Publicidade
âMarcas de propósitoâ â aquelas que ajudam a melhorar a vida da sociedade em geral â ganham mais atenção de potenciais clientes do que outras, que são perce – bidas apenas como âvendedorasâ de determinado produto, de acordo com pesquisa recente realizada pela Officina Sophia Conhecimento Aplicado, empresa que faz parte do Grupo HSR e é presidida por Paulo Roberto Secches. âAs marcas de propósito são as que praticam a dimensão humana, que passam algo de positivo para a vida dos consumidores e assim são percebidas por elesâ, explica o sociólogo e empresário. âEsse propósito pode estar relacionado a um dos vá – rios temas englobados pelo conceito âdiversidadeâ, de respeito ao outro e aceitação de individualidades. Construir o que chamamos de marca de propósito é de interesse do próprio negócio, que assim consegue mais sustentação e rentabilidade. Trabalhar a marca de propósito é bom para o negócio? Ã. O consumidor compra? Sim, compraâ, afirma. Mas Secches emenda um alerta: a marca precisa mostrar transparência e autenticidade, para não ser vista como oportunista. âNão há mais espaço para âparecer serâ. A marca tem de âserâ. A questão nem é mais se deve ou não apoiar causas e bandeiras, mas âcomoâ apoiar de maneira a se mostrar verdadeira. Esse é um aspecto-chave para o sucesso do negócio.â
Secches, que estuda tendências de comportamento e de mercado, enumera essas conclusões com base no que foi revelado pela pesquisa. âProcuramos colher insights das pessoas, saber qual sua visão sobre âdiversidadeâ. O marketing precisa do input da população. Trabalhamos uma amostra de 2 mil entrevistas online com pessoas de todo o Brasil, das classes de A a D e entre 18 e 55 anos de idade. Processamos os dados e ponderamos pelo perfil da população, para termos uma forma enxuta sobre como as pessoas se posicionam diante do assunto âdiversidadeâ e como isso impacta as marcas. Então, traduzimos tudo, nos voltando para o aspecto do negócio.â
A pesquisa aborda três nÃveis de comportamento do entrevistado: quanto à diversidade em geral; suas respostas diante de temas especÃficos de respeito a individualidades; e como vê as marcas que trabalham esses aspectos. Paulo Secches observa que existem, não apenas no Brasil mas em todo o mundo, dois grandes grupos ligados a fortes movimentos sociais, quase antagônicos. âUm deles apoia âminoriasâ, entre aspas, e o respeito à diversidade. Por outro lado, há um crescimento forte de conservadores, não necessariamente do ponto de vista econômico, mas na dimensão comportamental, de valores. Vemos o Donald Trump na Presidência dos Estados Unidos, a Hungria com um presidente conservador, a Ãustria com um primeiro-ministro altamente reacionário e Angela Merkel com dificuldades para conseguir maioria no parlamento alemão. Diante desses dois movimentos, como as marcas deveriam lidar com o tema diversidade? Fingir que não é com elas? Mostrar neutralidade? Dar apoio explÃcito?â
Continua depois da publicidade
Para entender os critérios da sociedade em geral, a pesquisa inicialmente procurou saber como as pessoas se posicionam em relação à individualidade e à liberdade de escolha. âNada menos do que 76% dos entrevistados escolheram a opção âas escolhas são individuais, cada pessoa faz o que quiser e convive com quem quiserâ. à um dado forte, que nos surpreendeu, porque achávamos que a maioria se posicionaria pelo lado conservador e apenas 24% escolheram a opção âa sociedade tem se tornado muito permissiva ao aceitar que cada um faça o que quiser de sua vida e conviva com outra pessoa como queiraâ. A predominância foi de respeito ao gênero e não houve grande diferença em relação à classe social ou à faixa etária, com homens tendendo a ser mais conservadores â quase 30%.â
SURPRESAS
Na sequência, a pesquisa procurava saber sobre o posicionamento dos entrevistados frente a temas especÃficos. São eles: legalização da maconha e do aborto, respeito e convivência com homossexuais, respeito e convivência com imigrantes, empoderamento feminino, igualdade de tratamento entre ricos e pobres, entre homens e mulheres, liberdade de religião, igualdade de tratamento entre pessoas de diferentes cores de pele e respeito e convivência com idosos.
