Sempre que os juros das aplicações de renda fixa caem e perdem a atratividade, os fundos multimercado aparecem como uma alternativa mais rentável. Essas carteiras costumam ser vistas como um passo à frente na escala de sofisticação dos investimentos.
A razão é o fato de essas carteiras permitirem que o gestor adote uma variedade enorme de estratégias, inclusive alavancagem. E é justamente a flexibilidade que é considerada uma das características mais interessantes dos multimercados.
Se você já ouviu falar de fundos multimercados, mas nunca criou coragem para começar a investir, esse guia é para você. Tire suas dúvidas agora mesmo para investir com conhecimento e segurança:
O que são fundos multimercado?
É fácil saber em que investem os fundos de ações ou de renda fixa. Seus nomes já indicam que ativos predominam na carteira. Nos fundos multimercados, contudo, é diferente: eles se caracterizam exatamente por uma política de investimentos que envolve vários fatores de risco, sem o compromisso de concentração em nenhum deles.
Os multimercados podem aplicar em diferentes mercados (renda fixa, câmbio e, ações, entre outros), além de usar derivativos para alavancagem (técnica que se assemelha a um endividamento, com o objetivo de maximizar a rentabilidade) ou para proteção da carteira. Eles preveem uma maior liberdade de gestão e buscam oferecer aos investidores um rendimento mais alto que em aplicações conservadoras.
Como funciona um fundo multimercado?
Assim como outros tipos de fundos, os multimercados representam uma opção de investimento em conjunto, que reúne recursos de vários investidores para que sejam aplicados ao mesmo tempo no mercado financeiro e de capitais. Os ganhos (e as perdas) são compartilhados pelos participantes, na proporção do valor depositado por eles.
As decisões sobre o que fazer com o dinheiro dos investidores seguem políticas prée-definidas e são tomadas por um gestor profissional. As cotas dos multimercados valorizam quando as aplicações dão certo e desvalorizam quando são malsucedidas.
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Rendimento
Normalmente, os investidores consideram os fundos de renda fixa como opções conservadoras de investimentos e os de ações, como opções arrojadas. Os multimercados costumam ser vistos como alternativas no meio do caminho – tanto quando o assunto é risco, como também quando é o potencial de retorno.
Como podem realizar aplicações em mercados de renda variável, os multimercados têm um potencial de ganho maior que o da renda fixa.
Graças à flexibilidade permitida aos multimercados, que podem realizar aplicações tanto de renda fixa quanto de renda variável, há uma variedade enorme de padrões de rentabilidade. Em um mesmo ano, é possível que alguns fundos apresentem um retorno duas ou três vezes superior ao de outros da mesma categoria. A previsibilidade do rendimento, portanto, é bem menor do que em outros tipos de carteiras.
Resgate
Os multimercados podem ter regras bem específicas e diferentes de outros tipos de fundos na hora de sacar o dinheiro. Não é raro, por exemplo, que prevejam um prazo de carência (um período, depois da data da aplicação, em que não é possível retirar os recursos).
Fora isso, seus regulamentos também podem prever estabelecer prazos longos de resgate das cotas. Os documentos do fundo precisam especificar qual é a data de conversão (quando o cálculo do valor das cotas será feito para o pagamento do resgate), além da data de pagamento (quando os recursos serão efetivamente disponibilizados ao investidor).
Para entender melhor, imagine um fundo que tenha a data de conversão em D+1. Significa dizer que o cálculo do valor das cotas usado como referência para o pagamento do resgate será um dia útil após a data em que o resgate foi pedido. Assim, na data de conversão, as cotas podem ter um valor diferente da data do pedido do resgate. Suponha que a data de pagamento desse mesmo fundo seja em D+3. Nesse caso, o depósito do dinheiro será feito três dias úteis depois.
Nos multimercados, é comum que esses prazos sejam maiores, já que muitas vezes eles aplicam em títulos difíceis de negociar, como papéis de crédito privado ou ações com pouca liquidez. Nesse caso, as carteiras podem precisar de mais tempo e o pagamento pode acontecer em D+10, D+30 ou até D+90.
