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O Comitê de PolÃtica Monetária Copom) do Banco Central seguiu a linha esperada por praticamente todos no mercado financeiro e manteve novamente nesta quarta-feira (21) a taxa básica de juros (Selic) em 13,75% ao ano, amenizando o comunicado em relação à s reuniões anteriores. Mas na opinião dos analistas, mesmo abrindo as portas para um inÃcio de cortes de juros, a autoridade monetária tomou o cuidado de descrever um cenário ainda desafiador, que demanda âcautela e parcimôniaâ.
Para Ariane Benedito, economista da Esh Capital, esse foi o principal recado do comunicado do Comitê, ao destacar a conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário mais lento e por expectativas de inflação ainda desancoradas.
Para ela, o que era esperado pelo mercado não foi sinalizado pela autarquia monetária: o inÃcio dos ciclos de cortes. O BC preferiu, segundo Ariane reforçar que irá perseverar a estratégia de prolongamento dos juros nesse mesmo patamar, até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas.
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âVale ressaltar a retirada do trecho que citava uma possÃvel retomada da alta de juros, saliente em comunicações anteriores, mas isso não torna o comunicado mais brandoâ, afirmou Ariane, que também é responsável pela área de relações com investidores da Esh Capital.
Marco Caruso, economista-chefe do Banco Original, concorda que o comunicado foi mais hawkish em relação ao que o mercado esperava. âO mercado já estava colocando cortes perto de 25 pontos-base na próxima reunião, mas não tem nenhum sinal nesse comunicando que, a priori, essa é a cabeça do colegiadoâ, afirmou.
Para o economista, o BC não conseguiu dar essa sinalização agora porque o modelo que utiliza para o IPCA de 2024, que é o número que mais conta, foi de 3,6% para 3,4%, ainda muito longe do centro da meta de 3%. Assim, o mercado pode até reduzir a probabilidade cortes em agosto.
Ainda assim, Caruso apontou dois pontos que mostram que o Comitê está caminhando em direção ao corte, de forma lenta e gradual, e âaté um pouco tÃmidaâ. Para ele, no último parágrafo, o BC reforça ser âdata dependenteâ, ao dizer que os próximo passos da polÃtica monetária vão depender da evolução da dinâmica inflacionária, das expectativas, do hiato do produto e do balanço de riscos, entre outros fatores.
O outro ponto foi a exclusão do cenário alternativo, no qual a Selic permaneceria onde está por mais tempo. âAo tirar esse cenário, ele está dizendo que está mais próximo do momento do corte. Não dá nenhum sinal que é em agosto, mas está caminhando para isso. De modo que o cenário alternativo já não faz muito sentidoâ, disse.
Esse leitura da comunicação do Copom é similar à do economista André Perfeito, que declarou que a autoridade monetária não aliviou em nada o tom das últimas reuniões, além de enfatizar que não basta inflação corrente em queda, mas também expectativas ancoradas para se pensar em corte.
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âMe parece que o BC está prisioneiro da sua retórica e arma para si uma situação difÃcil de desatar. Praticamente abandonou o protagonismo da decisão dos juros para deixar em âstand byâ aos desÃgnios das projeções. Projeções essas de mercado, que tem errado de maneira significativa desde o inÃcio do anoâ, frisou.
Para Perfeito, mesmo com retirada do trecho onde era apontada a possibilidade de subir os juros, ânuma aparente boa-fé com o momento atualâ, o economista diz que a atual diretoria vai continuar terceirizando âtecnicamenteâ para as expectativas de mercado suas decisões. âDito isso, mantenho a perspectiva de corte de juros na próxima reunião, com um afrouxamento inicial de 50 pontos-base, e levando a Selic a 11,75% ao final do ano.â
Tom diferente
Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, no entanto, viu alguns sinais mais brandos nesse comunicado em relação à s reuniões anteriores, quando havia até a menção de uma possÃvel elevação dos juros à frente.
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âAgora não. Ele excluiu do comunicado esse risco de alta de juros e ainda acrescentou que houve uma melhora no cenário internacional, inclusive com uma atenuação do estresse envolvendo bancos nos Estados Unidos e na Europa. Esse foi o primeiro parágrafoâ, lembrou Agostini.
