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SÃO PAULO – Quarta-feira, 31 de janeiro de 2018. Um luxuoso hotel localizado na zona sul de São Paulo foi palco de um dos debates mais interessantes (e divertidos) sobre mercados financeiros já vistos nos últimos tempos no Brasil. De um lado, Marcio Appel, sócio-fundador da Adam Capital, a meteórica gestora que explodiu em captação e rentabilidade nestes quase 2 anos de vida; do outro lado, Rogério Xavier, um dos fundadores da lendária SPX, cujo histórico invejável nestes 8 anos de vida coloca a gestora como uma das maiores referências do Brasil. Dois personagens com princÃpios de investimentos quase que antagônicos mas que têm conseguido resultados excepcionais.
O debate aconteceu no 2º dos dois dias de evento do LAIC 2018 (Latin America Investment Conference), promovido pelo Credit Suisse e que reuniu nomes como Ilan Goldfajn, Henrique Meirelles, Paulo Guedes, Fabio Schwartsman, Elena Landau, Michael Bloomberg, entre outras personalidades mundiais.
Dividimos este duelo em â6 roundsâ, de forma cronológica. Com princÃpios tão diferentes de investimento, Appel e Xavier reforçaram uma lição valiosa para o público: não existe uma fórmula mágica de sucesso no mercado, muito menos âcertoâ ou âerradoâ. O vencedor no final deste debate foi o privilegiado público que pode acompanhar esse debate que eu, humildemente, tentei reproduzir da maneira mais fiel possÃvel nesta resenha.
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Round 1: forma de gestão
O debate começou abordando em um ponto bem distinto de cada uma das casas: a SPX, que possui R$ 26 bilhões em ativos sob gestão, tem 105 funcionários e uma estrutura completamente descentralizada em tomadas de decisão. Já a Adam tem apenas 22 funcionários para os R$ 23 bilhões em ativos sob gestão, com o poder de decisão totalmente centralizado no Appel (âele costuma dizer assim que âaqui ninguém assina boleta, só euââ, disse o mediador Ibrahim Hajjar, do private banking do CSHG, referindo-se ao Appel).
Perguntados sobre quais as vantagens da maneira como cada um conduz suas assets, o gestor da Adam respondeu que sua filosofia evita o que ele chama de âlutas pelo pedaço do boloâ: âvocê tinha um problema quando separava uma pessoa por ativo, pois a remuneração daquela pessoa depende daquele ativo (…) então se o cara de câmbio der resultado mas o fundo perder, ele não ganha [o bônus]. E quando o fundo ganha mas o cara de câmbio deu negativo, ele também não ganha. Como para ganhar um pedaço do bolo você precisa ter sua posição dentro do fundo, torna-se um confronto direto de ideias para que sua tese prevaleça sobre a outraâ. Explica Appel. âTodo mundo aqui na Adam sabe qual o percentual do bolo que vai ganhar, então a meta é aumentar o tamanho deste bolo. Assim, você só vai brigar com alguém se achar que a ideia dele vai diminuir o tamanho do boloâ, complementa.
Xavier então começa sua resposta transbordando humildade ao dizer que ânão nasceu com a genialidade que o Marcio nasceuâ e por isso ele precisa colocar muitas pessoas para olhar cada negócio. Para mitigar o risco citado pelo Appel, o fundador da SPX diz que a solução está em colocar sócios nas principais posições da gestora, pois esses receberão dividendos ao final do ano mesmo que eles não encontrem muitas oportunidades em seus mercados. âÃbvio que um sócio não vai ficar dois anos sem gerar uma boleta, mas ele não tem essa pressão de ter que colocar a posição dele na frente do outroâ, explica.
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Após essa introdução amistosa, Xavier apontou onde que ele discorda do modelo da Adam – sendo a primeira de muitas “alfinetadas de ideiasâ trocadas entre os dois gestores. âNão é porque eu vejo uma oportunidade em um lugar todo mundo tem que vir atrás de mim que nem uma fila de vaquinha. Se você tiver profundidade e fizer o dever de casa na sua especialidade, não tenho a menor dúvida que no longo prazo te ajudará. (…) O caso do Lehman Brothers exemplifica a importância de ter equipe, pois muita gente quebrou por simplesmente não conseguir transferir o dinheiroâ, lembra Xavier.