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Custos
A facilidade de dispor de um gestor escolhendo as melhores aplicações tem um custo. Nos multimercados, são cobradas taxas para remunerar as instituições envolvidas na administração da carteira. Por que isso é importante para o investidor? Porque as taxas têm um impacto direto sobre o retorno da aplicação. Quanto mais altas forem, menor será a rentabilidade líquida que pode ser obtida.
O principal custo é a taxa de administração, que existe em todos os fundos e incide sobre o patrimônio mantido pelo investidor. A taxa é divulgada como um percentual anual, mas a cobrança não é feita de uma vez só – e, sim, diariamente, de maneira proporcional.
Outro custo que é comum nos multimercados é a taxa de performance. Essa remuneração é baseada nos resultados e equivale a um bônus pago ao gestor se ele entregar uma rentabilidade superior à de um índice de referência. Imagine um fundo que siga a taxa do CDI e cobre taxa de performance de 20%. Significa que 20% da rentabilidade que ultrapassar o benchmark serão pagos ao gestor.
Tributação
A maior parte dos multimercados são tributados como os fundos de renda fixa . Dois impostos podem incidir: IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) e Imposto de Renda. O IOF é cobrado apenas se o resgate do investimento for realizado em um período menor que 30 dias a partir da aplicação. A alíquota sobre o rendimento varia de 96% a 0%, segundo o prazo.
O Imposto de Renda também incide sobre a rentabilidade dos multimercados, seguindo uma tabela regressiva de alíquotas. Isso significa que, quanto maior os tempo pelo qual o dinheiro permanecer aplicado, menor será a taxa paga ao governo.
Mas qual é a alíquota que incide em cada multimercado? Depende do grupo em que o fundo estiver enquadrado. Para efeito de tributação, as carteiras podem ser consideradas de curto prazo (formadas por papéis com vencimento abaixo de 365 dias, em média) ou longo prazo (compostas por papéis com vencimento acima de 365 dias, em média).
A tributação dos fundos de curto segue a seguinte tabela de alíquotas regressivas:
Fundos de curto prazo | |
Até 180 dias de aplicação | 22,5% |
Acima de 180 dias de aplicação | 20% |
Já a tabela de alíquotas regressivas para os fundos de longo prazo é essa:
Fundos de longo prazo | |
Até 180 dias de aplicação | 22,5% |
De 180 a 360 dias de aplicação | 20% |
De 361 a 720 dias de aplicação | 17,5% |
Acima de 720 dias de aplicação | 15% |
Ao contrário de outros tipos de aplicações, em que a tributação ocorre apenas na hora do resgate, a cobrança de Imposto de Renda nos multimercados é semestral. No último dia útil dos meses de maio e novembro, os administradores calculam quanto os investidores devem de imposto, considerando a menor alíquota de cada categoria (curto ou longo prazo). Esse sistema é conhecido como “come-cotas”, porque a cobrança é feita a partir do recolhimento de cotas do fundo.
Se o investidor quiser resgatar os recursos do fundo em um período menor, em que as alíquotas de IR seriam maiores do que as recolhidas pelo come-cotas, a diferença entre o que foi pago e o que resta acertar é retida pelo administrador na hora do saque.
Embora, em regra, os multimercados sejam tributados como fundos de renda fixa, existem algumas exceções. Alguns fundos que possuem grandes posições no mercado de ações podem ser enquadrados, para fins tributários, como fundos de ações. Para isso, é preciso que dois terços do patrimônio líquido estejam alocados em ações.
Esse pode ser o caso de multimercados long biased ou long and short, por exemplo. Há vantagens nesse enquadramento diferenciado. A primeira é a alíquota aplicada, que é sempre de 15%, não importa o prazo da aplicação. A segunda é que os fundos de ações não têm incidência de come-cotas.
Leia também:
• Como declarar Fundos de Investimento no Imposto de Renda
Tipo de fundos multimercado
Graças à flexibilidade garantida aos multimercados, existe uma enorme variedade de estratégias de investimentos entre eles. Por isso, a Anbima criou uma classificação que agrupa os fundos de acordo com suas características principais.
Balanceados: Adotam uma estratégia de alocação pré-determinada, especificando o mix de investimentos nas diversas classes de ativos, incluindo deslocamentos táticos e políticas de rebalanceamento explícitas. O benchmark deve acompanhar a composição desse mix, o que significa que seu desempenho não deve ser comparado a uma única classe de ativos (CDI, por exemplo). Não admitem alavancagem.
