De ação em ação, o investidor enche a carteira. E é para isso que serve o mercado fracionário da B3, a bolsa de valores do Brasil: permitir a compra e a venda de ações de forma unitária.

Nesse ambiente, é possível negociar pequenas quantidades de papéis, o que viabiliza operações com valores reduzidos e, na prática, abre caminho para que o aplicador dê os primeiros passos no mercado acionário.

Para quem está começando ou já tem algum conhecimento da bolsa, as chamadas ações “fracionadas” permitem, por exemplo, diversificar os investimentos sem ocupar uma fatia muito expressiva do patrimônio. Uma alternativa que facilita a vida de quem busca retornos maiores, mas deseja adicionar risco ao portfólio em doses homeopáticas.

Neste guia, você entenderá como funciona o fracionário, saberá a diferença em relação ao mercado regular – no qual as ações são negociadas em lotes mínimos –, e conhecerá um pouco mais desse universo.

Também vai encontrar detalhes com os quais você precisa ficar atento para, por exemplo, não gastar mais do que o necessário e, com isso, prejudicar sua lucratividade.

O que é mercado fracionário

O mercado fracionário da Bolsa é um ambiente que permite a compra e venda de ações em pequenas quantidades – que variam de 1 a 99 unidades.

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O objetivo é viabilizar transações de menor volume financeiro, permitindo também ao investidor fazer aportes periódicos com poucos recursos.

Nesse universo, não existe uma quantidade mínima de ações exigida para cada operação, como acontece no mercado tradicional, em que os papéis são negociados em “lote padrão”.

Como funciona

Todas as ações listadas na bolsa possuem um código, também chamado de ticker, que é usado para realizar as operações. No mercado padrão, ele é composto por quatro letras seguidas de um número. Um exemplo é PETR3, que representa as ações ordinárias (com direito a voto) da Petrobras.

No ambiente fracionário, no entanto, existe uma identificação extra para os papéis. É justamente o acréscimo da letra “F” no fim do código.

No exemplo citado, da Petrobras, o investidor que deseja comprar ou vender ações fracionadas precisa utilizar os códigos PETR3F. Se quiser negociar as ações preferenciais (sem direito a voto e com prioridade na distribuição de dividendos), o código será PETR4F.

Qual a diferença entre mercado fracionário e mercado padrão?

“As regras do mercado fracionário são as mesmas do mercado de lote padrão, com exceção do tamanho do lote e que o código de negociação do instrumento fracionário possui o ‘F’ ao final”, explica Gabriela Shibata, gerente de cash equities da B3.

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Em termos práticos, o fracionário possibilita negociar ações em unidades menores que 100, enquanto no mercado regular as transações são realizadas por meio de lotes, compostos normalmente por 100 papéis cada. É o chamado “lote padrão” ou “mínimo”, que serve de referência para o volume de transações.

Como os ambientes são integrados, um investidor que for adquirindo aos poucos ações de uma companhia pode, quando completar 100 unidades (ou múltiplos de 100), vendê-las de uma só vez como um lote padrão, se desejar.

É importante destacar que, em ambos os casos, os negócios acontecem no chamado “mercado à vista” da Bolsa, no qual as operações são liquidadas em até três dias úteis.

Vale ressaltar ainda que não existe nenhuma diferenciação em termos de direitos para os detentores de ações negociadas nos dois ambientes.

Como comprar ações no mercado fracionário?

Do ponto de vista operacional, as transações no mercado fracionário acontecem da mesma maneira que no ambiente tradicional.

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Para ambos os casos, o investidor precisa ter conta em uma corretora de valores. Se a instituição não for ligada ao banco com o qual já movimenta seu dinheiro, será necessário o cadastro de dados financeiros e o envio de recursos que cubram os custos relativos às operações que deseja realizar.

A partir de então, poderá enviar ordens de compra e venda por telefone, via mesa de operações, ou direto na plataforma eletrônica de negociação da corretora – sistema conhecido como home broker.

Lembrando que, no fracionário, as ações possuem a letra “F” no fim do código de identificação do ativo.

A partir de quanto é possível investir no mercado fracionário?

Não se exige um valor mínimo para negociações no mercado fracionário.

Na prática, porém, como a menor quantidade possível é de 1 ação, o investidor terá que desembolsar pelo menos o equivalente ao preço de mercado do papel fracionado que deseja adquirir, mais as taxas envolvidas – da corretora e da B3.

