadear grandes fluxos de estrangeiros e impulsionar o mercado para novas máximas.
Mais para o curto prazo, por fim, especialistas chamam a atenção para a temporada de balanços, que acabou de começar.
“Parece que vai ser uma temporada pouco inspiradora. A gente vê ali muito mais uma desaceleração marginal. Não avalio que terá algo muito positivo desse lado”, comenta o gestor da Perservera. “Com resultados piorando, dependendo da situação, as empresas podem sofrer. Então o vetor é a temporada de resultados, no curto prazo. à preciso ver, de fato, como vão ser os números”.
Contudo, olhando mais à frente, o inÃcio efetivo do ciclo de corte de juros por aqui e a volta das atividades no Congresso, com o avanço das reformas, podem ser catalisadores para o mercado mais à frente.