Dinâmicos: Adotam uma estratégia de alocação, mas não se comprometem com um mix pré-determinado de ativos – são mais flexíveis que os balanceados, podendo reagir às condições de mercado e ao horizonte de investimento. Admitem alavancagem.
Livre: Os fundos livres não têm um compromisso de concentração em uma estratégia específica de investimento. Por incluir uma variedade de possibilidades, essa categoria costuma ser uma das que têm maior volume de investimentos entre todos os multimercados.
Macro: São chamados assim os fundos multimercados que realizam operações utilizando estratégias de investimento baseadas em cenários macroeconômicos de médio e longo prazos.
Trading: Fundos que exploram oportunidades de ganhos a partir de movimentos de curto prazo nos preços dos ativos.
Long and Short – direcional: Fazem operações de ativos e derivativos ligados ao mercado de renda variável, montando posições compradas e vendidas e buscando resultado com a diferença dessas posições.
Long and Short – neutro: Também montam posições compradas e vendidas com ativos e derivativos ligados ao mercado de renda variável, mas têm o objetivo de manter a exposição financeira líquida limitada a 5%.
Juros e moedas: Buscam retorno no longo prazo com investimentos em ativos de renda fixa com risco de juros, risco de índice de preço e risco de moeda estrangeira. Não têm exposição a ativos de renda variável como ações.
Capital protegido: Fundos que buscam retornos em mercados de risco procurando proteger, parcial ou totalmente, o principal investido.
Estratégia específica: Adotam estratégia de investimento que implique riscos específicos, tais como commodities ou futuro de índice.
Investimento no exterior: Para receberem essa classificação, os fundos multimercados devem investir pelo menos 40% do patrimônio líquido em ativos financeiros no exterior. Também são uma das maiores categorias de fundos multimercados.
Vantagens e desvantagens dos fundos multimercado
Assim como outros tipos de investimentos, os multimercados envolvem vantagens e desvantagens. Conheça as principais abaixo:
• O investidor pode ter acesso a uma carteira diversificada de ativos de diferentes classes fazendo um só investimento;
• O investidor pode contar com a gestão de um profissional especializado;
• A flexibilidade dos fundos multimercados, que não precisam se ater a uma única estratégia de investimentos, possibilitam que o gestor mude rapidamente de aplicação caso perceba que ela não está funcionando;
• Pela mesma razão, o gestor também pode acrescentar novos ativos que estejam com uma performance positiva em um dado momento, ampliando os ganhos da carteira;
• Como aplicam em uma variedade de ativos, alguns deles com pouca liquidez, os prazos de resgate dos multimercados podem ser mais longos que os de outros fundos. O investidor pode encontrar dificuldades caso precise de dinheiro na hora;
• Multimercados que realizem operações de alavancagem podem apresentar uma volatilidade elevada no valor das suas cotas. Assim como têm um potencial de ganho ampliado, as perdas também podem ser significativas.
Quando vale a pena investir em fundos multimercado?
Os multimercados normalmente são indicados para quem está procurando diversificar os investimentos em busca de mais rentabilidade – ainda que não tenha um valor expressivo para aplicar – e está disposto a aceitar mais risco.
Fundos com alto nível de volatilidade são opções melhores para objetivos de investimento de longo prazo, entre outras razões porque eles costumam prever prazos de resgate maiores. Podem ser uma alternativa para as economias que servirão para comprar um imóvel em alguns anos, por exemplo.
Se o investidor prevê precisar do dinheiro em menos tempo – para trocar de carro no fim do ano, por exemplo –, deve procurar multimercados com menor volatilidade. Talvez seja melhor procurar alternativas mais conservadoras para recursos que exigem um grau de liquidez elevado (como sua reserva de emergência).
Como escolher e investir em fundos multimercado
Entender como os multimercados funcionam despertou sua vontade de investir? Então fique atento aos itens abaixo na hora de escolher a carteira em que pretende aplicar:
1. Encontre a classificação de risco do fundo
O nível de risco dos multimercados varia de acordo com a estratégia de investimento adotada em cada um e também com os tipos de ativos incluídos na carteira.
