Assaí (ASAI3) prova resiliência para o mercado e analistas reiteram otimismo após resultados; ações sobem 4,90%

Mínima pressão na margem em meio à expansão da área de vendas provou que empresa tem modelo de negócios resiliente, apontam analistas

Lara Rizério Vitor Azevedo

Uma das unidades do Assaí (Divulgação)
Uma das unidades do Assaí (Divulgação)

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Eficiência nas despesas operacionais levando a uma mínima pressão das margens. Apesar da queda do lucro de 51% no segundo trimestre de 2023 (2T23), analistas de mercado destacaram como positivos os resultados da companhia de redes de atacarejo Assaí (ASAI3), o que impulsionou os papéis na sessão desta quinta-feira (27) mesmo em uma sessão de forte queda para o Ibovespa.

Assim, as ações subiram 4,90%, a R$ 13,50, entre as maiores altas do índice no dia; no acumulado do ano, cabe ressaltar, os papéis ainda caem cerca de 30%.

Conforme aponta o Bradesco BBI, a mínima pressão na margem Ebitda (Ebitda = lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações em relação à receita) do Assaí em meio à maior expansão da área de vendas desde seu IPO em 2021 provou que a empresa tem um modelo de negócios resiliente e operações consistente.

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O lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) ajustado foi de R$ 1,113 bilhão, alta anual de 13,8%. Isso levou a uma queda da margem Ebitda ajustada de 0,4 p.p. (ponto percentual), para 7%.

Assim, a desaceleração nas vendas foi explicada pela menor inflação de alimentos, enquanto a margem Ebitda continua impactada pelas lojas em maturação, mas ainda bastante resiliente.

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Olhando para frente, aponta ainda, a maturação das lojas deve sustentar os R$ 1,6 bilhão de pagamentos “extras” às lojas do Extra.
“As tendências operacionais do 2T23 eram amplamente esperadas pelo Bradesco BBI e pelas estimativas de consenso: SSS (vendas de mesmas lojas) negativo de 1,7% levou a uma desaceleração da receita para um crescimento de 20,3%, de 30,3% no 1T23, enquanto o lucro líquido caiu 51,1% para R$ 156 milhões, impactado por maior despesas financeiras”, avalia.

A XP destacou que o Ebitda ficou 7% acima do que esperava, apontando ser interessante notar que (i) a performance das lojas convertidas estão evoluindo conforme o esperado, tanto em vendas como em margem Ebitda (em 6%); (ii) a companhia divulgou a margem Ebitda considerando o custo de aluguéis (ex. IFRS) de 5,1%, também caindo -0,4 p.p. na base anual; e (iii) o plano de expansão está evoluindo, com 20 lojas em obras.

Como destacado acima, as vendas mesmas lojas vieram negativas em 1,7%, mas melhorando durante o trimestre e atingindo o terreno positivo em junho além de ser acima do Atacadão (-4,3%) pelo terceiro trimestre consecutivo.

“Olhando para rentabilidade, a margem bruta ficou relativamente estável em 16% (-0,1 p.p. na base anual) versus. o Atacadão em 14,9% (+0,8 p.p.), enquanto a margem Ebitda ajustada foi uma surpresa positiva em 7% (+0,5 p.p. acima da projeção da XP) por conta de um forte controle de despesas gerais e administrativas (-8% na base anual). Isso se compara à margem do Atacadão em 5,7%, queda de 1 p.p. na comparação anual.

Já a geração de caixa foi positiva em R$ 1,8 bilhão principalmente puxada por uma melhor dinâmica de capital de giro na linha de fornecedores, enquanto a alavancagem reduziu.

O endividamento medido pela relação dívida líquida/Ebitda caiu para 1,83 vez, impulsionada por uma melhor dinâmica de capital de giro, notadamente em fornecedores até 62 dias.

O Itaú BBA também ressaltou que a margem Ebitda ficou acima do esperado pela casa, em 0,3 ponto porcentual, apesar das despesas relacionadas à expansão. Isso, combinado com juros capitalizados mais altos nas lojas convertidas, resultou em um lucro líquido 20% acima dos seus números.