O economistas também citou que o BC comentou sobre a melhora da atividade econômica no Brasil e sobre a melhora na convergência das taxas de inflação para sua metas.  âAs expectativas do IPCA vêm cada vez mais melhorando no sentido de convergir para o centro da meta para 2023 e 2024. Com alguma resistência em 2023 de chegar à meta ainda, mesmo que no teto. Mas, para 2024 tem uma convergência bastante significativaâ, disse.
Ele ponderou que o BC fez alertas associados aos riscos de inflação, tanto para o lado positivo como negativo, mas que no contexto geral é possÃvel concluir que houve uma melhora de ânimo na leitura dos indicadores de atividade econômica, inflação corrente, cenário internacional e expectativas de inflação para 2024.
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âNesse cenário, a Austin Rating reafirma sua posição de que na reunião de agosto, o BC deve iniciar seu processo de flexibilização da polÃtica monetária, reduzindo a taxa básica de juros, a Selic, em pelo menos 0,50 ponto percentual, para 13,25%, e deve encerrar o ano com uma taxa de 11,75%â, estimou.
Vitor Martello, economista-chefe da Parcitas Investimentos, também observou um comunicado, no geral, mais inclinado a cortes quando comparado à s últimas comunicações oficiais. âIsso fica claro nas projeções, na retirada da simulação com juros constantes e na retirada do trecho em que reforçavam o comprometimento para com as metas ao indicarem que poderiam retomar o ciclo de alta de jurosâ, justificou
Para ele, foram mudanças marginais na direção de sinalizar que o próximo passo é de cortes de juros. âMas isso já era o grande consenso do mercado, já estava mais do que precificado, a meu ver tentaram ser o mais neutro possÃvel quando comparado ao que já era precificadoâ, disse.
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âEstão seguindo o livro texto, não se deixando levar pelas pressões polÃticas, e tentando comunicar as condições necessárias para o inÃcio de cortes de juros. Tudo depende se a desinflação subjacente, dos núcleos, vai voltar a ser observada, e se as expectativas de inflação do Focus seguirão caindoâ, afirmou Martello.
Werther Vervloet, economista da ACE Capital, é outro analistas que afirmou vem âuma brechaâ, ainda de maneira cautelosa, para iniciar o ciclo de cortes. âEntretanto, o Comitê precisa ver melhora adicional tanto na qualidade da inflação corrente quanto nas expectativas, em especial as mais longas. A mensagem foi bem clara que eles julgam que os movimentos até aqui ainda não foram suficientesâ, ponderou.
âOlhando a frente, acreditamos que o cenário de inflação permitirá o inÃcio desse ciclo em breve. A grande questão agora é se a melhora será rápida o suficiente para esse ciclo se iniciar em agosto, o que ainda acreditamos ser o cenário base, ou se ficará, no mais tardar, para setembroâ, disse Vervloet.
Idean Alves, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil Investimentos, também viu sinais que podem levar a duas leituras no comunicado do Copom. âO tom do comunicado veio mais âhawkishâ que o esperado, mas suave, se comparado aos comunicados das reuniões anterioresâ, explicou.
Por um lado, disse Alves, o Copom reforçou que segue adotando “cautela e parcimônia”, muito por conta do processo desinflacionário ser mais lento que o previsto, e também pelas expectativas de inflação ainda estarem bastante desancoradas, o que pede vigilância do Comitê, para ainda manter os juros no patamar atual.
Mas para ele, chamou a atenção o fato de o Comitê ainda não sinalizar que haverá corte de juros na próxima reunião, âo que vai contra o que o mercado esperava e revela o tom ‘hawkish’ do comunicadoâ.
Ele prevê que haverá manutenção da Selic na próxima reunião, em agosto, quando deve acontecer uma sinalização mais clara sobre os cortes. âAo que tudo indica e como não houve sinalização neste comunicado, esse corte se dará muito provavelmente na reunião de setembro. O Copom está bem assertivo no discurso e não vai mudar agoraâ, disse.
Fabio Akira, economista-chefe da Blueline Asset Management, também acredita que o Copom escolheu conduzir o processo de corte de juros de maneira bastante cautelosa, caracterizando o processo desinflacionário com lento e as expectativas ainda como desancoradas. âEvitou comemorar o recuo das expectativas do Focus, caracterizando-as ainda como desancoradas e demandando cautela e parcimônia da polÃtica monetáriaâ, comentou.
Akira destacou ainda a retirada da frase que âameaçavaâ retomar o ciclo de alta de juros, mas ponderou que foi mantida a declaração que âainda julga adequada a estratégia de manutenção da Selic que tem sido adotada por perÃodo prolongadoâ.