Uma característica importante dos multimercados é o fato de que não precisam se sujeitar aos limites de concentração por emissor para investir em alguns ativos, como ações. Respeitar esses limites são uma exigência para os fundos em geral.
Para ficarem livres para concentrar as aplicações, os multimercados devem prever essa possibilidade expressamente no regulamento e no termo de adesão disponibilizados aos investidores. Um alerta de que o fundo pode estar exposto a uma significativa concentração em ativos financeiros de poucos emissores, com os riscos decorrentes, precisa estar presente.
2. Verifique se a aplicação mínima se encaixa no seu bolso
Comece verificando qual é a aplicação inicial dos multimercados que você estiver avaliando – ou seja, o valor mínimo que o investidor deve investir na primeira vez. Essa informação é fundamental para definir se você terá condições de aplicar nos fundos em que está de olho. O valor montante varia muito de acordo com o nível de sofisticação e o risco da carteira.
Fundos voltados para investidores de varejo normalmente têm aplicações iniciais baixas. Em geral, é possível entrar em um deles com valores a partir de R$ 500. Já as carteiras mais sofisticadas podem exigir um valor inicial elevado – de R$ 250 mil, por exemplo.
Atente para o fato de que certos fundos multimercados que envolvam riscos adicionais são voltados apenas para investidores chamados “qualificados”. Um investidor qualificado é:
• um investidor profissional;
• um investidor que tenha aplicações superiores a R$ 1 milhão e ateste a condição de investidor qualificado;
• um investidor que tenha sido aprovado em exames de qualificação técnica ou possua certificações aprovadas pela CVM (como a de agente autônomo de investimento, administrador de carteira, analista ou consultor de valores mobiliários);
• um clube de investimento que tenha a carteira gerida por cotistas que sejam considerados investidores qualificados.
3. Analise a performance e rentabilidade
Se você já está habituado a investir, certamente já ouviu essa frase: “A rentabilidade passada não assegura o retorno no futuro”. Isso é verdade, mas não exime o investidor de fazer uma análise do desempenho histórico dos fundos em que pretende aplicar seu dinheiro.
Estudar a performance passada pode ajudar o investidor a identificar como o fundo se comporta em períodos distintos, preparando-o para encarar os altos e baixos das cotas. Também permite avaliar como o gestor se comporta em momentos de crise, por exemplo, o que ajuda a aferir sua competência para o trabalho.
As informações sobre a variação do valor das cotas dos multimercados ficam disponíveis nos sites da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e da Anbima (associação que representa as entidades do mercado de capitais), além de serem publicadas pelos administradores das carteiras.
4. Descubra o benchmark
Verifique o nível de proximidade do desempenho do multimercado com o benchmark que ele utiliza. Benchmark é um indicador usado como referência para a performance da carteira. Ele deve ser condizente com a política de investimento do fundo.
No caso dos multimercados, é comum que utilizem o CDI ou até o Ibovespa (dependendo do caso) sejam utilizados como referência. Comparar a rentabilidade do fundo com a do benchmark adotado pode dar ao investidor uma ideia quanto ao compromisso do gestor com o que promete.
5. Compare o rating dos fundos
Avaliações externas – feitas por casas de análise ou especialistas – são uma referência para quem está procurando investir em um multimercado. Essas instituições costumam considerar fatores objetivos, como rentabilidade e nível de risco, para indicar quais são as melhores carteiras do mercado.
A Morningstar, por exemplo, que é uma empresa de análise americana presente no Brasil desde 2012, elabora um rating de fundos. São atribuídas até cinco estrelas a cada carteira avaliada, com o objetivo de ajudar os investidores a escolher em qual aplicar.
Três aspectos norteiam o rating da Morningstar: as taxas do fundo, a sua rentabilidade em comparação com o CDI e a volatilidade. Para que seja elegível a receber a classificação, a carteira precisa ter pelo menos 36 meses de histórico e um track record de cinco a dez anos. O rating é revisado mensalmente.
O InfoMoney também elabora um ranking anual, o Melhores Fundos InfoMoney-Ibmec, para proporcionar mais uma ferramenta de análise aos investidores.
Além dos multimercados, outros três tipos são acompanhados regularmente: fundos de ações, de renda fixa e imobiliários. Risco e retorno são os dois aspectos avaliados para chegar à classificação final.