Um sinal do desenvolvimento do Brasil da década de 1980 até hoje é a trajetória dos juros. Em 1997, era muito difÃcil imaginar que terÃamos uma Selic atual a 4,5% a.a., quando naquele ano a taxa chegou a bater em 45%.
Sem dúvida, a redução dos juros foi uma conquista da sociedade brasileira. Além da redução da taxa, outro motivo para comemoração é o prazo de alongamento dos tÃtulos públicos federais.
Nos anos 80, um tÃtulo de longo prazo era aquele cujo vencimento correspondia a um ano. Claro, com uma inflação de 30% ao mês, as incertezas eram enormes e qualquer investimento mais longo se tornava inviável.
Hoje, encontramos no mercado tÃtulos públicos prefixados de dez anos (como a NTN-F 2029) e tÃtulos pós-fixados hÃbridos (IPCA+ taxa real) de 30 anos (como a NTN-B 2050).
O alongamento do prazo de emissão dos tÃtulos públicos é reflexo do controle da inflação e do aperfeiçoamento institucional, como a Lei de Responsabilidade Fiscal, que vem ocorrendo no Brasil desde a década de 1990.
A boa notÃcia é que há espaço adicional para a queda dos juros e para um maior alongamento do prazo de emissão dos tÃtulos.
Conforme noticiado pelo InfoMoney, o Tesouro estuda emitir um novo tÃtulo prefixado com um vencimento mais longo, de pelo menos 20 anos.
O efeito do alongamento do prazo de taxas prefixadas não é apenas benéfico para o caixa do Tesouro, mas também para o mercado de debêntures. Isso porque o aperfeiçoamento das taxas, dos prazos e da liquidez dos tÃtulos públicos acaba balizando as condições de emissão dos papéis privados.
Em outras palavras, se houver alongamento de prazo no mercado de tÃtulos públicos, provavelmente também surgirão debêntures com vencimentos mais longos, o que é uma ótima notÃcia para o Brasil.
Primeiro porque, se ocorre a emissão de um tÃtulo longo, significa que a confiança de longo prazo no paÃs está melhor. Investidores topariam emprestar dinheiro para as empresas por um prazo maior por acreditarem que, até lá, a inflação estaria sob controle e haveria baixa probabilidade de calote (diminuição do prêmio pelo risco).
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Segundo que, além de refletir uma melhora na confiança no paÃs, o alongamento do prazo de debêntures pode ser também causa de mais crescimento econômico.
Há uma série de artigos cientÃficos internacionais (como “Financial Development And Economic Growth: Views And Agenda”, de Ross Levine, 1997) que mostram uma relação robusta entre desenvolvimento do mercado financeiro e crescimento econômico.
Tudo indica que teremos num horizonte próximo papéis prefixados de 20 anos e debêntures com prazos mais longos. E se o governo continuar a fazer a parte dele, com controle de gastos das contas públicas, quem sabe não teremos tÃtulos públicos prefixados de 30 anos, como nos Estados Unidos.
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