âNa mensagem prospectiva, o comitê condicionou os próximos passos da polÃtica monetária a uma série de fatores, incluindo a dinâmica inflacionária, as expectativas de inflação longas, ao hiato do produto e ao seu balanço de riscosâ, disse o economista. âEnfim, parece preparar para um corte âparcimoniosoâ em agosto, mas ainda condicionado a quedas mais substanciais do Focus, principalmente depois da definição da meta pelo CMNâ, completou.
João Savignon, head de pesquisa macroeconomica da KÃnitro Capital, por sua vez disse que o Copom frustrou as expetativas de quem esperava uma sinalização mais clara de que cortaria os juros em sua próxima reunião, ao manter um tom duro no comunicado. âEspecialmente em relação aos condicionantes para os próximos passos da polÃtica monetária, enfatizando que dará maior atenção aos componentes da inflação mais afetados pela polÃtica monetária, a atividade econômica e à s expectativas inflacionárias de longo prazoâ, disse.
âMesmo reconhecendo que essa comunicação mais dura tenha elevado a probabilidade de um adiamento do ciclo de cortes, seguimos acreditando que há espaço para o Copom promover o inÃcio do afrouxamento monetário na sua próxima reunião.â
Postura firme
Já André Nunes de Nunes, economista-chefe do Sicredi, afirmou que o BC manteve uma postura firme, indicando que os passos futuros da polÃtica monetária dependerão da evolução dos componentes da atividade mais sensÃveis à polÃtica monetária e das expectativas de inflação para prazos mais longo.
âA sinalização mais tênue veio da retirada da frase referente a retomada do ciclo de ajuste. Porém, o comunicado não fornece sinais de queda para agosto, como parte do mercado esperava. Seguimos com a expectativa de corte da Selic em 0,50 ponto percentual em setembro, encerrando o ano em 12,25%â, previu Nunes.
Adriana Dupita, economista sênior da Bloomberg Economics, tem uma leitura similar. âA linguagem do Banco Central revela – não apenas pelo que fala, mas também pelo que  – que a instituição se prepara para cortar juros, embora não necessariamente já em agostoâ, disse.
Para ela, BC dá sinais de estar prestes a cortar quando remove a referência à possibilidade de uma alta, à s projeções de juros e à avaliação que fez dos passos da polÃtica fiscal até agora. Por outro lado, o Copom parece tentar conter as expectativas de um corte iminente ao sinalizar como pré-condição a queda na inflação esperada e subjacente.
âEm suma, o BCB não sinaliza mas também não fecha a porta para um corte em agosto: vai depender de novas boas notÃcias nestas variáveisâ, disse Adriana.
Para Roberto Padovani, economista-chefe do Banco BV, a expectativa do mercado era que o Banco Central, ao reconhecer melhoria no risco inflacionário, pudesse sinalizar espaço para corte de juros em algum momento no futuro. Mas o comunicado não fez nenhuma leitura do risco inflacionário e, portanto, não abre espaço para corte. Portanto, um comunicado bastante duroâ.
Débora Nogueira, economista-chefe da Tenax Capital, também enxergou esses elementos mais duros do a expectativa na comunicação, mas ainda analisa que o tom geral foi no sentido de abrir espaço para a flexibilização nas próximas reuniões.
âNo parágrafo inicial, destacaram o ambiente inflacionário global e a retomada de ciclos de elevação em algumas economias. Pontuaram que o crescimento acima do esperado no primeiro trimestre teve como fator principal a força de agropecuária, mas as projeções apresentadas (5,0% para 2023 e 3,4% para 2024) pelas nossas contas incorporaram um significativo fechamento do hiato do produtoâ, comentou.
Ela ainda disse que, sobre a queda das expectativas no perÃodo entre reuniões, o BC não utilizou um adjetivo classificando a queda como significativa, mas no parágrafo seguinte destacaram que estamos diante de um ambiente de expectativas de inflação desancoradas.
âO balanço de riscos seguiu equilibrado, com citação sobre risco âresidualâ no fiscal, do lado altista para a inflação. E de que, por mais que commodities em reais possam ainda exercer papel desinflacionário, parte importante desse movimento já foi verificadoâ, citou.
