Carros populares: em 15 dias, vendas já consumiram 80% do dinheiro reservado para o programa

Fiat segue como a montadora que mais teve dinheiro liberado: R$ 170 milhões (42,5% de todos os créditos tributários que já foram concedidos)

Lucas Sampaio Giovanna Sutto

Concessionária da Renault com modelos do Kwid à mostra (Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil)
Concessionária da Renault com modelos do Kwid à mostra (Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil)

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As vendas de carros populares já consumiram 80% de todo o dinheiro reservado pelo governo federal para o subsídio de veículos 0 km, em apenas 15 dias. Isso porque o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) já liberou R$ 400 milhões dos R$ 500 milhões disponíveis para as montadoras de automóveis e comerciais leves — uma alta de R$ 80 milhões em apenas dois dias.

A informação consta em um painel do MDIC sobre a MP 1.175, do “desconto patrocinado” para a compra de veículos “sustentáveis”, atualizado às 12h06 desta quarta-feira (veja na imagem abaixo). Para as outras categorias, a verba liberada está em R$ 140 milhões para ônibus (46% dos R$ 300 milhões reservados ao setor) e R$ 100 milhões para caminhões (apenas 14% dos R$ 700 milhões disponíveis).

Créditos tributários liberados pelo MDIC, de acordo com a MP 1.175 (que subsidia a compra de veículos sustentáveis):

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O painel tem dados produzidos e atualizados pela área técnica do MDIC, com informações detalhadas do volume de recursos liberados pelo governo, as montadoras participantes e os modelos e versões de veículos disponíveis — inclusive para caminhões e ônibus (clique aqui para acessar o painel).

Painel do MDIC sobre a MP 1.175, programa do governo federal que subsidia compra de carros, ônibus e caminhões 0 km “sustentáveis”. Página acessada em 21 de junho de 2023 às 13h (Imagem: Reprodução/MDIC)

As informações foram atualizadas um dia após o governo prorrogar por mais 15 dias a exclusividade nas vendas de carros subsidiados para as pessoas físicas. A medida frustou a expectativa de empresas e locadoras de veículos como a Localiza (RENT3) e a Movida (MOVI3), que aguardavam a liberação do governo, mas só poderão fazer parte do programa a partir de 6 de julho (se a verba não acabar até lá).

A prorrogação da exclusividade ocorreu em meio à alta procura dos consumidores pelos carros com “desconto patrocinado” governo. O movimento nas concessionários chegou a mais do que triplicar na primeira semana de descontos, segundo a Fenabrave, e já há pressão para o governo ampliar a verba destinada para o programa (veja mais abaixo).

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Fiat na liderança

Entre os carros, a FCA Fiat Chrysler segue como a montadora que mais teve dinheiro liberado pelo governo: R$ 170 milhões (42,5% dos créditos tributários que já foram concedidos). A Volkswagen aparece na segunda posição, com R$ 60 milhões, e Peugeot/Citroën, Hyundai e Renault estão empatadas no terceiro lugar (R$ 40 milhões cada uma).

Dos R$ 80 milhões autorizados pelo governo desde o último balanço oficial, divulgado na segunda-feira (19), a Fiat conseguiu R$ 40 milhões a mais (ela tinha R$ 130 milhões no começo da semana), a Hyundai recebeu mais R$ 20 milhões (ela tinha R$ 20 milhões) e a Volks e a Renault, mais R$ 10 milhões cada uma (elas tinham R$ 50 milhões e R$ 30 milhões, respectivamente).

As demais montadoras não alteraram o valor de créditos tributários concedidos até o momento: R$ 20 milhões para a Chevrolet (General Motors) e R$ 10 milhões para as japonesas Honda, Nissan e Toyota (cada uma).

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O governo considera a Jeep como parte do grupo FCA Fiat Chrysler (junto com a Fiat) e a Peugeot e a Citroën como uma só montadora. Mas as quatro empresas fazem parte do mesmo grupo automotivo: a Stellantis. Já a General Motors (GM) do Brasil é a dona da marca Chevrolet.

Até SUVs mais caros

As montadoras já inscreveram 266 versões de 32 modelos no programa até o momento, segundo o MDIC. Os descontos patrocinados pelo governo vão de R$ 2 mil a R$ 8 mil por veículo, mas as empresas podem aplicar descontos adicionais por conta própria (o que está ocorrendo).

A Jeep, por exemplo, reduziu o preço do Renegade em até R$ 15 mil para entrar no programa e ganhou mais R$ 4 mil de subsídio do governo (e, com isso, o preço da versão Sport caiu R$ 19 mil). Outras montadoras fizeram o mesmo com outros SUVs, para se aproveitar do programa.

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As empresas estão incluindo no programa até modelos fora de fabricação, como o Volkswagen Gol (que foi o carro mais vendido do país em 27 dos 40 anos em que foi produzido), e anunciando descontos em modelos que não fazem parte da medida, como a Caoa Chery, com o Tiggo 5X, e a Fiat, com a Toro (veículos que custam mais que R$ 120 mil).

Pressão por mais subsídio

O governo está subsidiando:

Para definir os “descontos patrocinados” dos automóveis, o governo considerou três fatores: preço, eficiência energética e “densidade industrial” (quantidade de peças do veículo produzidas no Brasil). Cada critério tem uma pontuação e, quanto maior a soma total desses fatores, maior o desconto no carro.

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Para caminhões e ônibus novos, os descontos aumentam conforme o preço dos veículos (quanto mais caro, maior o subsídio). Podem ser adquiridos caminhões leves, semileves, médios, semipesados e pesados e ônibus urbanos e rodoviários.

Para participar dos descontos para caminhões e ônibus, a pessoa (ou empresa) tem de entregar à concessionária um veículo com mais de 20 anos de uso, que será encaminhado a recicladoras cadastradas nos Detrans.

Há pressão no governo para ampliar a verba destinada aos carros, pois os R$ 500 milhões devem acabar antes mesmo dos 30 dias previstos pela Anfavea (associação das montadoras). Em meio ao lobby das montadoras, há declarações divergentes das autoridades sobre a ampliação ou prorrogação do programa — inclusive do próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Lucas Sampaio

Jornalista com 12 anos de experiência nos principais grupos de comunicação do Brasil (TV Globo, Folha, Estadão e Grupo Abril), em diversas funções (editor, repórter, produtor e redator) e editorias (economia, internacional, tecnologia, política e cidades). Graduado pela UFSC com intercâmbio na Universidade Nova de Lisboa.