Round 2: Como montar o portfólio
No 2º round, foi a hora que os dois gigantes falaram da maneira como montam suas posições. Xavier abriu explicando que na SPX eles gostam de carregar posições até achar que a oportunidade se esgotou para depois dizer porque carregou por tanto tempo uma lucrativa posição de juros no Brasil – e porque encerrou essa posição agora em janeiro.
âNós montamos a tese de juros do Brasil em 2016 antes das manifestações dos paulistas – o que eu agradeço a vocês , pois se dependesse de nós, cariocas, vocês estavam perdidos. Para nós, era muito fácil melhorar a gestão do PaÃs, basta lembrar que a presidente era a Dilma e o ministro do Trabalho e da Previdência Social era o Miguel Rossetto, que era contra a previdência. Era questão de tempo, nós tÃnhamos uma oportunidade muito grande pois tinha um sarrafo muito baixo no Brasil e era claro para nós que viria um presidente de Banco Central como o Ilan [Goldfajn] ou um ministro da Fazenda como o [Henrique] Meirellesâ, explica Xavier. Sobre por que zerou essa posição em janeiro, ele disse que o BC já entregou o que tinha que entregar, âo espaço que sobrou de oportunidade agora não é pra nósâ.
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De maneira mais sucinta (como costuma ser, diga-se de passagem), Appel disse que agora o seu portfólio está muito mais equilibrado do que já foi no inÃcio da Adam, sem nenhum risco concentrado âcomo tinha no passadoâ. A saber: a performance excepcional dos fundos da Adam no seu pouco tempo de vida trouxe ao mesmo tempo muitos elogios ao Appel mas também muitas crÃticas sobre como a carteira dele reagiria a um dia de caos extremo nos mercados. Tivemos a prova disso em 2017 no dia 18 de maio (o fatÃdico âJoesley Dayâ) e os fundos do gestor conseguir ter uma queda próxima da média do mercado (para ver mais, clique aqui).
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Round 3: onde investir em 2018
Sobre onde está investindo, Xavier mostrou um viés otimista mas com uma bela dose de cautela. Para ele, o maior risco do mercado hoje é uma forte alta de juros nos EUA, fato que não deve acontecer neste ano por âmedoâ dos bancos centrais. Mas quando os BCs tiverem que agir, o efeito será catastrófico lá na frente.
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âAlta forte de juros nos EUA é o maior risco que temos. Porém, quando os juros sobem, os ativos acabam performando bem porque o motivo que faz os juros subirem é âpositivoâ, que são múltiplos altos das empresas, aumento de renda da população etc⦠e isso tudo gera uma nova euforia que acaba provocando uma bolha nos mercados. E quem explode essa bolha? O Banco Central. Ele que acaba com a festa. Mas eles estão com medo de acabar com a festa, por isso o maior risco [uma alta forte dos juros] não vai acontecer nos próximos seis meses nem talvez nos próximos doze. A festa vai continuar.
âAcho, com uma convicção alta, que ativos de risco continuarão performando, apesar de ser isso o que vai alimentar a catástrofe lá na frente, quando o BC tiver que estourar a bolha para controlar a inflação. Eles vão errar lá na frente porque já estão muito atrasadosâ. Conclusão: com a defasagem do patamar de juros em relação aos preços dos ativos, A SPX está comprando juros americanos de olho nesse efeito futuro e pela relação ârisco x retornoâ absurdamente alta, na opinião dele.
Muito mais otimista, Appel disse que não tem convicção de que a inflação surgirá nos EUA ainda este ano e reforçou aquela sua tese de recuperação da economia brasileira a despeito de qualquer eventual âmá notÃciaâ que podemos ver ao longo de 2018 (leia mais nesta recente entrevista concedida por ele ao InfoMoney) – para dizer que se tivesse que escolher um ativo só, seria a bolsa brasileira. âNos preços atuais, a bolsa aceita muito desaforoâ. Perguntado sobre quanto o Ibovespa poderia subir, Appel arrancou risos da plateia ao responder: âMuito⦠mas não o suficiente para investir em fundos de ações, melhor comprarem multimercadosâ.