Débora afirmou que a comunicação é compatÃvel com uma flexibilização em agosto e observou que o BC optou por assegurar graus de liberdade e não se comprometeu com queda de juros iminente. âPara o corte em agosto, teremos de ter a confirmação da meta de inflação em 3,0% na reunião do CMN e a continuidade de bons resultados na inflação corrente e na pesquisa semanal do Focus. Esperamos que as condições permitam, ao fim, um corte de 0,25% em agostoâ, previu.
Agosto ou setembro?
Daniel Cunha, estrategista-chefe da BGC Liquidez, foi outro analista a destacar a essência dura, simétrica e neutra em termos de âforward guidanceâ no comunicado do Copom. Porém ele afirma que alguma sutis mudanças abriram a porta pra o ciclo de cortes com -25 pontos-base em agosto ou setembro.
O primeiro desses sinais apontados foi a retirada do trecho onde falava em voltar a subir juros. O segundo foi a substituição da expressão âvigilanteâ por âcautela e parcimôniaâ. E o terceiro foi ajustar o tempo verbal associado à estratégia de manutenção da taxa básica de juros por perÃodo prolongado, de maneira a não se referir mais ao futuro.
âConsiderando todos esses pontos, o Banco Central parece estar olhando mais pra reunião de setembro, enquanto o mercado parece estar mais convicto com a próxima reunião, de agostoâ, alertou.
Andrea Damico, sócia e economista-chefe da Armor Capital, ainda vê uma porta âentreaberta, mas não escancaradaâ para cortes de juros no curto prazo, ainda que o comunicado de hoje tenha vindo num tom mais duro do que o esperado. âO BC priorizou o caráter âdata dependentâ e vai observar os próximo 45 diasâ, afirmou.
No entanto, ela observou que as previsões de um cenário de evolução benigna para a inflação, com queda adicional nas projeções do Boletim Focus, especialmente se o Conselho Monetário Nacional decidir pela manutenção da meta de inflação em 3% para 2024 na reunião da semana que vem, devem garantir uma queda de juros já em agosto.
Mirella Hirakawa, economista da AZ Quest, viu uma combinação na composição do comunicado do Copom abrindo âas primeiras frestasâ da porta para o inÃcio de cortes nos juros. âComo esperado, o BC se coloca âdata dependentâ e colocam uma lista de fatores que devem ser observados nesse perÃodo para que possam iniciar os cortes de jurosâ, analisou.
Na lista constam a evolução da dinâmica da inflação, das expectativas de inflação, das projeções de inflação, hiato do produto e balanço de riscos. âNesse perÃodo, as nossas expectativas são de uma contÃnua desinflação do core e uma reancoragem das expectativas, vinda principalmente da confirmação da meta de inflação em 3%, com a ampliação do horizonte de âprestação de contasââ, afirmou.
Pra a equipe econômica do C6 Bank, a comunicação do Banco Central e o cenário prospectivo para a inflação sugerem, por ora, manutenção da taxa Selic nos patamares atuais. âNa nossa visão, o BC quer ver melhoras adicionais nas expectativas de inflação e em seus próprios modelos de projeção de inflaçãoâ, comentou o banco em sua análise.
O banco também destaca a realização da reunião do CM na semana que vem para decidir a meta de inflação de 2026. âNessa ocasião, o conselho pode alterar também a meta de 2025 de maneira a suavizar a atuação da polÃtica monetária ou alongar o horizonte relevante de polÃtica monetária. Uma mudança nesse sentido poderia abrir espaço para uma queda da Selic já na reunião de agosto.â
Rafaela Vitória, economista-chefe do Banco Inter, também classificou o tom mais conservador da comunicação, apesar da evolução positiva no cenário de inflação e da expectativa de corte em agosto pelo mercado.
âO Copom não se comprometeu com o inÃcio do afrouxamento monetário na próxima reunião, mas deixou em aberto os próximos passos, a depender da evolução dos dados, com destaque para as medidas de inflação de núcleos e serviços (mais sensÃveis à polÃtica monetária), as expectativas mais longas de inflação, que ainda dependem da definição da meta, a atividade econômica e o balanço de riscosâ, comentou.
Como BC se colocou âdependente de dadosâ, Rafaela destacou que espera um evolução do cenário até agosto, o que permitirá a mudança de rumo na polÃtica monetária e o inÃcio dos cortes na Selic já na próxima reunião.
âApesar do comunicado não deixar claro a indicação de redução na taxa de juros na reunião em agosto, a evolução dos dados até lá deve permitir o inÃcio do afrouxamento monetário, que também deve ser mais conservador, com corte inicial de 25 bps.â