Presidente da Enel culpa clima por apagão em SP em depoimento à CPI da Alesp

'Não foram todos que ficaram 5 dias sem energia: 1 milhão e duzentos [mil consumidores] já tiveram energia recomposta no 1º dia', afirmou Max Xavier Lins

Equipe InfoMoney

Max Xavier, presidente da Enel, em CPI da Alesp (Diivulgação/Alesp)
Max Xavier, presidente da Enel, em CPI da Alesp (Diivulgação/Alesp)

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Sessão da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito), da Assembleia Legislativa de São Paulo, que apura responsabilidades da Enel no serviço de energia elétrica disponibilizado à população da região metropolitana, foi marcada por um fato, no mínimo, inusitado. Na presença de Max Xavier Lins, presidente da empresa, faltou luz na Casa Legislativa na terça-feira (14).

Durante o depoimento do executivo, uma nova interrupção de energia foi registrada, mas Xavier atribuiu a falha a problemas internos da assembleia. Em nota, a Alesp confirmou a versão do presidente da Enel.

Os parlamentares buscaram saber de Lins as falhas relacionadas ao restabelecimento da energia, após a tempestade que atingiu São Paulo no dia 3 de novembro e afetou cerca de 2,1 milhões de consumidores. Para uma parcela dos moradores, a luz só voltou 1 semana depois.

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Ele classificou o temporal como evento climático extremo, dado que a velocidade dos ventos ultrapassou a marca de 100 km/h. O executivo justificou que os relatórios meteorológicos em que se baseava a Enel apontavam rajadas de até 55 km/h.

O plano de contingência, informou, envolveu 1.200 equipes de emergência, quatro vezes mais que o estipulado pela Enel. “Ninguém dimensiona uma infraestrutura para momentos de excepcionalidade como esse”, declarou.

Ao se desculpar com a população paulista pelos transtornos, Lins buscou separar “crise e curso natural das coisas”. Ele avaliou como “significativo” o esforço da Enel para restabelecimento do serviço, tomando por base a velocidade de resposta.

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“Nunca vivenciei uma crise dessa magnitude. Lembrando que a recomposição foi muito forte. Não foram todos que ficaram cinco dias sem energia. Um milhão e duzentos [mil consumidores] já tiveram energia recomposta no primeiro dia; 1,8 milhão, no segundo; 97%, no terceiro; e 99%, no quarto”, escalonou Lins.

Investimentos

Segundo Lins, até o ano passado, a Enel já havia investido R$ 6,7 bilhões, sobretudo na automação da rede que possui 43 mil quilômetros de extensão. O investimento, segundo ele, superou o lucro líquido da empresa, acumulado em R$ 4 bilhões no mesmo período.

“Estamos investindo muito mais que 50% daquilo que ela [a Enel] lucrou”, declarou. “Em função desse investimento, os indicadores de confiabilidade e qualidade de energia elétrica melhoraram objetivamente”, completou.

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Nesse ponto, o presidente da Enel recorreu a dois medidores auferidos pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel): a Duração e a Frequência equivalentes de interrupção por consumidor – DEC e FEC, respectivamente.

Ele explicou que o DEC significa o tempo médio que um cliente fica sem energia elétrica durante o ano; enquanto o FEC é a quantidade média de vezes em que isso acontece. “Em 2017, o DEC era de 11,7 horas. Fechamos 2022 com 6,36 horas. O número do FEC era de 6,5 vezes. Fechamos [em] 3,3 vezes”, comparou Lins.

Relatora da CPI que investiga na Alesp possíveis irregularidades da Enel, a deputada estadual Carla Morando (PSDB) pôs em dúvida a veracidade dos índices regulatórios de avaliação apresentados no depoimento.

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“A qualidade de atendimento não é verdadeira. O indicador também não. Pode ser de uma forma macro, o que é o problema”, ressaltou Morando. “O que é falado [pela Enel] não é o que a população está sentindo”, continuou.

O executivo da Enel discordou da parlamentar. “Isso [melhoria da rede elétrica] corresponde, sim, à realidade. O restante são (sic) argumentos. Os dados são absolutamente públicos, aferíveis, verificáveis e fiscalizados pela Aneel,” argumentou Lins.

Um segundo embate ocorreu quando a relatora afirmou que o executivo “não sentiu na pele” os transtornos da falta de energia elétrica em virtude do temporal da semana passada.

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“Faltou duas vezes durante o período. Muito rapidamente”, disse Lins, ao responder se também havia ficado sem eletricidade em casa. “A falta de energia não escolhe pessoas, nem bairros. A gente precisa despersonificar esse caso”, comentou o presidente da Enel.

Poda de árvores

Durante a oitiva, Xavier cobrou a poda das árvores pelas prefeituras e culpou o clima. “Foi um evento climático extremo. Previam-se ventos de 55 km por hora e os ventos que se materializaram foram ventos de 105 km por hora.”

A explicação irritou os prefeitos da região metropolitana, como Orlando Morando, de São Bernardo do Campo, que questionou os canais de comunicação da Enel com os clientes.

“Você sabe como nós falamos com a Enel quando nós tivemos um grave incidente? Eu considero grave um bairro inteiro, uma unidade hospitalar que teve o abastecimento cerceado. A gente liga para a Central de Relacionamentos e fala com a mesma maquininha que todo mundo fala. Essa é a central de relacionamento das prefeituras hoje com a Enel”, criticou.

O presidente da Enel reconheceu que é fundamental aproximar-se dos prefeitos. Apesar de ressaltar que o manejo da vegetação cabe aos municípios, Lins informou que a Enel realiza podas por iniciativa própria (foram mais 350 mil podas em 2022).

Lins anunciou que, em 2024, a inspeção da rede elétrica para detectar pontos críticos com o parque arbóreo será realizada com auxílio de helicópteros. “É mais rápido fazer a inspeção aérea utilizando helicópteros. Nós fazemos com helicóptero apenas as linhas de transmissão. Vamos ampliar isso para as linhas de distribuição”, adiantou.

Ressarcimento

Indagado sobre os ressarcimentos aos consumidores prejudicados pelo apagão, Max Xavier Lins respondeu que a reparação por danos a equipamentos eletroeletrônicos está sendo agilizada pela Enel.

No tocante a ressarcimento por prejuízos sem normatização regulatória, como produtos alimentícios e medicação, Lins ressaltou que, mesmo assim, a Enel estuda uma maneira de indenizar especialmente a população de menor renda. “Estamos sensíveis a isso. Queremos construir uma solução objetiva em até 30 dias”, declarou.

(Com informações da Alesp)