O Brasil pode se tornar uma potência verde, diz Finkelsztain, da B3

Guerra na Ucrânia jogou luz a duas questões urgentes: a transição de matriz e a dependência energética; entenda o papel do Brasil

Mariana Amaro

(Arte: Leonardo Albertino/InfoMoney)
(Arte: Leonardo Albertino/InfoMoney)

Publicidade

A invasão da Ucrânia pela Rússia colocou a agenda de transição energética em xeque. Cinco meses após o início da guerra, os países da União Europeia precisaram aprovar, na terça-feira passada (26), uma proposta para diminuir a demanda de gás e reduzir o uso de energia russa na preparação para um corte total.

A situação é particularmente aguda na Europa, que sofre com ondas de calor no verão e está diante da perspectiva de escassez de combustíveis neste inverno. Para Gustavo Montezano, presidente do BNDES, contudo, em vez de pausar a agenda de substituição energética, a guerra deve acelerar a transformação.

“O momento geopolítico está alinhado com a agenda do clima. Em termos relativos, a necessidade de cooperação e o fluxo de investimentos para América do Sul e África é mandatório para o mundo sair dessa crise [de energia e alimentos]”, afirmou durante o painel “Transição energética: Crédito de carbono e demais inovações”, da Expert XP, nesta quarta-feira (3). Para acompanhar as palestras online, acesse aqui.

Continua depois da publicidade

Ana Cabral-Gardner Co-CEO da Sigma Lithium, mineradora canadense com operações no Brasil, enxerga uma possibilidade de o país se beneficiar por sua posição estratégica. “Nosso gás é natural, a energia é renovável, barata e abundante. Estamos em uma localização privilegiada, no Oceano Atlântico, e com um ambiente regulador modernizado”, diz.

Gilson Finkelsztain, presidente da B3, concorda. “É um certo consenso que o Brasil pode se tornar uma potência verde. Mas é preciso fazer essa transição sem demonizar ‘atores’”, diz, ressaltando que um mercado de capitais robusto é essencial para o país alcançar um protagonismo global.

Novos mercados

O conflito deflagrado na Europa também levantou a questão da dependência energética e, para Bernardo Bezerra, diretor da Omega Energia, abriu as portas para um novo mercado. “Temos a oportunidade de exportar algumas novas tecnologias. Uma delas é o hidrogênio verde, que teria a capacidade de ajudar a Europa nessa dependência geopolítica”, afirma Bezerra.

Continua depois da publicidade

Desbravar esses novos mercados, contudo, vai depender de investimentos. E o BNDES, ao que tudo indica, parece estar preparado para isso. “Nossa filosofia é focar no impacto. O dinheiro é um meio para ter melhor qualidade de vida, de saúde, de educação (…) Por isso, o BNDES tem a obrigação de liderar a conversa que a agenda ambiental traz: nosso papel é liderar a corrida tecnológica”, diz.

A Sigma Lithium também está neste caminho, com uma planta greentech que é, quase carbono zero. Para chegar lá, a empresa, mineradora, ainda tem dois desafios: 1) o diesel dos caminhões; 2 ) as explosões nos campos de extração. Para a primeira questão, a solução na qual a empresa aposta é o biodiesel, elevando o uso para 50%. Para a segunda, será a tecnologia a grande aliada.

Mesmo sem todas as medidas implementadas e com previsão de se tornar neutra em emissões no ano que vem, o efeito final da planta, segundo Cabral-Gardner, é, hoje, uma pilha de rejeitos tratados sem químicos que vale US$ 1.200, a tonelada. “Ainda conseguimos um valor extra, porque o rejeito que a fábrica gera é valioso”, diz.

Continua depois da publicidade

Finkelsztain, da B3, menciona o ainda não regulado mercado de créditos de carbono. “Este não é um assunto novo, mas estamos começando a chegar no momento de estruturar”, diz. Do lado de regulação, contudo, Finkelsztain afirma que “não teremos um produto com liquidez, listado, na semana vem”, mas já existem mais de 130 instrumentos “verdes”, vários índices sendo formados e criados para a indústria financeira, e o trabalho do mercado voluntário, para aproximar o investidor que quer zerar as suas emissões daqueles que já estão emitindo créditos de carbono.

A Omega é uma da dessas empresas. No ano passado, a companhia vendeu R$ 22 milhões em créditos de carbono e já disponibiliza esse produto digitalmente. “Qualquer empresa consegue comprar”, diz Bezerra, que prefere chamar o atual momento de “transformação” energética. “Nos últimos anos, o custo de produção da energia eólica caiu 40%. Estamos passando por uma transformação que envolve aspectos regulatórios e que tem o potencial, inclusive, de aumentar o valor dos créditos de carbono”, diz. Mesmo diante da crise, parece haver luz no fim do túnel.

Mariana Amaro

Editora de Negócios do InfoMoney e apresentadora do podcast Do Zero ao Topo. Cobre negócios e inovação.