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Caros(as) leitores(as),
O Brasil é um paÃs acostumado com juros mais elevados. Gerações criadas com taxa Selic de dois dÃgitos, momentos de hiperinflação, trocas de moedas e amplitudes de polÃtica monetária traumatizantes.
As alocações de capital mais famosas são a poupança e os imóveis. Herdamos uma filosofia de investimento simplista e pouco eficaz.
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Viver de aluguel pode ser visto como sinônimo de independência financeira e prosperidade. Investimentos comuns bancários, muitas vezes pouco questionados, tomam conta das economias das famÃlias.
Você se enxerga nas linhas acima? Fique tranquilo(a), faz parte da nossa cultura.
Tivemos um âsuspiroâ a partir de outubro de 2016. Um processo importante de reformas permitiu com que vivenciássemos patamares menores de taxa de juros.
A pandemia da Covid-19 e sua necessidade por estÃmulos foi um anabolizante desse processo. Atingimos o menor patamar de juros visto na história do nosso paÃs, mas durou pouco.
O movimento veloz de queda dos mercados e destruição de PIB por meio dos lockdowns foi revertido para um processo inflacionário importante e aumentos nas taxas basais econômicas ao redor de todo mundo, incluindo economias desenvolvidas como a dos EUA. O bullmarket foi passageiro.
Nesse curto perÃodo, milhões de brasileiros ingressaram na Bolsa de Valores e buscaram corretoras para sofisticar suas carteiras de investimento. Os âbancõesâ sofreram perdas de custódia relevantes e as plataformas digitais se fortaleceram.
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Nos últimos dois anos, o retrocesso foi marcado por recordes de emissões de LCIs e LCAs, resgates bilionários na indústria de fundos de investimento, especialmente nas estratégias multimercado e de ações. Gestoras sumiram do mapa, consolidações ocorreram e boa parte dos brasileiros voltou a se âesconderâ atrás do rentismo.
Lembro da época que era assessor e que os juros estavam próximos a 7% ao ano. Quase todos os clientes que abriam conta comigo, e eram questionados sobre seus objetivos, respondiam: âquero 1% ao mês, sem risco, garantidoâ. Somos verdadeiros viciados nessa âdrogaâ de retorno mensal nesse patamar.
Me parece que fomos privados, de certa forma, desse entorpecente com os juros menores. Sem muito preparo e tratamento, atirados aos produtos mais sofisticados e à necessidade de aceitar maior volatilidade para perseguir maiores retornos.
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Era óbvio que na primeira oportunidade regredirÃamos. Fui ingênuo de pensar que em algum momento isso não aconteceria. Não estou dizendo que, com juros mais altos, a renda fixa não tenha ficado mais atrativa.
TÃtulos públicos que pagam 5% mais a inflação do perÃodo (IPCA), ativos isentos que conseguem entregar quase que integralmente a taxa de juros gorda que vemos na tela. Sim, eles ficaram mais interessantes e talvez merecessem mais atenção dos seus aportes, de parcela da sua carteira.
Porém, esse pêndulo? Desculpe, ele não funciona.
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Você provavelmente vai se desfazer dos seus ativos de risco quando estão mais descontados, vai recomprá-los quando estiverem mais caros. Isso sem dizer que a renda fixa também tem preço e você, com sede de juros, as vezes pode negligenciar esse fator e não se atentar, por exemplo, ao patamar de spread de crédito antes de selecionar o papel que deseja.
Meu ponto é: enquanto tivermos algo próximo a 1% ao mês, mesmo que bruto, nesses ativos de renda fixa mais simples, como os bancários e o Tesouro Selic, nós não teremos fluxo para os demais mercados. Podemos ter algum movimento, mas tÃmido perto do que foi retirado, isso com toda a certeza.
Os investidores locais vão se movimentar quando o bolso começar a apertar, quando suas aplicações perderem esse nÃvel de rentabilidade. O que deve acontecer em breve, já que a inflação surpreende na velocidade que vem âcaindoâ e teremos uma nova diretoria no Banco Central que parece ser mais âdovishâ, ou seja, mais flexÃvel com a polÃtica monetária.
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Infelizmente, muitos farão exatamente o que citei linhas acima. Serão atrasados, perseguindo essa reabilitação do rentismo.
O que mais me pergunto é: uma estratégia de investimento bem implementada, com uma alocação de capital adequada e com o investidor compreendendo as dinâmicas do mercado, no longo prazo, não poderia render-lhe mais do que esse tal do â1% ao mêsâ? Será que isso é o melhor que podemos buscar?
Claro que, diferentemente do que sistemas de pirâmide e conselheiros fajutos de finanças dizem, a não ser que estejamos falando de uma ativo prefixado, não existe garantia de retorno. Quando analisamos fundos de ações de casas renomadas e com históricos longos, ou mesmo fundos multimercados, histórias emblemáticas como de Jim Simons e Warren Buffett, vemos retornos muito superiores a estes que os rentistas tanto buscam por aÃ.
O mercado de ativos de risco deve responder quando a Selic incomodar a ârentismolândiaâ e deve motivar uma mudança de comportamento (mais uma vez). A história se repete.