“A empresa também registrou melhorias no capital de giro no trimestre, resultando em uma geração de caixa decente de R$ 1,1 bilhão no período (ou R$ 400 milhões, considerando o pagamento de R$ 700 milhões relacionados à aquisição das lojas Extra). No geral, apesar das tendências de receita mais fracas, os resultados foram decentes”, com os analistas já esperando uma reação positiva das ações no pregão.

Analistas recomendam compra para a ação

Com a ação negociada a 12 vezes o lucro por ação de 2024, o BBA manteve recomendação de “compra” para ASAI3, com preço-alvo de R$ 16 ao fim de 2023 (potencial de valorização, ou upside, de 24% frente o fechamento da véspera). O Bradesco BBI também tem a mesma recomendação, com “target” de R$ 19 para o mesmo período (upside de 48%).

A Eleven também reiterou compra para o ativo com preço-alvo de R$ 19. “Ainda que com um momento mais desafiador no curto prazo, com a desaceleração na inflação de alimentos impactando as receitas e a maior pressão no resultado financeiro, vemos a companhia entregando resultados resilientes,
com aumento de rentabilidade das lojas convertidas, o que aliados a um valuation atrativo e um sólido histórico de execução nos leva a reiterar nossa recomendação de compra”, aponta a casa de análise.

A Genial, que possui preço-alvo de R$ 17 para os papéis (upside de 32%), também vê a ação como “barata demais para ser ignorada”, reiterando o papel como top pick do setor.

Executivos do Assaí destacam que ramp up ainda está em andamento

Se as margens do Assaí foram destaques positivos no segundo trimestre, para os diretores da companhia ainda há espaço para mais, conforme a maturação das lojas Extras convertidas continua. “Devemos ter uma evolução das lojas no terceiro e quarto trimestre”, comentou  Belmiro Gomes, diretor executivo do grupo.

Ele lembrou também que o foco em 2022 foi abertura das lojas e que, com essa fase finalizada, a companhia agora focará em galerias, ganhando com aluguel de unidades nos seus espaços. “Trouxe uma receita de R$ 44 milhões e esperamos ao menos dobrar esse valor”, defendeu.

Quanto às vendas mesmas lojas (SSS), que vem sendo pressionada, Gomes minimizou os impactos do aumento da competição, principalmente na região Sudeste, que vem sendo apontada por analistas com alguma constância como ponto negativo na operação da companhia, apesar de aceitar que o fator existe.

“Canibalização existe, principalmente nas lojas de São Paulo e Rio de Janeiro, mas estamos tentando separar o que é canibalização do que é impacto das bases do ano passado”, disse o  CEO. “Mercado, como um todo, foi beneficiado no ano passado pelo fechamento das lojas do Extra. Com o fechamento temporário, teve uma melhora para todo mundo. Parte do recuo do número é, sim, de canibalização, outra é só uma retomada e outra parte também foi causada pelo movimento deflacionário”.

O esperado é que essa frente siga um pouco pressionada no segundo semestre – apesar da perspectiva de que o recuo dos juros e o Desenrola possa dar algum espaço. “População não está consumindo aquilo que gostaria, qualquer alívio deve trazer fluxo para o mercado de alimentação”, comentou Belmiro.

Do outro lado, o Assaí também pontuou que o grupo continua atuando para melhorar margens, agindo nos detalhes e que o fim da conversão das lojas também deve dar espaço nos gastos.

“Temos um acompanhamento diário. Qualquer mil reais, devido ao número de lojas, ganha uma proporção grande. O conjunto da obra, com pequenos avanços, é que traz um controle de despesas. É questão de disciplina”, mencionou Anderson Castilho, diretor de operações. “Não temos visto recuperação de volume (de compras) do ponto de vista do consumidor. As escolhas difíceis dos consumidores para enfrentar o período de inflação do período da pandemia permanecem”, afirmou o CEO.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.