Continua depois da publicidade
âTivemos outras duas surpresasâ, diz Secches. âà muito grande o número de pessoas favoráveis à totalidade dos temas e fortemente favoráveis, com números extremamente altos â 78% na questão sobre homossexuais, 84% sobre imigrantes, 93% sobre religião, 94% sobre ricos e pobres. Novamente não há muita diferença de resposta por classe social ou faixa etária. A população mostra respeito à individualidade e também quando se trata de temas especÃficos. Mas dois deles são praticamente tabus: a legalização da maconha e a do aborto.â Essa revelação, para o sociólogo, âcomprova que as pessoas disseram a verdade quanto a serem favoráveis à maioria dos temas, porque, quando dois deles incomodaram, elas falaramâ. A segunda surpresa, entre as respostas sobre temas especÃficos, foi em relação à s mulheres. âObservamos que elas se mostram ainda mais liberais do que os homens no geral. Mas, quando se trata dos temas maconha e aborto, as mulheres vão em direção contrária e se mostram mais conservadoras.â Outro dado muito importante aparece entre as pessoas mais conservadoras: âNa questão sobre diversidade em geral, se dizem contra a permissividade. Mas, nas respostas sobre temas especÃficos que foram apresentados, mesmo o mais reacionário tende a ser mais favorável, mostrando-se menos conservador â sempre com exceção da maconha e do abortoâ.
PERCEPÃÃO DE OPORTUNISMO
Sobre o terceiro passo da pesquisa, a respeito da percepção das pessoas em relação à s marcas â se deveriam defender causas ou bandeiras, por exemplo â, Secches afirma que 84% acham que sim, âpraticamente em relação a todos os temas, sempre com a grande exceção da liberalização da maconha e do abortoâ. Sobre comprar produtos de marcas que apoiam essas causas, é muito elevado também o número dos que respondem afirmativamente. âEntão, os entrevistados favoráveis à diversidade também apoiam as marcas que a defendem e compram seus produtos. Ainda assim, 48% das pessoas têm a percepção de que as marcas podem estar sendo oportunistas. Por isso, nem se fala mais se marcas devem ou não apoiar causas ligadas à diversidade. Já passamos para outro nÃvel: como apoiar. à muito importante para a marca considerar a forma certa, o âcomoâ apoiar, de maneira a se mostrar verdadeira, sincera. Esse é um aspecto-chave.â
Continua depois da publicidade
Para complementar sua análise, o presidente da Officina Sophia cita outro estudo, realizado em colaboração com Ana Couto, CEO da Ana Couto Branding. âA pesquisa fala de âtrês ondasâ: primeiro, as marcas que sinalizam querer vender, ter lucro; depois, as que têm relevância, que procuram estabelecer conexões emocionais, criação de valores; e, mais recentemente, as marcas de propósito, que procuram engajar pessoas, que não visam apenas ao lucro, mas ao benefÃcio de todos. As pessoas reconhecem as marcas que estão em uma onda ou outra e 40% não mostram interesse por aquelas percebidas como que visam apenas ao lucro. Em contrapartida, consideram muito as que têm um propósito â 67% das pessoas comprariam produtos de marcas de propósito.â
A interpretação analÃtica de Secches dos resultados da pesquisa, para o mundo dos empresários, é que as pessoas têm mais probabilidade de comprar produtos de marcas que ultrapassem a área de negócios, ao contrário de marcas que os consumidores percebam que têm apenas o próprio lucro como objetivo. âNo caso das marcas de propósito, a predisposição de compra aumenta e as pessoas até consideram pagar mais caro. Isso se vê mesmo na geração mais velha. Nossa conclusão não é poesia. Construir uma marca de propósito é de interesse do próprio negócio. Marcas que se mostram autênticas quando praticam a dimensão humana, quando contribuem para o bem comum, constroem para elas mesmas, para sua consistência e longevidade no mercado.â