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Apenas como referência, comprar um único papel listado na Bolsa pode custar de menos de R$ 1 a mais de R$ 100, dependendo da empresa.

Vantagens

Segundo especialistas, um dos pontos positivos do ambiente fracionário é ser a porta de entrada para o investidor que está começando a lidar com ações. A chance de negociar pequenas quantidades amplia o acesso ao mercado acionário, pois não demanda grandes valores.

Além disso, permite que o aplicador vá se familiarizando com o funcionamento da Bolsa, conhecendo os códigos das ações e se acostumando a usar o home broker, por exemplo. Ele poderá notar que os preços oscilam bastante, em razão de diversos fatores, e que escolher uma boa empresa para investir não é tarefa simples.

Outra vantagem do fracionário é a possibilidade de diversificar os investimentos ocupando uma parcela reduzida do patrimônio. Isso porque as ações fracionadas permitem uma margem maior de manobra tanto em volume financeiro como em quantidade de companhias investidas – dado que o desembolso final tende a ser menor em relação ao mercado tradicional.

Com isso, é possível, por exemplo, montar uma carteira com ações de diversas empresas por um valor total mais acessível.

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Desvantagens

Para aproveitar ao máximo as características desse mercado, no entanto, o investidor precisa tomar cuidado com algumas armadilhas. Um dos principais pontos de atenção é o custo operacional, sobretudo com a taxa cobrada pela corretora. Isso porque, dependendo o caso, o gasto proporcional com as operações fracionadas pode até superar o do mercado regular.

Exemplo: existem instituições que adotam o mesmo critério de cobrança, independente do mercado escolhido, enquanto outras trabalham com valores reduzidos para as transações no fracionário.

Se a taxa de corretagem tiver um valor fixo – de R$ 5 por operação, por exemplo –, quem comprar uma única ação terá o mesmo gasto nessa linha de custo do que o cliente que negociar 100, 500 ou mil papéis de uma só vez.

Proporcionalmente, o peso dessa despesa será maior na conta final a ser paga pelo pequeno investidor.

Outra desvantagem a ser considerada é a diferença no preço da ação fracionada em relação ao mercado tradicional, o que os especialistas chamam de “spread” entre os dois ambientes. Isso acontece tanto na compra quanto na venda de um papel e pode ser maior ou menor, dependendo da empresa, das condições de mercado, entre outros fatores.

Um dos fatores que influenciam esse comportamento é justamente o ingrediente liquidez, ou seja, a facilidade de negociação. Em linhas gerais, como os volumes são reduzidos, a tendência é de que no fracionário o vendedor encontre menos interessados em seu ativo, e vice-versa.

Tal realidade é levada em conta pelo mercado e se reflete na precificação dos papéis fracionados.

Rendimento no mercado fracionário

“Uma ação comprada no mercado fracionário é exatamente a mesma adquirida no mercado padrão”, ressalta Gabriela. “Os rendimentos ou proventos recebidos são sempre proporcionais à quantidade de ações que o investidor possui, não há nenhuma diferenciação nesse sentido”.

Ela lembra, no entanto, que embora os papéis transacionados no mercado fracionário ou no regular sejam os mesmos, cada ambiente possui um livro de negociação próprio. “Dessa forma, o preço e quantidade de ofertas que ficam disponíveis são diferentes”.

Com isso, o investidor que deseja operar cinco ou dez ações, por exemplo, pode levar mais tempo para concluir a transação do que se estiver buscando ou ofertando um lote de 100 ou 200 papéis. E essa possível dificuldade para realizar um negócio pode, eventualmente, interferir no resultado que se deseja alcançar com a operação.

Além disso, as taxas pagas ao se realizar a compra ou venda de uma ação devem ser consideradas no cálculo final da rentabilidade do investimento, seja no mercado fracionário ou no regular.

“São os pontos de atenção que o investidor deve ter em relação a qualquer tipo de produto e não necessariamente olhando exclusivamente para o fracionário: ter conhecimento da operação que está fazendo, mapear os riscos envolvidos e buscar sempre o aprimoramento educacional”, afirma Gabriela.

De acordo com ela, a Bolsa conta com uma plataforma, chamada Hub B3, na qual existe uma série de treinamentos para apoiar os interessados no mercado de ações.