Risco de terceira onda: 5 fatos sobre a P.1, variante brasileira do novo coronavírus

Temor de médicos é que variante brasileira do vírus causador da Covid-19 possa saturar sistema de saúde de estados e municípios. Transmissibilidade é maior

Allan Gavioli

(Getty Images)
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SÃO PAULO – No início de 2021, pesquisadores japoneses detectaram uma nova cepa do Sars-CoV-2, vírus causador da Covid-19, em quatro viajantes que vieram do Amazonas e desembarcaram em Tóquio. Segundo as autoridades sanitárias japonesas, a variante continha 12 mutações que ainda não tinham sido identificadas.

A nova cepa brasileira, chamada de P.1, foi elencada junto com as variantes descobertas no Reino Unido e na África do Sul como uma potencial forma mais contagiosa do vírus. O InfoMoney elencou alguns fatos que já sabemos sobre a P.1. Veja mais abaixo:

1 — P.1 se espalhou pelo Brasil e por outros países

A P.1 é vista principalmente no Amazonas: 91% dos casos de Covid-19 foram causadas por essa variante de acordo com material genético sequenciado em janeiro, informa a Agência Brasil. Em dezembro, a mutação estava em 51% dos casos.

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Após mais de um mês após da descoberta da variante brasileira no Japão, porém, a mutação não está mais restrita no Amazonas e foi encontrada em outros estados brasileiros. Bahia, Ceará, Pernambuco, São Paulo, Rio de Janeiro, Roraima, Santa Catarina, Pará e Paraíba foram algumas das regiões que já detectaram a nova cepa em seus habitantes, ainda segundo a Agência Brasil.

O estado de São Paulo já confirmou 25 casos de infectados com a variante de Manaus na última segunda-feira (15). Foram 12 casos em Araraquara, nove casos na capital paulista, três casos em Jaú e um caso em Águas de Lindóia. Dos 25 casos em São Paulo, 16 são de pessoas que não estiveram no Amazonas e nem em contato com quem tenha viajado pela região, o que pode significar que o vírus não esteja mais sendo “importado” e esteja em plena circulação por aqui. No Rio de Janeiro, a Fiocruz identificou quatro casos da P.1 no estado na última terça-feira (16).

Segundo os últimos dados divulgados pelo Ministério da Saúde, na última sexta-feira (12), o Brasil contava com cerca de 170 casos da P.1 em dez estados da federação.

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A P.1 também já foi detectada em diversos países além do Japão e do Brasil. De acordo com a agência italiana de notícias Ansa, Reino Unido, Itália, Alemanha, Coreia do Sul, Irlanda, Índia, Canadá e Holanda são alguns dos países que já registraram casos positivos de infecções pela P.1.

2 — P.1 já causou lockdowns no Brasil

Com risco iminente de colapso no sistema de saúde, a cidade de Araraquara decidiu adotar um lockdown rígido por 15 dias, a partir de 15 de fevereiro, para tentar frear o avanço da nova cepa.

Vale lembrar que a cidade já se encontrava na Fase Vermelha do Plano São Paulo, fase com mais restrições do plano articulado pelo governo do estado para enfrentamento à pandemia e reabertura da economia. Araraquara tem um índice de ocupação de leitos de UTI superior a 95%, segundo a secretaria estadual de saúde.

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3 — P.1 é mais transmissível, mas maior letalidade é discutível

O maior temor dos médicos é que a variante brasileira possa saturar o sistema de saúde de muitos estados e municípios. Isso porque duas mutações dentro da P.1 estão ligadas a maior transmissibilidade e a maior resistência do vírus.

A primeira das mutações, chamada de N501Y, permite que o vírus se encaixe de forma mais firme nas células humanas, o que faz com que seja mais contagioso. Uma segunda mutação, chamada de E484K, torna o vírus mais resistente a anticorpos. Estudos sobre a prevalência de anticorpos após a infecção pela P.1 ainda estão em curso.

Outro dado que tem deixado especialistas preocupados é sobre o poder de reinfecção que a nova cepa possui: quem já foi contaminado por Covid-19 pode ser novamente infectado por essa variante do Sars-CoV-2. Em um texto divulgado no último dia 12 pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), a pesquisadora Paola Cristina Resende ressalta que “é importante lembrar que as novas linhagens já foram associadas a casos de reinfecção no país”.

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Ainda é preciso realizar estudos conclusivos sobre a reinfecção por conta da variante P.1. Um artigo publicado na revista científica The Lancet descreveu ao menos um caso de reinfecção em Manaus, capital do Amazonas, associado à P.1.

Com maiores índices de transmissibilidade, epidemiologistas temem que a P.1 possa se tornar dominante no país, assim como a variante sul-africana na África do Sul.

Apesar dessa maior taxa de transmissão, estudos ainda não determinaram que a variante brasileira possa ter um grau maior de mortalidade direta. Mas, como a nova cepa é mais infecciosa, tende a ser mais letal pelo número de pessoas infectadas e consequentes óbitos. Mais análises sobre o material genético do vírus devem ser feitas para determinar a agressividade da nova variante.

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4 — Risco de terceira onda da pandemia existe

Embora a variante tenha causado o lockdown de apenas uma cidade no interior de São Paulo, o rápido espalhamento da variante por todo o país mostra que a variante pode causar uma piora geral da pandemia. Em menos de um mês, a variante chegou até quase metade dos estados brasileiros.

Especialistas acreditam que, em meio a uma alta de casos geral no Brasil, o impacto da variante pode causar uma terceira onda no país. No último domingo (14), o Brasil atingiu a maior média de mortes diárias desde o início da pandemia, com 1.105 vítimas.

“As pessoas devem se preocupar. A chance é que realmente se espalhe. Então, quanto mais cuidado as pessoas tenham, menor o risco das pessoas se infectarem”, disse Ester Sabino, professora do Instituto de Medicina Tropical da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IMT-USP), à CNN.

5 — Eficácia de vacinas atuais contra P.1 não está cravada

A mutação da P.1 que causa maior resistência a anticorpos pode estar não só por trás de um maior número de casos de reinfecção do novo coronavírus, mas também de preocupações com a eficácia das vacinas em uso atualmente.

Estudos recentes mostraram que a vacina da AstraZeneca/Universidade de Oxford tem uma eficácia menor contra a variante da África do Sul. Entretanto, ainda não há dados concretos sobre a eficácia das vacinas contra a variante brasileira.

O Instituto Butantan, responsável brasileiro pela CoronaVac, informou na última sexta-feira (12) que irá realizar testes para testar a eficácia da vacina do instituto e deve apresentar resultados nas próximas semanas.

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Allan Gavioli

Estagiário de finanças do InfoMoney, totalmente apaixonado por tecnologia, inovação e comunicação.