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Round 4: eleições
O principal evento do Brasil neste ano também foi alvo de debate entre os dois gestores. Xavier abriu dizendo que a condenação do Lula foi âa melhor notÃcia que poderÃamos terâ, pois a provável retirada do ex-presidente da disputa deve arrastar o PT junto, esvaziando a esquerda no Senado e na Câmara em 2019. âNão espero ver mais de 30 deputados petistas eleitos, o que vai deixar a esquerda desorganizada em 2019â, disse, esperando uma situação bem mais favorável para um eventual governo reformista.
Mas isso não resolve o principal problema existente: âeu não tenho a menor ideia de quem vai ganhar a eleiçãoâ, disse Xavier, que vê o risco dos âbons candidatosâ brigarem entre si por votos e deixarem o segundo turno com polÃticos que o mercado não comemoraria. Ele citou as eleições municipais do Rio de Janeiro de 2016 como exemplo: âos três candidatos com ideias mais liberais e reformistas ficaram com 10% dos votos cada, e o segundo turno acabou ficando com [Roberto] Freixo e [Marcelo] Crivella. Esse acidente pode acontecer, imagina se vier um Jair Bolsonaro x Joaquim Barbosa, ou Marina Silva x Ciro Gomesâ. E finalizou com uma profecia: âse a gente repetir o que aconteceu Rio de Janeiro, saibam vocês que deu errado!â
Mantendo seu tÃpico pragmatismo aos temas que fogem do seu controle como gestor, Appel disse que está âmenos otimista que o Rogérioâ sobre a qualidade dos candidatos: ânão tem nenhum liberal aÃ, o PSDB é o grupo dos comunistas arrependidos e os candidatos bons, como o Meirelles, não vão ganharâ. Para ele, o próximo presidente já vai ajudar muito se não atrapalhar, e o resultado do julgamento do Lula foi fundamental para acreditar que isso se tornará realidade. âAgora, a mesmice brasileira voltou, e nossas posições se fundamentam com ela. Pra mim não importa quantos deputados serão eleitos, pois minhas projeções polÃticas não são melhores do que as de um motorista de táxi. Nos preços atuais, a bolsa aceita muito desaforoâ, explica Appel.
Round 5: eleições [parte 2]
Xavier retomou o assunto eleitoral para âresponderâ ao Appel a importância do resultado eleitoral. Ele lembrou que, se em 2016 com a Dilma o sarrafo do Brasil estava muito baixo, agora o sarrafo está muito alto, pois perder pessoas como o Ilan Goldfajn ou o Pedro Parente (presidente da Petrobras) é muito perigoso. âAprendemos, e espero que muita gente também tenha aprendido, que pessoas fazem diferença. Então, vencer um Ciro Gomes pode fazer muita diferençaâ.
Appel interrompeu Xavier para dizer âmas o Ciro não está na minha conta, viu?â, disse, arrancando risos da plateia. âPrefiro um candidato que não entenda nada de economia e terceirize as decisões. Problema é candidato com opinião econômicaâ, complementou o homem forte da Adam.
Round 6: o dólar está barato
O embate sobre a taxa de câmbio talvez tenha sido o que mais evidenciou as diferenças de pensamento de cada um destes dois gestores. Rogério Xavier disse que a cotação do dólar sobre o real âquase de graçaâ nos nÃveis atuais: com a perspectiva de alta dos juros em breve no exterior, está muito barato comprar âseguroâ, principalmente em um ano que a eleição pode trazer muita volatilidade. âSe a eleição transcorrer de forma positiva, você volta [à s posições otimistas]â, diz Xavier, que acredita que âmuita gente vai fazer issoâ.
Appel discorda e diz que é quase impossÃvel uma demanda mais forte por dólar enquanto os juros não subirem lá fora. âO Brasil é âunder-owned de forma absurda, então qualquer fluxo que venha pra cá, por menor que seja, será uma avalanche de dinheiro. Por isso não gosto da ideia de me posicionar contra o real. De 2016 pra cá, comprar dólar não se mostrou uma estratégia efetiva contra a criseâ, disse o gestor, finalizando que vê o como a pior forma de estar posicionado em Brasil. âO mercado que menos gosto hoje é o de câmbioâ.
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